Clima tenso domina confronto entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), o primeiro neste segundo turno das Ele
ALBERTO BOMBIG
15/10/2014 00h37
- Atualizado em
15/10/2014 01h12
O
primeiro debate do segundo turno da eleição presidencial de 2014
repetiu o clima agressivo da campanha deste ano. Mesmo quando tentaram
abordar temas como educação e saúde, Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff
(PT) derivaram para ataques pessoais, com acusações mútuas de mentirem
para o eleitor. No momento mais tenso do confronto, levado ao ar pela TV
Band na noite desta terça-feira (14), o senador Aécio (MG) afirmou que
Dilma era "leviana". "Leviano foi o senhor", respondeu a presidente,
candidata à reeleição. O escândalo de corrupção na Petrobras, o Bolsa Família e os rumos da economia dominaram a pauta.
A estratégia de Dilma foi utilizar os governos do PSDB em Minas Gerais,
a derrota eleitoral do candidato de Aécio (Pimenta da Veiga) neste ano
no Estado e o fato de o senador ter ficado atrás dela no primeiro turno
em Minas, para tentar descredenciar as críticas da oposição. Ela também
insistiu na comparação das gestões do PT (2003-2014) com as do PSDB
(1995-2002) no Planalto. Aécio, por sua vez, foi enfático na defesa do
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e buscou carimbar a
oponente como despreparada para fazer mudanças e conivente com a
corrupção. Ele chegou a dizer que há um "mar de lama" no governo
federal, evocando expressão que se tornou célebre durante a crise
política que culminou com o suicídio de Getúlio Vargas em 1954.
Ao longo de quase duas horas de debate, foram 48 confrontos diretos
entre os candidatos, porém sem a participação de jornalistas. No
primeiro bloco, os debatedores enfatizaram as diferenças entre seus
programas e trocaram acusações de estarem "faltando com a verdade".
"Nesta eleição, eu acredito que dois projetos de nação estarão se
apresentando", afirmou Dilma. "Venho a este debate representar um
sentimento crescente na sociedade brasileira, que quer um governo que
olhe para o futuro, que não caia na armadilha do nós contra eles", disse
Aécio. Em seguida, eles discutiram a área da saúde, com a presidente
criticando o governo de Minas Gerais, que teve Aécio à frente entre 2003
e 2010. O tucano rebateu e acusou de Dilma ter reduzido os
investimentos federais no setor. Aécio também acusou Dilma de ter feito
uma campanha "cruel" e mentirosa no primeiro turno. "Eu acho que quem
faz ataques cruéis é o senhor", respondeu Dilma.
O
tema economia abriu o segundo bloco, e as diferenças entre projetos e
programas ficaram mais nítidas. O nome do ex-presidente do Banco Central
Armínio Fraga, indicado por Aécio como seu "futuro ministro da
Fazenda", centralizou a discussão. Aécio afirmou que a inflação está
fora de controle e que o país perdeu as condições de continuar no rumo
do crescimento. A presidente disse que os governos tucanos promoveram
arrocho salarial, cortes e desemprego. "Como o senhor quer que eu
acredite que, com a mesma receita, e com o mesmo cozinheiro, vocês vão
entregar o país diferente?", questionou ela, numa referência a Armínio
Fraga.
O atual escândalo da Petrobras, que tem o ex-diretor Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef
como pivôs, entrou na pauta em seguida, e o clima esquentou. "Vi apenas
um momento de indignação da senhora, quando vazaram os depoimentos, mas
não vi uma indignação quanto ao conteúdo", afirmou Aécio sobre a
demissão de Costa da Petrobras e sobre a reação da presidente diante do
depoimento prestado por ele à Justiça na semana passada, no qual o ex-diretor acusou o PT
de ter se beneficiado do esquema de desvios de recursos na estatal.
Dilma rebateu: " "A minha indignação em relação a tudo que acontece,
inclusive no caso da Petrobras, é a mesma de todos os brasileiros. A
minha determinação em punir todos os culpados é prioridade". Em seguida,
ela acusou as gestões tucanas, que, segundo ela, não combateram a
corrupção. Para arrematar, Dilma utilizou a construção de um aeroporto,
pelo governo de Minas, na cidade de Cláudio, e afirmou que não achava a
obra "nem moral nem ética". A pista de pouso e decolagem foi feita em
terras que pertenceram à família de Aécio Neves. O candidato do PSDB
disse que a adversária estava sendo "leviana". "É mentira atrás de
mentira, eleve o nível deste debate. Eu não respondo a nenhum processo,
candidata. Diferentemente do governo da senhora, que é um mar de lama",
afirmou Aécio. O bloco terminou com aplausos e vaias na plateia.
Nos blocos seguintes, o clima continuou tenso, com os candidatos
debatendo sobre segurança e educação. Dilma apontou números
desfavoráveis do combate à violência em Minas Gerais durante a gestão de
Aécio e do sucessor dele, Antônio Anastasia (PSDB). "A senhora está
muito enganada. No meu governo, os crimes em Belo Horizonte diminuíram
em 37%. Minas foi o Estado que mais investiu em segurança. Mas a coisa
vai bem? Não vai. Não vai no Brasil inteiro. O governo federal o que
faz? Terceiriza a responsabilidade", respondeu Aécio.
No quesito programas sociais, os candidatos reclamaram para seus
partidos a criação do Bolsa Família. Aécio afirmou que a ação de
transferência direta de renda ao cidadão, implementada pelo
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é uma evolução de medidas
adotadas por FHC. "O senhor está fabulando, o senhor está inventando uma
história que não existe. O Bolsa Família não tem parentesco nenhum com
os programas sociais tucanos", respondeu Dilma.
Em meio a tantas trocas de acusações e tentativas de depreciação do
adversário, faltaram esclarecimentos ao eleitor sobre propostas
concretas para o Brasil. Na semana que vem, Aécio e Dilma participarão
do debate da TV Globo, o último antes da votação.
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