15/10/2012 08:02 - Atualizado em 15/10/2012 08:02
RENATO COBUCCI
Clientes são executivos que vêm à capital a negócios, políticos, autoridades e jogadores de futebol
Cabelos lisos na altura dos ombros, boca carnuda e pernas torneadas. As
bijuterias são finas e o perfume, importado. Maquiagem leve e roupa
discretamente provocante. Jovens na faixa dos 20 aos 35 anos que
poderiam passar por modelos ou cobiçadas namoradas exercem em hotéis de
luxo na zona Sul de Belo Horizonte a mais antiga profissão do mundo:
prostituta.
Sem qualquer traço de vulgaridade, com uma aparência que passa longe do
visual manjado de “periguete”, elas fazem parte de uma rede de comércio
do prazer que atende a uma clientela seleta, formada por executivos,
empresários, delegados de polícia e jogadores de futebol. Homens
dispostos a pagar, em média, R$ 400 por duas horas de programa.
A equipe do Hoje em Dia esteve em seis sofisticados hotéis de BH, nas
imediações da Savassi, da Assembleia Legislativa e do Belvedere. Apesar
da peculiaridade de cada um, em todos é possível obter o “serviço”,
acertado no scotch bar, por meio de catálogos ou com um simples
telefonema – feito, na maioria das vezes, pelo próprio recepcionista do
estabelecimento.
Perto do poder
Na avenida Brasil, a um quarteirão do Palácio da Liberdade, local que
durante anos abrigou a sede do governo do Estado, o porão de um hotel
foi transformado em scotch bar.
Na voz e no violão, o solitário cantor interpreta o melhor da Música
Popular Brasileira (MPB). À meia-luz, no ambiente aconchegante e
refinado, dezenas de prostitutas ficam à espera de um programa.
Não há manifestações explícitas de carinho e as mulheres aguardam o
convite para sentar à mesa do interessado. O encontro, também chamado de
“presente” pelas meninas, pode ocorrer nas suítes ou em motéis
conveniados com as prostitutas. Nesse caso, o cliente passa o cartão
bancário na máquina do estabelecimento, que depois reembolsa a
acompanhante de luxo.
Sem pechincha
O valor médio de R$ 400 pode ser negociado. Porém, a maioria dos
clientes, devido ao alto poder aquisitivo, quase nunca barganha, dizem
as mulheres. Segundo uma garota, o bar é frequentado por homens
“maduros”, com idade acima de 35 anos.
Ambiente aconchegante e refinado, o melhor da MPB e prostitutas à espera de um programa (Foto: Renato Fonseca)
“Políticos e delegados de renome da capital, que toda hora aparecem na
televisão, são assíduos. Sem contar os jogadores de futebol”, diz.
Ela afirma que até a modelo Eliza Samudio, ex-amante do goleiro Bruno,
desaparecida há mais de dois anos, fez ponto ali. “A Bruna Surfistinha
também passou uns dias por aqui. Nessa época, um jogador mineiro que
hoje brilha no futebol carioca não saía do scotch bar”.
Escolha pelo "cardápio" e drogas à vontade
Discreto como as mulheres, o “catálogo” com as prostitutas “à disposição” é mais uma forma de aguçar a fantasia dos clientes.
Chamado de book, o caderninho mede pouco mais de um palmo e traz
informações picantes sobre as garotas. Junto às fotos, constam
“qualificações” como “massagista liberal” e “especialista em oral”.
O catálogo é feito em papel cuchê, um tipo de folha especial, própria
para impressão em gráfica. O material é brilhante e as fotos parecem
tiradas em estúdio. O nome e a suposta idade da profissional também são
informados.
Para quem gosta de sexo com drogas, é possível conseguir maconha in
natura e até o baseado pronto. Em meio à conversa ao pé do ouvido, a
prostituta oferece mais essas “facilidades” ao cliente.
“Transar fumando um, com a cabeça feita, é sempre bom, não é mesmo?”, brinca uma das meninas.
A relação comercial entre as prostitutas, os hotéis e os clientes
ocorre sem sigilo. Leitos e máquinas de cartão de crédito ficam à
disposição para que os programas aconteçam sem maiores dificuldades.
Encargos
Fica evidente que o cliente paga pelos serviços sexuais e pelo aluguel
do quarto. Já a prostituta repassa um valor ao estabelecimento, a título
de “comissão”. Questionada se há exploração pelos hotéis, a
profissional do sexo desconversou.
A sobretaxa não fica só por conta do local da hospedagem. Taxistas
exclusivos se encarregam de transportar as prostitutas. Alguns também
aceitam receber, além da corrida, o valor do programa, por meio de
cartão de crédito. Mas descontam parte do dinheiro a ser repassado às
garotas.
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