Aparelho vendido na internet envia sinais elétricos para ativar neurônios, mas pode causar ataques epiléticos e alterar humor.
25/08/2014 08h27
- Atualizado em
25/08/2014 08h27
A pesquisadora Hannah Maslen pediu 'calma e precaução' no uso de aparelhos que estimulam neurônios (Foto: BBC)
Se fosse possível, você gostaria de pensar mais rápido e ter mais
capacidade de atenção? Pois há equipamentos que dizem ser capazes de
fazer exatamente isso.
Estudos confirmam a eficácia de técnicas de estímulo cerebral, e aparelhos para isso podem ser comprados até pela internet.
No entanto, especialistas alertam para os perigos dos equipamentos, que ainda não são regulamentados por autoridades de saúde.
Os estímulos de corrente direta transcranial (TDCS) são pequenos
choques elétricos aplicados na cabeça, estimulando os neurônios do
cérebro.
A teoria por trás da técnica é que os sinais elétricos tornam os
neurônios mais reativos, e pesquisas preliminares indicam que os
estímulos elétricos podem aumentar a capacidade de atenção e ajudar
pessoas com problemas de cognição e depressão.
A técnica é não-invasiva, extremamente leve e usada até pelas Forças
Armadas dos Estados Unidos para melhorar o rendimento de seus pilotos de
aeronaves não-tripuladas.
Algumas pesquisas indicam até que a técnica pode ajudar na resolução de
problemas de matemática, um benefício que foi verificado seis meses
depois da aplicação.
Matemática
Um dos pioneiros do uso de TDCS é Roy Cohen Kadosh, da Universidade de Oxford.
Um dos pioneiros do uso de TDCS é Roy Cohen Kadosh, da Universidade de Oxford.
"Estudos demonstraram que, ao emitir sinais elétricos às partes certas
do cérebro, podemos mudar o número de neurônios que transmitem
informações no nosso cérebro, e assim aumentar a capacidade cognitiva em
diferentes funções psicológicas", afirmou Kadosh à BBC.
No entanto, ele alerta que o uso indiscriminado da técnica poderia provocar danos.
Pesquisadores usam eletrodos para emitir choques às regiões do cérebro que querem 'ativar' (Foto: BBC)
"É possível usar estímulos que não são benéficos para a pessoa. É
preciso saber por quanto tempo e em que hora e com que intensidade
estimular o cérebro", disse Kadosh.
Apesar dos riscos, já é possível encontrar aparelhos destinados ao
público majoritariamente adolescente de "gamers", os jogadores de
videogames. Um dos equipamentos pode ser comprado pela internet por 179
libras (cerca de R$ 675).
A publicidade promete ganhos de aprendizagem e rendimento, entre outros
benefícios. "É possível aprender de 20% a 40% mais rapidamente, reduzir
a dor, se sentir melhor, aumentar a sua energia ou reduzir o estresse
com TDCS? Estudos dizem que SIM!" - diz um anúncio.
O prometido entusiasmo incondicional à nova técnica levou neurocientistas a expressar sua preocupação com a técnica.
Hannah Maslen, pesquisadora de pós-doutorado na área de Ciência e Mente
na Universidade de Oxford, recentemente pediu "calma" no uso dos
aparelhos. A equipe coordenada por Maslen diz que, entre os possíveis
problemas, estão ataques epiléticos e mudanças bruscas de humor.
De acordo com Nick Davis, da Universidade de Swansea, no País de Gales,
o cérebro continua a se desenvolver até cerca de 20 anos de idade, e
portanto intervenções nesta idade poderiam ter um impacto maior.
Ainda mais preocupante, para Davis, seria a possibilidade de
adolescentes desenvolverem os seus próprios aparelhos de estímulo
cerebral, já que a tecnologia estaria ao alcance de "adolescentes
sagazes".
"Essas pessoas provavelmente vão usar a técnica em uma dosagem mais
alta do que um cientista ou médico recomendaria e têm menos noção dos
riscos", afirmou o pesquisador.
Riscos
Como os fabricantes do equipamento não classificam o aparelho de estímulo cerebral como tratamento médico, ficam isentos de se submeter a regulamentações por parte das autoridades.
Como os fabricantes do equipamento não classificam o aparelho de estímulo cerebral como tratamento médico, ficam isentos de se submeter a regulamentações por parte das autoridades.
O tipo de aplicação alardeado pelas empresas está distante da área de foco das pesquisas científicas, diz Hannah Maslen.
"Se eles fazem alegações sobre uso para games, estão muito longe do
tipo de uso estudado para auxiliar pacientes que tiveram derrames ou
sofrem de depressão", afirmou.
Ela afirma que o direcionamento para este mercado pode ser interpretado
como uma forma de evitar que os equipamentos sejam considerados de uso
médico, o que requereria regulamentação rigorosa.
A cientista diz que não defende a proibição do uso dos equipamentos,
mas gostaria que os consumidores tivessem informações suficientes para
avaliar os riscos do uso.
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