Censo dos EUA indica que marca só será alcançada em 2012.
Para pesquisador, data da ONU é simbólica e serve para debater tema.
A população mundial vai atingir a marca de 7 bilhões de pessoas na
próxima segunda-feira (31), de acordo com a Organização das Nações
Unidas (ONU), que usou estimativas de demografia e selecionou a data de
forma simbólica para debater o tema e discutir ideias de crescimento e
sustentabilidade.
O número será alcançado apenas 12 anos depois de um bebê nascido em
Sarajevo ter sido nomeado pela ONU como o 6ª bilionésima pessoa a
nascer, e 24 anos depois de o 5º bilionésimo ter nascido na Bósnia.
Segundo o Departamento do Censo dos Estados Unidos, entretanto, o dado
das Nações Unidas é precoce, e a população mundial é de "apenas" 6,97
bilhões no final de outubro. A marca de 7 bilhões, segundo o dado dos
demógrafos americanos, chegaria apenas em abril do próximo ano.
A variação entre os números de diferentes fontes é algo normal, segundo
pesquisadores de demografia. O número de 7 bilhões "não é um valor
exato", diz José Alberto Magno de Carvalho, que já foi Presidente da
Associação Brasileira de Estudos Populacionais e da International Union
for Scientific Study of the Population (a associação internacional mais
importante em demografia).
Em entrevista ao G1, ele explicou que a definição de
uma data para marcar a chegada aos 7 bilhões de pessoas serve para
reforçar a discussão sobre o tema. "Podemos já ter passado deste número,
ou nem ter chegado ainda a essa quantidade. Trata-se de uma estimativa,
pois há países em que os dados são melhores, mais confiáveis, e outros
lugares que têm números sem uma base sólida", disse.
Ele ressaltou, entretanto, que a maior parte dos dados usados na
estimativa da ONU tem relevância e a data escolhida como marco está bem
próxima da realidade da população mundial. “A China, que tem a maior
população, tem um levantamento populacional bem razoável atualmente. O
problema é que mesmo nos países mais desenvolvidos, como os Estados
Unidos, o censo nunca tem cobertura perfeita. Nem mesmo no Brasil, onde a
contagem é muito séria, pode-se falar em cobertura total”, disse.
Segundo o pesquisador americano John Bongaarts, vice-presidente do
Population Council, organização que realiza estudos sobre a população
mundial, a variação do número real de pessoas no mundo pode chegar à
ordem de 100 milhões de pessoas para mais ou para menos em relação à
estimativa da ONU, o que não afetaria totalmente a discussão a respeito
do crescimento populacional.
População
da Nigéria, assim como de todo o continente africano, é uma das que
mais cresce no mundo (Foto: Akintunde Akinleye/UNFPA)
Velocidade de crescimentoO crescimento da
população mundial nas últimas décadas foi rápido, impulsionado
especialmente por uma maior expectativa de vida - a média atual é de 68
anos, quando era de apenas 48 anos em 1950. A velocidade de aumento
populacional começa a diminuir de ritmo, entretanto, graças a taxas de
natalidade cada vez menores. Depois de a população crescer até 2% ao ano
na década de 1960, a taxa de aumento do número de pessoas no mundo está
se estabilizando em metade disso.
Segundo a previsão mais atual da ONU, vão ser necessários 14 anos para
que surja mais um bilhão de pessoas no mundo, e a população mundial só
deve chegar a dez milhões de pessoas no fim do século. A mudança na
tendência não só vai fazer com que o ritmo de crescimento seja mais
lento, mas como vai gerar um envelhecimento da população, criando
sociedades com mais pessoas idosas do que jovens. Isso vai fazer com que
a população "envelheça". Segundo o relatório da ONU, em 2011 há no
mundo 893 milhões de pessoas com mais de 60 anos, mas no meio do século
este número passará de 2,4 bilhões.
Mundo heterogêneoApesar de ser apresentada como um
único bloco, a população mundial vive momentos muito heterogêneos em
relação a seu tamanho e sua taxa de crescimento. Cerca de 60% da
população mundial vive na Ásia. Somente na China e na Índia, juntas, há
mais de 2,5 bilhões de pessoas. A África tem 15% das pessoas do mundo
atual, enquanto um quarto da população vive no resto do mundo (Américas,
Oceania e Europa). No Brasil, a população não chega a 200 milhões.
O quadro futuro vai mudar bastante, entretanto. Enquanto a população da
Europa tem uma taxa de fecundidade de apenas 1,53 - estimativa do
número médio de filhos que uma mulher teria até o fim de seu período
reprodutivo, o que indica envelhecimento e diminuição da população - na
África a taxa de fertilidade chega a 4,64. Na América Latina a taxa é de
2,3, Na América do Norte e na Ásia de 2,03 e na Oceania de 2,49.
Enquanto no Reino Unido, o número de pessoas com mais de 85 anos dobrou
entre 1985 e 2010, o percentual de pessoas com menos de 16 anos caiu de
21% para 19% no mesmo período. No sul da África, por outro lado, a
previsão é de que a população triplique em 40 anos. Segundo dados
divulgados pela rede britânica BBC, enquanto a fertilidade global caiu
de cinco para 2,5 crianças desde 1950, as mulheres de Zâmbia têm seis
filhos, em média.
Segundo a ONU, um quinto da população mundial vive em países com alta
fertilidade. É ali que a população mais cresce, e que pode chegar a 2
bilhões de pessoas em 2050.
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