sábado, 14 de novembro de 2015

Antidepressivos derrubam o desejo sexual das mulheres

CÍRCULO VICIOSO

Piora da vida sexual tende a provocar o abandono do tratamento, o que complica o quadro

AS-
Dar preferência a medicamentos com menos impacto seria alternativa
PUBLICADO EM 07/11/15 - 04h00
Florianópolis. Os efeitos dos antidepressivos na libido da mulher são hoje um grande entrave ao tratamento dos transtornos mentais. Além de afetar de forma quase generalizada o desejo sexual, o uso prolongado desses medicamentos pode provocar um distúrbio que atinge cerca de 10% das mulheres, o Transtorno do Desejo Sexual Hipoativo (TDSH). A informação é do psiquiatra mexicano Eusébio Rúbio Arioles, PhD em comportamento sexual pela Universidade de Nova York e professor da Universidade Autônoma do México.
“Os antidepressivos comumente utilizados agem por meio de um mecanismo que é a inibição de recaptação da serotonina pelo cérebro, o que se traduz em maior serotonina disponível na atividade cerebral. Quando isso ocorre, os centros reguladores e inibidores do desejo e da resposta sexual se ativam, porque a quantidade de dopamina diminui”, explica o psiquiatra.
Problema. Nos últimos anos, com o crescimento dos casos de depressão e o aumento do uso da medicação, a indústria tem se debruçado sobre o que os psiquiatras consideram um problema, pois a piora da vida sexual das pacientes tende a provocar o abandono do tratamento e, consequentemente, a complicação do transtorno, que pode se tornar crônico. No entanto, afirma o professor mexicano, ainda não há uma evolução satisfatória.

“A maioria dos antidepressivos – não são todos – tem impacto sobre o desejo sexual e o alcance do orgasmo. O que acontece é que, quando se tem uma pessoa deprimida, é preciso avaliar muito bem o custo-benefício do tratamento com antidepressivo. Normalmente, não é um tratamento por toda a vida, mas com duração de seis a oito meses”, diz Arioles. Geralmente, esses remédios prejudicam a libido em 30% a 60% das mulheres. Nesses casos, afirma o especialista, a paciente se recupera da depressão, e o desejo reaparece.
Mas, nos casos em que o uso deve se prolongar por dez anos ou 15 anos, os impactos na vida sexual são bem maiores, e a saída encontrada é utilizar alguns “antídotos”. Dar preferência a medicamentos com menos impacto ou associá-los a dopaminérgicos, como a bupropiona. “É importante saber que o tratamento para depressão é prioritário. Há pessoas que necessitam de antidepressivos para ficarem estáveis. Se o desejo é afetado, temos que pensar algum jeito de melhorar isso”.
O professor esclarece ainda que o desejo sexual é condicionado por muitos fatores. “Os antidepressivos bloqueiam um mecanismo no cérebro. Mas há muitos outros fatores”.
Análise

“No quesito sexualidade, a mulher é como um painel de avião”

Carmita Abdo psiquiatra
FOTO: WALDIR SILVA/DIVULGAÇÃO
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Carmita Abdo foi uma das palestrantes do congresso
“Falar de sexualidade pressupõe que você tenha conhecimento para que não se credite ao antidepressivo a queixa da paciente sobre sexualidade. Se uma mulher está em um relacionamento mais antigo, por exemplo, o desejo pode estar prejudicado. Ela vai precisar de um estímulo para que se excite e, na sequência, o desejo sexual volte a acontecer. Às vezes não é um problema do antidepressivo, nem da mulher, mas do parceiro.

Um urologista disse, em um congresso de que participei na semana passada, que o homem funciona com um único botão. Você aperta, e a sexualidade está liberada. No quesito sexualidade, a mulher é como um painel de avião. Ela tem que estar se sentindo bonita, tem que estar à vontade com seu parceiro etc.

O estímulo tem que ser adequado, mas, muitas vezes, a medicação que estamos prescrevendo impede que o nosso paciente alcance o orgasmo, e a mulher não vai chegar à plenitude de sua satisfação sexual, dada a necessidade de um dopaminérgico. E, aí, vão surgir as questões sexuais, sejam elas masculinas ou femininas.”
A jornalista viajou a convite do XXXIII Congresso Brasileiro de Psiquiatria.

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