10/11/2015
às 14:18 \ Opinião
Publicado no Globo
Marco Antonio Villa
Lula voltou a ser o principal protagonista da
cena política brasileira. No último mês, não teve um dia sequer em que
não ocupasse as manchetes da imprensa. Viajou pelo Brasil — sempre de
jatinho particular, pago não se sabe por quem — e falou, falou e falou.
Impôs uma reforma ministerial à presidente, que obedeceu passivamente,
como de hábito, ao seu criador. Colocou no centro do poder um homem seu,
Jaques Wagner, para controlar a presidente, reestruturar o pacto
lulista — essencialmente antirrepublicano — com o Congresso e o grande
capital e, principalmente, para ser um escudo contra as graves acusações
que pesam sobre ele, sua família e amigos.
Como de hábito,
não teve nenhum compromisso com a verdade. Vociferou contra as
investigações. Atacou a Polícia Federal, como se uma instituição de
Estado não pudesse investigá-lo. Ou seja, ele estaria acima das leis, um
cidadão — sempre — acima de qualquer suspeita, intocável. Apontou sua
ira contra o ministro da Justiça e tentou retirá-lo do cargo — e vai
conseguir, cedo ou tarde, pois sabe quão importante foi Márcio Thomaz
Bastos em 2005, quando transformou o ministro em seu advogado de defesa.
O ex-presidente, em exercício informal e
eventual da Presidência, declarou que o Brasil vive quase um Estado de
exceção, simplesmente porque a imprensa divulgou documentos sobre seus
ganhos milionários nas palestras e apresentou como dois filhos vivem em
apartamentos em áreas nobres de São Paulo sem pagar aluguel — uma
espécie de Minha Casa Minha Vida platinum, reservado exclusivamente à
família Lula da Silva — e teriam recebido quantias vultuosas sem a
devida comprovação do serviço prestado. Não deve ser esquecido que o
Coaf justificou a investigação da sua movimentação financeira como
“incompatível com o patrimônio, a atividade econômica e a capacidade
financeira do cliente.”
Lula passou ao ataque. Falou em maré
conservadora, que não admite ser chamado de corrupto e que — sinal dos
tempos — não teme ser preso. A presidente da República, demonstrando
subserviência, se deslocou em um dia útil de trabalho, de Brasília para
São Paulo, simplesmente para participar da festa de aniversário do seu
criador. Coisa típica de República bananeira. Ninguém perguntou sobre os
gastos de viagem de uma atividade privada paga com dinheiro público. O
país recebeu a notícia naturalmente. E alguns ingênuos ainda imaginam
que a criatura possa romper com o criador, repetindo a ladainha de 2011.
Mesmo após as aterradoras revelações do
petrolão, Lula finge que não tem qualquer relação com o escândalo e posa
de perseguido, de injustiçado. Como se não fosse ele o presidente da
República no momento da construção e operação do maior desvio de
recursos públicos da história do mundo. Nas andanças pelo país, para
evitar perguntas constrangedoras, escolhe auditórios amestrados. Mente,
mente, sem nenhum pudor. Chegou a confessar cometeu estelionato
eleitoral, em 2014, como se fosse algo banal.
O protagonismo de Lula impede uma solução para
a crise. Ele aposta no impasse como único meio de sobrevivência, da sua
sobrevivência política. Pouco importa que o Brasil viva o pior momento
econômico dos últimos 25 anos e que a recessão vá se estender, no
mínimo, até o ano que vem. Pouco importam os milhões de desempregados, a
disparada da inflação, o desgoverno das contas públicas. Em 1980, o
então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo
não pensou duas vezes em prorrogar a greve, mesmo levando-a à derrota — e
aos milhares de operários que tiveram os dias parados descontados nos
salários —, simplesmente para reabilitar sua imagem frente à base
sindical, isto porque, no ano anterior fechou acordo com a Fiesp sem que
o mesmo fosse aprovado pela assembleia, daí que passou a ser chamado
pelos operários de pelego e traidor.
Em setembro, Dilma chegou a balançar quando o
PMDB insinuou que poderia apoiar o impeachment. Lula entrou em campo e,
se não virou o jogo, conseguiu ao menos equilibrar a partida — isto na
esfera da política, não da gestão econômica. Tanto que a possibilidade
de a Câmara dos Deputados aprovar, neste ano, a abertura de um processo
de impeachment é nula. Por outro lado, o Congresso Nacional não aprovou
as medidas que o governo considera como essenciais para o ajuste fiscal.
É um jogo cruel e que vai continuar até o agravamento da crise
econômica a um ponto que as ruas voltarem a ser ocupadas pelos
manifestantes.
As vitórias de Lula são pontuais, superficiais
e com prazo de validade. As pesquisas mostram que ele, hoje, é uma
liderança decadente e com alto grau de rejeição, assim como o PT. Mantém
uma influência no centro de poder que é absolutamente desproporcional
ao seu real peso político. Tem medo das consequências advindas das
operações Lava-Jato e Zelotes. Mas no seu delírio quer arrastar o país à
pior crise da história republicana. E está conseguindo. Tudo porque
sabe que o impeachment de Dilma é o dobre de finados dele e do PT.
As ações de Lula desmoralizam o Estado
Democrático de Direito. Ele despreza a democracia. Sempre desprezou.
Entende o Estado como instrumento da sua vontade pessoal. Mas, para
sorte do Brasil, caminha para o ocaso. Só não foi completamente
derrotado porque ainda mantém apoio de boa parte da elite empresarial,
que, por sua vez, exerce forte influência no Congresso e nas cortes
superiores de Brasília. O grande capital não sabe o que virá depois do
PT. Na dúvida, prefere manter apoio ao “seu” partido e ao “seu” homem de
confiança, Lula.
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