Conheça a Defense Distributed, organização que já causou alvoroço
disponibilizando instruções para a confecção da primeira pistola
produzida por uma impressora 3D.
3 de outubro de 2014
A
M16 é a arma de desejo de todo aficionado pelos filmes sobre a Guerra
do Vietnã e agora qualquer um – qualquer um mesmo, não interessando
antecedentes criminais ou possibilidade legal de obter o registro e o
porte – poderá ter a versão “civil” do rifle, conhecida como AR-15. Pelo
menos esse é o objetivo da Defense Distributed,
organização que já causou alvoroço no mundo inteiro disponibilizando
instruções para a confecção da primeira pistola que pode ser
inteiramente produzida por uma impressora 3D. O grupo agora investe
novamente contra as regulações estatais sobre o mercado de armas –
porém, desta vez, não se limitou a simplesmente em divulgar as
instruções para a confecção do armamento, mas anunciou que está
produzindo e aceitando pedidos para a máquina capaz de permitir que
qualquer um construa em casa o icônico fuzil.
A
“impressora” do AR-15, no entanto, não é exatamente como os modelos mais
comuns que geram itens a partir de camadas de plástico. Trata-se, na
realidade, de uma espécie de fresadora caseira controlada por um sistema
de comando numérico computadorizado, ou seja, um aparelho capaz de
realizar cortes precisos em metal de acordo com os comandos de um software.
O produto, que custa cerca de US$1300,00, efetivamente só confecciona
uma única parte da arma, o chassi, ou seja, o “corpo” do rifle. No
entanto, essa é a parte mais importante do projeto, já que é nessa peça
em que se encontram todas as partes móveis necessárias para o
funcionamento do equipamento. Por isso mesmo, essa é a parte mais
difícil de ser obtida sem interferência do Estado. Nos EUA, os outros
itens como o cano, o carregador e o cabo podem ser facilmente comprados
na internet.
A ideia da
produção caseira de armas para escapar do rastreamento estatal não é
exatamente nova, já que, embora a venda desse tipo de armamento sem
licença seja ilegal, a manufatura não licenciada para uso próprio não é.
Evidentemente, o governo tomou providências para que as pessoas não
pudessem escapar dos métodos de controle das agências governamentais,
como as limitações na compra de determinadas peças. No entanto, os
armeiros amadores recorrem a uma brecha legal, segundo a qual é
permitida a venda de qualquer item que tenha no máximo 80% das
características de uma arma regulamentada no país. Deste modo, vendem-se
peças semi-prontas no limiar de 80% de semelhança com os itens
originais e os consumidores terminam de moldá-las para o uso. É
justamente uma dessas peças pré-fabricadas que a impressora da Defense
Distributed promete levar a completa funcionalidade e não um bloco
simples de metal. A grande revolução está no fato de que anteriormente,
para terminar a conversão, era necessário o acesso a um maquinário
metalúrgico quase profissional, com custo de dezenas de milhares de
dólares, e agora é possível realizar o mesmo processo por uma fração do
custo em um período de uma hora.
É desnecessário mencionar que o anúncio
da produção e venda da máquina de fazer fuzis caiu como uma bomba para
os grupos que advogam em favor de um maior controle das armas nos EUA.
Um representante do grupo, o senador estadual da Califórnia Kevin de
Léon, disse que armas produzidas artesanalmente são impossíveis de serem
rastreadas e só são descobertas quando utilizadas. Por isso, ele chamou
essas armas de “Ghost guns” (armas fantasmas). O senador
conseguiu aprovar no legislativo do estado uma legislação que tornaria
ilegal a conversão de peças sem número de série acima do limiar de 80%
de semelhança com uma arma real e a divulgação de instruções para a
produção de armas em impressoras 3D. A lei, todavia, foi vetada pelo
governador da Califórnia, que argumentou que não conseguia entender como
proibir armas sem números de série melhorariam a segurança da
população. Cody Wilson, fundador da Defense Distributed, não fugiu da
luta e preferiu partir para a ofensiva, registrando o nome “Ghost gun”
e usando-o para nomear sua impressora. Além disso, no vídeo de
propaganda do produto (acima), a empresa usa discursos do senador de
Léon como fundo. Nas palavras de Wilson, trata-se de “humilhar o poder
que tenta humilhar você”, isto é, de afrontar o establishment.
No Brasil, para a infelicidade dos entusiastas de armas, as brechas legais que permitiram que Cody Wilson lançasse a polêmica “Ghost gun”
não existem. Em razão da lei 10.826/2003 não se permitiria a posse de
uma arma como um AR-15, mesmo que fosse construída pelo próprio usuário.
Diz a lei, nessa quadra, que é crime não só o porte ilegal da arma de
fogo ou munição em si, mas também de qualquer acessório de arma – arts.
12, 14 e 16, da aludida Lei nº 10.826/2003 –, o que inviabilizaria, por
exemplo, a posse ou porte de carregador para o fuzil AR-15,
indispensável para seu funcionamento. Além disso, a venda da impressora
das “Ghost guns” seria provavelmente barrada pela polícia
federal e pelo exército, responsáveis pela fiscalização das questões
ligadas a armas no Brasil, o que, para além disso, encontraria óbice no
art. 17, do Estatuto do Desarmamento – lei já citada. Logo, e ainda que à vol d’oiseau,
pode-se imaginar que a utilização da impressora 3D, no Brasil, é
impossível de ser cogitada – aqui, ao contrário do que ocorre na América
do Norte, o controle estatal sobre a produção, comércio e posse ou
porte de armas é severamente regulamentado, e obedece a diretriz do
desarmamento quase que absoluto.
FONTE: http://spotniks.com/faca-voce-mesmo-incrivel-historia-ar-15-caseiro/
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