segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Modelo brasileiro de segurança pública está esgotado, afirma Haddad

FERNANDA MENA

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O atual modelo brasileiro de segurança pública está esgotado e é oportuno um debate sobre a municipalização e desmilitarização da polícia. A avaliação é do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, durante entrevista nesta segunda-feira (15) no programa "Gabinete Aberto", criado em sua gestão e transmitido ao vivo desde o Centro Cultural São Paulo.

Segundo o prefeito, é preciso repensar a questão da segurança pública, que tradicionalmente é tratada como um assunto do Estado e fica a cargo de uma polícia militar. "Acho que esses dois pilares estão atrelados a uma visão de Estado repressiva e política." Para ele, o Brasil criou um modelo que pensa a segurança pública a partir da segurança política.
"A polícia foi pensada como agentes de repressão aos descontentes. Então, a repressão sempre teve uma natureza política. Não vejo mais condições de o Brasil manter o tema da segurança no lugar em que ele se encontra. Esse lugar está errado e não responde mais aos desafios que estão colocados para os gestores".
"Se eu vou na periferia de São Paulo e pergunto: 'Quem aqui acha que a responsabilidade pela segurança pública é minha?'. Todo mundo levanta a mão!", disse. "Já que é assim, me deixem participar. Eu poderia dizer que não é responsabilidade minha e deixar que outros cuidem disso. Mas eu gostaria que nós tivéssemos uma governança na metrópole que envolvesse a segurança pública. Ou os prefeitos ajudam a planejar a segurança da metrópole ou nós vamos continuar nesse campo de guerra."
Ao comentar a recomendação do relatório da Comissão Nacional da Verdade, Haddad disse ser a favor de um amplo debate sobre a desmilitarização da polícia. "Acho que até os policiais militares entendem que o debate é oportuno."
Para ele, o futuro passa necessariamente pela questão da municipalização ou federalização da segurança pública e pelo debate da desmilitarização da polícia.
Haddad foi entrevistado pela Folha e pelos jornalistas Eugenio Bucci e Bob Fernandes. O programa "Gabinete Aberto" entrevista gestores públicos e secretários municipais ao vivo e com a participação do público.
Durante uma de suas respostas, o prefeito foi interrompido por um grito da plateia: "Eu colocaria vocês todos em um saco de lixo!". Com um sorriso, o prefeito prosseguiu: "Falando de uma cidade difícil... Estamos aqui para que essas figuras também possam se expressar sem censura".

Haddad disse que há um ambiente desfavorável em São Paulo, motivado pelas denúncias contra a Petrobras da Operação Lava Jato, que estaria prejudicando a avaliação de todas as administrações petistas. "A crise que se abate ao PT faz parte desse ambiente político desfavorável. Não adianta eu dizer que isso não faz parte da minha rotina porque faz. As pessoas confundem as coisas. É difícil para as pessoas discernirem." Haddad defendeu as medidas de combate à corrupção de sua gestão e disse que a questão ética é pessoal. 

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