Entre o cenário encontrado pelo PT em 2002, com a eleição de Lula, e a situação do país hoje, quando deve ser decididopelo Senado o provável afastamento da presidente Dilma Rousseff, a economia brasileira passou por uma verdadeira montanha russa. Muitas das conquistas dos primeiros anos de governo, quando a frase “Nunca antes na história desse país” foi repetida à exaustão, foram parcialmente revertidas pela sucessão de crises enfrentadas pela gestão petista nos últimos dos poucos mais de 13 anos de gestão, até agora. 

Turbinados pela conjuntura internacional favorável nos primeiros anos de governo, com a demanda das principais commodities exportadas pelo país em alta, indicadores importantes para a economia como PIB, inflação e juros alcançaram marcas positivas históricas. O exemplo mais emblemático foi a conquista do tão sonhado pleno emprego. Além de uma situação fiscal bem diferente da hoje. Para que o país retorne à situação fiscal encontrada há cerca de 13 anos, é necessário um ajuste da ordem de R$ 250 bilhões.

O quadro de profunda crise econômica e completa perda de governabilidade vivido pelo partido também é bastante diferente da realidade dos primeiros anos da chamada ‘Era PT’. Lula começou o governo em 2003 recebendo o país com um superávit primário de R$ 52,3 bilhões, registrado no ano anterior. O equivalente a 4% do PIB naquele ano.

O cenário internacional também contribuiu. Em 2004, o boom das commodities impulsionou a entrada de investimentos externos no país, criando um ambiente favorável para investimentos. Naquele ano, o país recebeu US$ 18,2 bilhões vindos do exterior. Um crescimento de 79% em relação a 2003.
“A soma de controle fiscal, ambiente externo extremamente favorável e superciclo do comércio internacional levaram a economia brasileira a um ambiente de crescimento que durou até 2009, quando se iniciou a crise internacional”, le[TEXTO]mbra o economista do Ibmec Reginaldo Nogueira.

Mesmo com o acirramento da crise internacional, o governo reagiu e, em 2010, ainda sob o comando de Lula, o país registrou um crescimento de 7,5% no PIB, após o tropeço de 2009, quando houve retração de 0,2% a reboque da turbulência externa. Daquele momento em diante, os reflexos da crise econômica americana reduziram os investimentos no Brasil e o governo decidiu estimular ainda mais o consumo interno. As políticas de estímulo, como a redução de impostos sobre determinados produtos industrializados permaneceram em um ambiente econômico que, segundo Nogueira, não sofria mais de escassez de demanda.

Para o economista, o pano de fundo das mudanças ocorridas desde 2011 é a deterioração dos indicadores fiscais, o que pode levar o país a um déficit de R$ 100 bilhões em 2016. “Com Dilma, houve expansão de gastos e desvalorização do real como forma de incentivo à exportação ao mesmo tempo em que o mercado internacional piorou. O governo começou a controlar preços da energia e gasolina, tentando combater a inflação. Além disso, houve tentativa de controle sobre as concessões e isso minou o interesse dos investidores”, explica Nogueira. Com a paralisia política dos últimos meses e sem os ajustes necessários para para a recuperação econômica, o governo Dilma pode encerrar hoje antecipadamente a Era PT.

Redução da pobreza é a principal vitrine do governo petista
Uma das conquistas dos últimos quase 13 anos e meio de PT no poder foi a retirada de 36 milhões de pessoas da situação de extrema pobreza. Cerca de 22 milhões somente durante o governo Dilma Rousseff, quando foi lançado o governo Brasil Sem Miséria, em 2011. Resultado de um conjunto de políticas públicas adotadas neste período, especialmente o programa Bolsa Família.
Às vésperas da votação de hoje, que pode resultar no fim de seu mandato, Dilma afirmou que o vice Michel Temer vai tentar “quebrar” todos os programas sociais em um eventual novo governo. “Acredito que vai ser muito difícil eles conseguirem quebrar todos esses programas. Mas que vão tentar, vão”, disse em discurso.

Ela lembrou de uma proposta de focar o Bolsa Família nos 5% mais pobres. E também mencionou uma redução no programa Minha Casa, Minha Vida.
O vice negou ter a intenção de acabar com o Bolsa Família e programas da área de educação, como Pronatec e o Fies. “Sei que dizem, de vez em quando, que se outrem assumir, nós vamos acabar com o Bolsa Família, acabar com o Pronatec, com o Fies. Isto é falso, é mentiroso e é fruto desta política mais rasteira que tomou conta do país”, rebateu, na sequência.

Na avaliação do cientista político Adriano Gianturco, professor do Instituto Ibmec, Temer dificilmente reduzirá os investimentos nestes programas. “É a tática do medo que o governo quer instaurar dizendo que a oposição vai tirar todas as conquistas do povo”, argumenta.Contudo, uma redução ou até isenção de impostos para os mais pobres resolveria mais problemas sociais do que a destinação de recursos para determinados programas implantados por Lula e Dilma, segundo ele.

“Assistencialismo, por si só, não é avanço social. Cerca de 53% da arrecadação com impostos vem das classes mais pobres. E essas pessoas não têm direito a serviços básicos de saneamento, por exemplo”, finalizou Gianturco.