15/10/2015 06:56 - Atualizado em 15/10/2015 06:56
LEONARDO MORAIS
SEM ACESSO - Com as balsas paradas, moradores têm dificuldade para chegar a várias partes da cidade
Elas encurtam o caminho de trabalhadores e estudantes, que pagam R$ 1,75 por viagem. “O rio não é mais navegável. Só tem pedras”, lamenta o balseiro Antônio Duarte Araújo, de 55 anos, conhecido como Baral. Ele só conseguiu manter a atividade porque ampliou de dois para 30 metros de comprimento a passarela de madeira que dá acesso à balsa.
O pontilhão improvisado chega quase ao meio do rio. “O restante do trajeto é pedreira”, ressalta Baral, conduzindo a embarcação com a força dos braços. Numa cidade com altas temperaturas quase o ano inteiro, como Valadares, o trabalho é sacrificante.
O serviço, que encurta o caminho entre a Ilha dos Araújos a vários pontos da cidade, é encerrado às 22h. Sozinho, Baral transporta cerca de cem passageiros por dia. A demanda do balseiro aumentou mais de 75% por causa das duas balsas que estão paradas. “Tem que chover logo, senão eu também terei que parar”, lamenta. Ele afirma que em 15 anos na atividade nunca viu o rio tão seco.
Os passageiros também estão preocupados. “Sem essa, teríamos que dar uma volta enorme e enfrentar todo o trânsito da cidade para chegar deste lado”, diz a pedagoga Dalva Teles, de 31 anos.
A musicoterapeuta Nancy Montenegro, de 42, ressalta que as balsas também são atrações turísticas e opções de lazer em Valadares. “As pessoas gostam desse passeio”, disse.
Triste cenário
O rio Doce tem vazões máximas em janeiro e fevereiro e mínimas em setembro, no fim do inverno. Mas, segundo Valdir Ferreira, de 52 anos, há 30 trabalhando na extração de areia, o curso d’água nunca esteve tão seco nesta época do ano. O carroceiro Rodrigues da Silva, de 58, confirma. “Tirei o sustento da minha família neste rio e hoje ele não dá peixe, areia e nem tem água. Triste demais”.
Segundo o ambientalista Henrique Lobo, o nível do rio Doce está muito baixo na região de Ipaba, situação que é considera assustadora. “A vazão é menor que 100 metros cúbicos por segundo, e neste período de final da seca sempre teve foi de 300. A compactação dos solos nos últimos 50 anos empobreceram as nascentes”, explica.
De acordo com Lobo, no Leste de Minas (Bacia do Rio Doce) não há captação profunda. A formação geológica não permite encontrar água a 100 ou 200 metros de profundidade como em outras regiões. A profundidade média atual do rio Doce é 50 centímetros nesta região.
“Esperamos que a chuva prevista para o período do final de outubro a março aumente o volume do rio Doce. Porém, não será uma chuva forte”, avisa. O especialista arrisca outra previsão, que ele chama de “conta de padeiro”. “A próxima enchente do rio Doce ocorrerá entre 2031 e 2032, porque a ocorrência é a cada 18 anos”.
Além disso, os rios Itambacuri e Traíra estão secos na região de Valadares. “O Traíra nunca havia secado antes”, alerta.
Igam baixa portaria restringindo captação para consumo no Suaçuí Grande e Pará
O Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) publicou as portarias 29 e 30, de 9 de outubro, que declaram situação de escassez hídrica nas imediações das estações Vila Matias, no rio Suaçuí Grande, e Carmo do Cajuru, no rio Pará. O primeiro banha municípios do Leste de Minas, Vale do Jequitinhonha, e o outro o Centro-Oeste do Estado.
Foi avaliado que a média das vazões diárias de sete dias consecutivos, observadas nas estações, são inferiores a 50% e 70%, respectivamente. A declaração de situação crítica de escassez previne ou minimiza os efeitos da seca e a degradação ambiental.
Deverá haver redução de volume de água captado: 20% para o consumo humano, dessedentação animal ou abastecimento público; 25% para irrigação; 30% para o consumo industrial, agroindustrial e mineração; e 50% para as demais finalidades. A restrição vai vigorar, inicialmente, por 30 dias a partir da data de publicação das portarias.
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