Oficiais acreditam que piloto desistiu do pouso e arremeteu porque chuva e névoa o impediram de localizar o eixo da pista
Estadão Conteúdo
A
investigação sobre o acidente que matou o candidato do PSB à
Presidência da República, Eduardo Campos, e outras seis pessoas correrá
sob sigilo até mesmo do Ministério Público ou da Polícia Federal.
Decreto assinado pela presidente Dilma Rousseff em maio deste ano
determinou o sigilo das investigações de acidentes aéreos feitas pela
Aeronáutica.
Caso a Justiça e a polícia queiram identificar
responsabilidades em acidente específico, que estava sob investigação do
Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa),
um outro inquérito terá de ser aberto. A lei permite, no entanto, que
polícia e Justiça usem como provas em inquéritos os dados das
caixas-pretas, assim como as transcrições das conversas da cabine.
A
lei foi proposta pela Aeronáutica, em 2007, após a crise aérea,
desencadeada com os acidentes da Gol, em 2006, que deixou 154 mortos, e
da TAM, em junho de 2007, que matou 199. O diretor do Cenipa, brigadeiro
Dilton José Schuck, explicou que a nova lei segue o que preconiza a
Organização Internacional da Aviação Civil (OACI), órgão ao qual o
Brasil é signatário, "para preservar as fontes voluntárias que prestam
esclarecimentos e alimentam de informações que venham a auxiliar na
identificação dos fatores que levaram à ocorrência do acidente, para que
eles não se repitam". O brigadeiro lembrou ainda que a apuração do
Cenipa não segue o ritmo de um processo judicial.
O acidente
A
tela do computador da sala de operações da Base Aérea de Santos
indicava que o dia seria “chuvoso e nublado”, com a temperatura
oscilando entre 13 e 20 graus. Na segunda resolução, a informação
adicional – nevoeiro súbito, vento forte. Nada, porém, capaz de impedir
as operações de pouso e decolagem. Passava pouco das 9 horas.
O
experiente piloto Geraldo Cunha, ex-comandante comercial da TAM, tinha
sob comando um notável jato executivo de até 12 lugares – o modelo usado
por Eduardo Campos era configurado para nove passageiros, com mais um
assento dobrável, adicional –, o Cessna 560 XL, Citation. No mundo há
cerca de 580 unidades desse bimotor de médio porte.
Robusto, com
poderosos motores Pratt & Whitney 500 e recursos eletrônicos de
última geração, ele podia cobrir 3.900 quilômetros sem escalas na
velocidade de cruzeiro de 850 km/h. A Força Aérea Brasileira emprega
versões eletrônicas do Citation para calibragem de seus sistemas de
orientação do tráfego.
Segundo dois oficiais da aviação militar
ouvidos pelo Estado, o comandante Cunha tomou a decisão de abortar o
pouso e de arremeter, provavelmente ao não localizar visualmente o eixo
da pista de 1.400 metros, talvez em meio à chuva fina e à névoa
rasteira. O que houve depois, acreditam os militares, será conhecido só
por meio da investigação e da perícia.
A hipótese de que tenha
havido esforço excessivo das turbinas, exigidas ao máximo durante a
arremetida, era considerada pouco provável entre prestadores de serviços
de manutenção de aeronaves da mesma classe do Citation. O fenômeno,
raro, ocorre quando o motor supera seu limite e perde potência, em vez
de ganhar força de empuxo.
Ontem mesmo o Cenipa começou a trabalhar no caso.
O
PR-AFA tinha caixas-pretas. O dispositivo acumula dados em uma espécie
de disco rígido. O sistema terá armazenado a conversa entre os pilotos e
os contatos com os controladores. Informações a respeito dos freios,
asas, fuselagem, dos motores e dos movimentos realizados são reunidos do
Módulo de Captação. A unidade resiste a impactos de 15 toneladas.
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