Danilo Macedo
Brasília
- Duzentos milhões de jovens, com idade entre 15 e 24 anos, de países
em desenvolvimento não completaram o ensino primário, equivalente ao
ensino fundamental no Brasil, e precisam de caminhos alternativos para
adquirir habilidades básicas para o emprego. O número representa 20% da
população desses países nessa faixa etária e foi apresentado no 10º
Relatório de Monitoramento Global de Educação para Todos, publicado hoje
(16) pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura (Unesco).
O relatório mostra que a população jovem do
mundo é a maior que já existiu e que um em cada oito jovens está
desempregado. Além disso, mais de 25% estão em trabalhos que os deixam
na linha da pobreza ou abaixo dela, equivalente a um rendimento inferior
a US$ 1,25 por dia. O documento ressalta que 'a profunda falta de
qualificação da juventude é mais nociva do que nunca', neste momento de
crise econômica que continua afetando sociedades de todo o mundo.
A
publicação avalia que houve progresso significativo em algumas regiões,
mas poucas estão no caminho para atingir as seis metas previstas no
Acordo de Dacar (Senegal), assinado por 164 países durante a Conferência
Mundial de Educação de 2000. Pelo acordo, até 2015 devem ser cumpridas
as seguintes metas: expandir cuidados na primeira infância e educação;
universalizar o ensino primário; promover as competências de
aprendizagem e de vida para jovens e adultos; reduzir o analfabetismo em
50%; alcançar a paridade e igualdade de gênero; melhorar a qualidade da
educação.
Em todo o mundo, 250 milhões de crianças em idade
escolar primária não sabem ler ou escrever, frequentando ou não a
escola. Entre os adolescentes, 71 milhões estão fora da escola
secundária, perdendo, segundo a pesquisa, a oportunidade de adquirir
habilidades vitais para um emprego digno no futuro.
As populações
jovens pobres são as que mais precisam de capacitação, principalmente
das áreas rurais. 'Muitos jovens fazendeiros, com problemas de escassez
de terras e efeitos da mudança climática, não têm sequer as habilidades
básicas necessárias para se proteger e se sustentar', conclui o estudo.
No Brasil, aqueles que moram na zona rural têm o dobro de chance de ser
pobres e 45% não completaram o ensino fundamental.
Segundo a
diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, o mundo está testemunhando uma
geração jovem frustrada pela disparidade crônica entre habilidade e
emprego. 'A melhor resposta à crise econômica e ao desemprego de jovens é
assegurar a capacitação básica e relevante de que precisam para entrar
no universo do trabalho com confiança', disse. Para ela, esses jovens
precisam ter caminhos alternativos para a educação, para conseguir as
habilidades necessárias à sobrevivência, a viver com dignidade e
contribuir com suas comunidades.
O relatório mostra ainda que não
investir nas habilidades de jovens tem efeitos de longo prazo visíveis
em todos os países. Mesmo nas nações desenvolvidas, a estimativa é que
160 milhões de adultos, ou 20% deles, não tenham requisitos mínimos para
se candidatar a um emprego, como ler um jornal, escrever ou fazer
cálculos. Por isso, a Unesco defende que investir no desenvolvimento das
habilidades de jovens é uma estratégia inteligente para países que
querem impulsionar seu desenvolvimento econômico.
A partir dos
dados, a entidade alerta que apesar de a área econômica ser a primeira a
se beneficiar da mão de obra mais qualificada, o setor privado
contribui muito pouco na educação dos jovens, com apenas 5% dos fundos
oficiais. Além disso, recomenda que governos e países doadores de fundos
globais para a educação se empenhem para garantir o investimento
necessário.
Edição: Graça Adjuto
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