A vez delas
Pílula que promete resgatar desejo sexual das mulheres age no sistema nervoso central
Entre os efeitos colaterais estão náuseas, tontura e até desmaio
PUBLICADO EM 20/08/15 - 03h00
Dezessete anos após o surgimento do remédio que revolucionou a vida
sexual dos homens com problemas de ereção, a Food and Drug
Administration (FDA), órgão responsável pela regulamentação de
medicamentos e alimentos nos Estados Unidos), aprovou na noite de
terça-feira a venda do primeiro medicamento para aumentar o desejo
sexual das mulheres.
Diferentemente do comprimido azul, que age
na disfunção erétil, a pílula rosa busca elevar a libido da mulher
atuando na bioquímica cerebral por meio do uso contínuo. A substância
flibanserina, apelidada de “viagra feminino” chega às farmácias dos
Estados Unidos em outubro com o nome comercial de Addyi.
Especialistas alertam que o medicamento é
indicado apenas para mulheres na fase da pré-menopausa que tenham
disfunção sexual adquirida e crônica.
A liberação do Addyi ocorre após a
substância ter a sua comercialização negada duas vezes pela FDA. Para
liberar a vcomercialização, a agência americana cobrou do laboratório
mecanismos para a diminuição dos efeitos adversos da droga, que incluem
náusea, sonolência, pressão baixa e até desmaios.
O sexólogo Gerson Lopes, membro da
Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig),
participou do projeto de divulgação da droga no Brasil há alguns anos,
quando os estudos estavam a cargo do laboratório alemão Boehringer
Ingelheim. “Originalmente, o medicamento era usado como antidepressivo”,
afirma.
Lopes explica que em 2011 os direitos foram
adquiridos pela norte-americana Sprout Pharmaceuticals. De acordo com o
laboratório, 11 mil mulheres participaram do estudo, que demonstrou
melhora na libido e aumentou o número de eventos sexuais satisfatórios.
“Pode ser que seja apenas um auê grande, mas
acredito que representa um avanço para a medicina, especialmente no
sentido de abordar a sexualidade feminina pelo lado do prazer”, afirma o
sexólogo.
Ele sexólogo acredita que a aprovação pela
FDA facilitará a chegada da flibanserina ao Brasil. “Provavelmente algum
laboratório brasileiro deve buscar parceria. As medicações aprovadas
pelo FDA têm mais facilidade de serem aprovadas pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa)”.
Contraindicações. A
FDA alerta, no entanto, para os possíveis efeitos colaterais da
flibanserina, principalmente se o seu uso for associado ao álcool.
Nesses casos, a paciente pode apresentar severa queda de pressão e perda
de consciência. “Os pacientes e os médicos que o prescreverem devem
entender totalmente os riscos associados no uso do Addyi antes de
considerar o tratamento”, disse a diretora do Centro para Avaliação e
Pesquisas da FDA, Janet Woodcock.
“Como é uma medicação que age no sistema
nervoso central, não pode ser usada de qualquer forma. Tem que ter
critério e receita médica”, alerta Lopes.
Ecstasy.
Para outro especialista, que não quis se identificar, a pílula
representa um sério risco. Ele chegou a comparar seus efeitos ao da
droga sintética ecstasy, que virou febre por aumentar o bem-estar e a
euforia. Segundo ele, a pessoa fica falante, dando a impressão de ser
muito sociável. A sensualidade também fica alterada. Para a maioria,
aumenta o desejo sexual (para alguns diminui). Mas depois que o efeito
passa, o nível de serotonina cai e aí vem a depressão.
Metade delas têm dificuldades
Um estudo publicado recentemente pelo Projeto Sexualidade, da Universidade de São Paulo (USP), mostrou que metade das brasileiras tem alguma dificuldade sexual persistente. O problema mais comum é a falta de desejo ou excitação, que atinge entre um terço e um quarto das entrevistadas. Em seguida, aparecem a dificuldade de atingir o orgasmo (26,2%) e a dor durante a relação sexual (17,8%).
Metade delas têm dificuldades
Um estudo publicado recentemente pelo Projeto Sexualidade, da Universidade de São Paulo (USP), mostrou que metade das brasileiras tem alguma dificuldade sexual persistente. O problema mais comum é a falta de desejo ou excitação, que atinge entre um terço e um quarto das entrevistadas. Em seguida, aparecem a dificuldade de atingir o orgasmo (26,2%) e a dor durante a relação sexual (17,8%).
O Food and Drugs Administration (FDA) aprovou o Addyi especificamente
para uma condição conhecida como “distúrbio de desejo sexual hipoativo
generalizado adquirido (HSDD na sigla em inglês)”, que provoca a perda
súbita e severa da libido, destacou a FDA em um comunicado.
O distúrbio pode se desenvolver em mulheres sexualmente ativas anteriormente, provocando angústia e problemas de relacionamento, “e não se deve a uma condição médica ou psiquiátrica coexistente, a problemas no relacionamento ou a efeitos de uma medicação ou substância”.
Rebecca Zucconi, professora assistente de ciências médicas da Escola de Medicina Frank H. Netter, da Universidade de Quinnipiac, disse que o distúrbio de desejo sexual hipoativo generalizado adquirido (ou HSDD) é a disfunção sexual mais comumente diagnosticada em mulheres.
“Até agora, os médicos se limitavam a recomendar educação,
aconselhamento, psicoterapia e, em alguns casos, o uso de testosterona e
terapia de estrogênio como opções de tratamento para mulheres com
HSDD”, disse Zucconi.
“A decisão de hoje (anteontem) dá às mulheres preocupadas com seu baixo
desejo sexual uma opção de tratamento aprovado”, disse Janet Woodcock,
diretora de pesquisas da FDA.
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