segunda-feira, 18 de maio de 2015

Dilma e a insistência no que deu errado


Ricardo Galuppo
Ricardo Galuppo
rgaluppo@hojeemdia.com.br


17/05/2015

Pelo que tem dito em seus discursos e pelas medidas adotadas até agora, a presidente Dilma Rousseff caminha para um segundo mandato com defeitos semelhantes aos do primeiro. E uma mudança importante, mas não necessariamente virtuosa, na gestão das finanças públicas. Para compensar a gastança desenfreada dos quatro anos iniciais, o governo promete uma reforma fiscal que, à primeira vista, é necessária e até desejável. O problema é que, pelo andar da caravana, todo esforço fiscal prometido se limitará ao arrocho que tirará do bolso do cidadão e do caixa das empresas o dinheiro que quitará a conta da irresponsabilidade do governo. 
 
No mais, Dilma age como se seu governo nunca tivesse errado e insiste em culpar uma inexistente crise internacional pelos males do país. Mas os erros existem e não é possível escondê-los. Um deles é a falta de uma política industrial que, no atual mandato, se mostra tão à deriva quanto esteve no anterior. Prova disso foi o discurso feito pela presidente na quinta-feira passada na cidade de Ipojuca, no litoral pernambucano, onde esteve para batizar o navio Marcílio Dias. 
 
“PROFUNDIDADE ELEVADA”
 
Depois de elogiar a Petrobras que segundo ela, foi premiada com um “Oscar” por “ter sido capaz de extrair petróleo de uma profundidade extremamente elevada” (isso mesmo: a presidente acaba de inventar a “profundidade elevada”, seja lá o que isso significa), Dilma prometeu que a estatal seguirá a mesma política de suprimento dos últimos anos. Ou seja: o privilégio aos fornecedores nacionais que está na origem dos desvios detectados pela “Operação Lava Jato” serão preservadas. 
 
O problema dessa política não se limita à abertura da porta pela corrupção (que havendo interesse, pode até ser evitada). A questão é que, querendo ou não, a insistência na adoção de fornecedores exclusivamente nacionais (sem o apoio de parceiros globais capazes de fornecer tecnologia, reduzir custos e evitar erros) compromete a eficiência e aumenta custos que, mais tarde, serão repassados à sociedade. 
 
JOÃO CÂNDIDO
 
O estaleiro que produziu o Marcílio Dias foi o mesmo Atlântico Sul que, no governo Luiz Inácio Lula da Silva, construiu o petroleiro João Cândido. O barco teve que ser recolhido à doca seca para reformas horas depois de ser lançado ao mar. Dos 24 mil quilômetros de soldas existentes no casco e em outras partes sensíveis da embarcação, 18 mil tiveram que ser refeitos diante dos defeitos infantis encontrados no trabalho original. Hoje, o João Cândido, feito para ser utilizado nas rotas internacionais de petróleo, até consegue flutuar. 
 
Só que, por falta de condições de navegabilidade, fica restrito a recolher o petróleo extraído nas plataformas continentais e levá-lo para os reservatórios na costa. Muito pouco para um barco que consumiu mais de R$ 300 milhões, o dobro do preço internacional de uma embarcação equivalente. Essa é, pelo visto, a política industrial que Dilma quer manter. E que já mostrou não levar a lugar algum.

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