palácio do planalto
Em evento no Planalto transformado em palanque, presidente falou em 'farsa do vazamento' do discurso em que vice falava como se o impeachment estivesse aprovado
A
presidente discursou para uma plateia formada por professores e
estudantes no ato intitulado Encontro da Educação pela Democracia
PUBLICADO EM 12/04/16 - 14h22
Em um de seus discursos mais duros, a presidente Dilma Rousseff chamou
nesta terça-feira (12) o vice-presidente Michel Temer de "golpista" e de
"chefe conspirador" e ressaltou que o peemedebista tem desapego pelo
estado democrático de direito e pela Constituição.
Em mais um evento no Palácio do Planalto transformado em palanque
contra o seu afastamento, a petista afirmou que o vice-presidente lançou
mão da "farsa do vazamento" ao ter distribuído discurso no qual falava
como se o impeachment já tivesse sido aprovado pelo plenário da Câmara.
Segundo ela, o vazamento foi "deliberado" e "premeditado", além de ter
demonstrado a "arrogância" e "desprezo" do peemedebista que, de acordo
com ela, subestimou a inteligência do povo brasileiro.
"Nós vivemos tempos de golpe, de farsa e de traição. Agora, conspiram
abertamente, à luz do dia, para desestabilizar uma presidente
legitimamente eleita", disse. "O gesto revela a traição contra a mim e
contra a democracia e que o chefe conspirador não tem compromisso com o
povo", acrescentou.
PMDB
Em estratégia explorada pelo Palácio, a petista fez questão de associar
Temer ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Segundo ela, ambos agem de forma premeditada e são "chefe e vice-chefe
assumidos da conspiração", que atuam em uma espécie de "gabinete do
golpe". Para Dilma, eles estão tentando "montar uma farsa" para
interromper no Congresso Nacional o mandato da presidente.
"Um deles é a mão não tão invisível, que conduz com desvio de poder e
abusos inimagináveis processo de impeachment. O outro esfrega as mãos e
ensaia a farsa de um vazamento de um pretenso discurso de posse",
criticou. "Cai a máscara dos conspiradores e o país e a democracia não
merecem tamanha farsa", acrescentou.
A petista também rebateu a crítica feita pelo comando nacional do PMDB
sobre a distribuição de cargos para siglas como PP, PR e PSD com o
objetivo de recompor a base aliada. Segundo ela, na verdade, é o partido
que "leiloa posição no gabinete do golpe".
"Ao longo da semana, acusaram-se de usar expedientes escusos para
recompor a base de apoio, me julgando por seus espelhos, porque são eles
que utilizam tais metas. Eles caluniam enquanto leiloam posições no
gabinete do golpe, em um governo sem voto", disse.
A presidente reconheceu que ficou "chocada" com o episódio e disse que o
vazamento do discurso retira a legitimidade e legalidade para que o
vice-presidente assuma o Palácio caso processo de impeachment seja
aprovado pelo Congresso.
A petista ainda ironizou o fato do vice-presidente ter se comprometido a
manter os programas sociais do atual governo. "Ele diz que é capaz de
anunciar que está pensando em manter as conquistas sociais. Pensando e
pensando, como se, para manter conquista social, deve-se pensar", disse.
Ela disse ainda que, por não ter sido eleito, o peemedebista também não
teria legitimidade para impor sacrifícios à população, como afirmou no
áudio. "Como acreditar em um pacto de salvação nacional sem uma gota de
legitimidade democrática de quem propõe?", questionou.
A petista também criticou o relatório do deputado federal Jovair
Arantes (PTB-GO) aprovado nesta segunda (11) pela comissão especial do
impeachment. Segundo ela, o documento é um "instrumento de uma fraude" e
é "frágil" e "sem fundamento".
"Eles pretendem me derrubar sem provas e sem justificativa jurídica e
Pretendem rasgar os votos de 54 milhões de eleitores", disse.
'Entulho ao passado'
Com bandeiras, cartazes e camisetas contra o impeachment, integrantes
de entidades como a UNE (União Nacional dos Estudantes) e CNTE
(Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação) passaram a
cerimônia entoando gritos contra o impeachment, como "não vai ter golpe"
e "Dilma Rainha, Temer nadinha", e contra veículos de imprensa.
Eles também fizeram releituras de funks cariocas. No ritmo do refrão de
"Atoladinha", por exemplo, dos MCs Tati Quebra Barraco e Bola de Fogo,
cantaram: "Eu vou apoiar a Dilma, eu vou apoiar a Dilma. Calma, calma,
burguesia."
A presidente da UNE, Carina Vitral, disse que os estudantes do país não
se sentem representados pelo vice-presidente Michel Temer ou pelo
senador Aécio Neves (PSDB-MG). "Aqueles que perderam as eleições
presidenciais vão precisar aceitar o resultado das urnas", disse.
A coordenadora-geral da Contee (Confederação Nacional dos Trabalhadores
em Estabelecimentos de Ensino), Madalena Peixoto, criticou o "Ponte
para o Futuro", programa de governo elaborado pelo vice-presidente.
Segundo ela, o documento é um "entulho para o passado".
"Eles querem atacar a presidente e fortalecer o reacionismo. O plano
dos golpistas é uma ameaça ao direitos sociais e trabalhistas",
criticou.
O coordenador do Fórum Nacional de educação, Heleno Araújo, criticou
Cunha e disse que ele não poderia ter acolhido o pedido de impeachment.
"Não aceitamos que essa pessoa venha a comandar o impedimento", disse.
A cerimônia de apoio à presidente pelo setor educacional faz parte de
esforço do Palácio em tentar repetir a "Campanha pela Legalidade" da
década de 1960, feita em defesa da posse de João Goulart após a renúncia
do presidente Jânio Quadros.
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