segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Começa a temporada de caça aos indecisos. Na última semana da campanha, aumenta o assédio aos que ainda não definiram o voto. Descrença na política é um dos motivos para dúvida

Marcelo da Fonseca - Estado de Minas
Publicação: 01/10/2012 06:42 Atualização: 01/10/2012 07:52
A atenção do eleitor indeciso está sendo disputada de forma acirrada pelos candidatos às prefeituras de Minas nesta última semana. Em algumas cidades, esse é um contingente capaz de virar a eleição. Só em Belo Horizonte, estima-se que pelo menos 150 mil ainda não saibam em quem votar, segundo as últimas pesquisas que apontam que esse eleitorado representa entre 8% e 13% do total. Os motivos que deixam tanta gente em cima do muro vão desde a descrença nos discursos apresentados pelos candidatos até a percepção de que as propostas deles são bem parecidas. A situação se repete no interior, onde o assédio aos que não definiram seu voto é ainda mais intenso, já que na maioria delas a disputa ocorre em apenas um turno. Além dos motivos comuns aos eleitores da capital, a ausência de horário eleitoral gratuito é apontada como fator para deixar o eleitor em dúvida.
Contrárias ao voto nulo ou em branco, as veterinárias Ayla Pereira, de 25 anos, e Isabel Melo, de 24, já reservaram um tempo na rotina desta semana para assistir a pelo menos um debate político e às propaganda eleitoral dos candidatos de BH. Mesmo depois de três meses de campanha, elas não se decidiram em quem votar no domingo, mas já conhecem as principais propostas de Marcio Lacerda (PSB) e Patrus Ananias (PT), que polarizam a disputa. “As ideias são boas, o complicado é colocá-las em prática no tempo que eles prometem. Estou quase me decidindo, mas ainda pretendo aproveitar a última semana para fazer minha escolha”, afirma Isabel. “Podemos perceber muitas coisas pela forma como os políticos apresentam suas ideias durante os debates. Apesar de serem muito bem treinados para aquela situação, o posicionamento diante de questões polêmicas pode contar muito”, opina Ayla.

Tudo igual
A dificuldade em se decidir é vista pelo cientista político Rudá Ricci como natural em uma campanha que passou por reformulações de última hora, a partir do rompimento do PT com o PSB no prazo final das convenções partidárais. “Como os dois partidos estavam juntos até pouco tempo atrás, muitos eleitores da capital tiveram problemas para entender o novo cenário. Como as duas legendas fizeram parte de um mesmo governo, sem confrontos entre os candidatos antes do racha, o eleitor tem que fazer um exercício muito forte para diferenciar as duas propostas. Em eleições nas quais não existem divergências radicais, a falta de clareza nas posições reflete-se no número de indecisos”, explica Rudá.
Foi exatamente esse obstáculo que fez com que a arquiteta Yonanda Cerqueira, de 48, mantivesse a indecisão. Atenta às propostas que foram lançadas durante a campanha, ela qualifica as propostas de Patrus e Lacerda para a área de saúde e mobilidade como “parecidíssimas, mas já sabe como fazer o tira-teima: “Vou ter que acompanhar os debates para descobrir qual é melhor”.
O cabeleireiro Michel Freire, de 21, não assitiu a nenhum debate, mas já sabe como pretende definir seu voto. “Acompanho por meio de jornais e na internet e até agora vi algumas propostas boas dos candidatos, mas ainda estou avaliando as opções. O tema que mais me chamou atenção até agora foi mobilidade urbana, área em que as propostas são quase repetidas. Então, como os dois foram prefeito, vale lembrar o que já foi feito e o que está sendo feito para comparar”, analisou.
O passado condena
Denúncias de corrupção e irregularidades administrativas têm contribuído para aumentar as dúvidas do eleitorado em relação a candidatos que já exerceram cargo público. O microempresário Wagner de Paula Rosa, de 35 anos, está em dúvida sobre quem escolher para a Prefeitura de Sabará, mas não se encaixa no perfil dos que só estão dando atenção aos candidatos nos últimos dias de campanha. Atento às propostas e ao passado deles, Wagner cita as gestões dos dois principais candidatos – o prefeito William Borges (PV) e o ex-prefeito Diógenes Fantini (PMDB) – como principal fator para sua indecisão. “Na última eleição, votei no atual prefeito, mas houve muitas denúncias de irregularidades ao longo dos anos, entre outros problemas na cidade. Já o principal adversário também deixou a prefeitura sob muitas críticas da população. Por isso está bem difícil escolher. Conhecendo a história dos candidatos, vejo que as opções são fracas”, avaliou.
A falta de boas opções também foi apontada pelo vendedor Maciel Froes Gonçalves, de 25, um dos 30 mil indecisos em Montes Claros, Norte de Minas – de acordo com pesquisa do MDA/Estado de Minas, 11,8% dos montes-clarenses não escolheram candidato). “Estou indeciso devido à corrupção na política. Ninguém sabe qual é a pessoa certa para administrar a cidade. Além disso, os candidatos fazem muitas promessas difíceis de ser executadas”, justificou, se dizendo ainda muito decepcionado com a atual administração de Luiz Tadeu Leite (PMDB). “O futuro prefeito terá que fazer obras para desafogar o trânsito, investir na melhoria das ruas e no combate à violência”, cobrou.
Família Vítor Almeida Santos, de 18, que vai dar seu primeiro voto este ano, está entre os 12,9% do eleitorado de Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas, que não sabe em quem votar. Muitas pessoas já indicaram candidatos a ele, principalmente familiares. “Minha mãe quer que eu vote no candidato dela, meu pai no dele. Mas eu não sei em quem votar. Vou decidir esta semana. Estou assistindo ao horário eleitoral, o que eu não fazia antes. Também tenho conversado sobre política, o que não costumava fazer”, diz. (Colaboraram Ivan Drummond, Luiz Ribeiro e Simone Lima)

Nenhum comentário: