Também eu farei agora como os companheiros: quero mais gastos sociais, nego a crise e grito “Fora, Levy!”
Dados
todos os defeitos de caráter, o que disputa o topo da minha irritação é a
hipocrisia. Por que digo isso? O deputado Ricardo Barros (PP-PR),
relator do Orçamento de 2016, afirmou que se negava a produzir uma peça
que resultasse em déficit e que proporia, sim, cortes drásticos de
gastos. E tocou na vaca sagrada do petismo, o que restou ao partido de
tanta conversa mole: o Bolsa Família! Barros diz que proporá um corte de
R$ 10 bilhões de uma previsão de R$ 28,8 bilhões para a área. Bem, foi
um deus-nos-acuda, claro! E os oportunistas, a começar da presidente
Dilma, saíram por aí deitando falação.
A assessoria
de Dilma, que faz seu Twitter, escreveu que o Bolsa Família “é
prioridade máxima do seu governo, como foi para Lula”; que “cortar verba
do programa é atentar contra 50 milhões de brasileiros”, que “não
podemos permitir que isso aconteça”. Certo! Então tá.
Humberto
Costa (PE), líder do PT no Senado, foi mais duro. Chamou Barros de
“Robin Hood às avessas” — logo, entende-se que o relator quer roubar dos
pobres para dar aos ricos. Disse ser a sugestão “piada de mau gosto,
absurda, descabida”. E sugeriu que o deputado proponha, então, o corte
de todas as emendas parlamentares. O senador pregou ainda o imposto
sobre grandes fortunas.
Pois é… Ah,
se me coubesse decidir… É claro que eu deixaria a peça orçamentária nas
mãos de um petista. Eles que embalassem Mateus, não é?, já que o
pariram. Hoje nem é possível, mas digamos que fosse: que a companheirada
cortasse, então, as verbas de emendas; que a companheira propusesse o
imposto sobre grandes fortunas; que metesse lá na previsão da receita a
CPMF, ora… E veríamos quanto sobraria de apoio parlamentar a Dilma.
Então a
brincadeira não consiste nisto, num campeonato de generosidades? Barros
acabou, no fim das contas, dando palanque à presidente e ao petismo, que
não têm a mais remota de ideia de onde sairá o dinheiro, mas se opõem a
qualquer tentativa de fazer os gastos caberem no Orçamento.
Até Renan
Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, que anda com um discurso
crescentemente “social”, saiu vituperando contra o corte. Então,
deputado Barros, deixe isso pra lá. Não mexa no Bolsa Família. Mas não
conte com a CPMF, que isso é ovo em barriga de galinha arisca. Não vai
sair. Também não há a graninha do imposto que Costa quer, o tal sobre
grandes fortunas.
Quer saber,
deputado? Bata um papo com a presidente Dilma e veja que ideia genial
ela sugere. Quem tem tanta certeza sobre o que não fazer certamente tem
algumas dicas sobre o que fazer, não é mesmo?
Não custará
lembrar à preclara que teremos recessão também em 2016 e que a
arrecadação continuará sofrível. Como o Congresso não está disposto a
partir para o suicídio e aprovar um novo imposto, contemos com os
valentes para tirar o coelho da cartola.
Ah, qual é?
Os políticos, com algum frequência, são acusados de populismo e
irresponsabilidade. Quando alguém se atreve a ter um discurso
minimamente racional, é acusado de querer roubar dos pobres para dar aos
ricos.
Gente como
Dilma, Humberto Costa e Renan Calheiros produziu a maravilha que aí
está. Eles certamente têm ideias muito precisas sobre o que tem de ser
feito.
Estou até
pensando em fazer como os petistas. Vou começar a negar a crise, cobrar
aumento de gastos sociais e gritar “Fora, Levy”. Ser irresponsável é bem
mais gostoso! De resto, fazia tempo que o petismo aparecia no
noticiário só roubando o povo. Surgiu uma chance de posar de defensor
dos pobres. Asco!
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