Nova tecnologia sem fios usa o corpo humano para conduzir a energia que move arquivos e poderá até abrir portas
Em uma cena clássica do filme Minority Report – A nova lei, o
personagem de Tom Cruise manipula as imagens de uma tela apenas com
gestos, à distância. Para selecionar um arquivo, aponta para ele. Para
dar zoom, faz um movimento de aproximação com as mãos. O ano é 2054.
Mestre da ficção científica, Steven Spielberg não poderia imaginar que a
tecnologia futurística inventada para seu filme – lançado em 2002 – se
tornaria realidade bem antes do previsto.
Uma versão ainda incipiente da tecnologia de Minority Report foi
apresentada pela companhia japonesa NEC no Futurecom 2012, maior evento
de telecomunicações da América Latina, aberto na segunda-feira, no Rio
de Janeiro, e com encerramento hoje. No estande da empresa, duas telas
estavam disponíveis para o teste do Sistema de Interatividade Real. Era
só esticar o braço na direção de um arquivo, fechar a mão como se
estivesse segurando alguma coisa, e soltar "a coisa" na tela seguinte.
Tudo isso na mira de uma câmera com sensor 3D e projetor, que identifica
o movimento e mostra o caminho traçado pelo arquivo. “O gesto é uma
forma de interação e deve ser analisado pelas novas tecnologias”,
afirmou o diretor de negócios para governo da NEC Brasil, Massato
Takakuwa.
A tecnologia, a mesma do videogame Kinect, deve ganhar o mundo real em
dois anos. “Imagina uma Central de Comando e Controle com esse sistema.
Os agentes de segurança vão poder passar informações do computador para o
celular com maior rapidez, agilizando o trabalho deles”, disse
Takakuwa. O diretor prevê o uso doméstico do Sistema de Interatividade
Real para daqui a cinco anos. Ninguém mais precisará levantar do sofá.
Com um gesto, o ar condicionado diminui a temperatura. Com outro, a
televisão muda de canal. Desde que sua casa esteja equipada com muitos
sensores, claro. “Toda tecnologia tem prós e contras. Essa pode ajudar
as pessoas com deficiência, mas também incentiva a obesidade”, disse o
diretor.
Alguns estandes adiante, mais uma experiência digna dos Jetsons. O
Connected Me, da Ericsson, usa o corpo humano para transportar dados
entre um aparelho e outro. Na mesa, duas máquinas com placas de aço –
cada uma contendo um sensor interno – estavam disponíveis para o teste.
Uma estava ligada a um celular programado para tocar músicas. A outra, a
uma televisão. Não havia fios conectando as duas máquinas. Quando as
pessoas colocavam uma mão em cada superfície, a música começava a tocar
na caixa de som da TV. Sem internet ou fios. “O corpo tem um potencial
elétrico natural, que pode ser modelado para o transporte de dados. A
radiação do sistema é menor que a do celular e está dentro dos padrões
da Organização Mundial de Saúde (OMS)”, afirmou o diretor de inovação da
Ericsson, Jesper Rhode.
Escutar música segurando a caixa de som parece pouco prático, mas a
tecnologia tem outras aplicações. Duas pessoas poderiam trocar seus
contatos apenas apertando as mãos – desde que estivessem encostadas em
um celular adaptado. Ninguém precisaria mais de chave para abrir a porta
de casa: bastaria colocar a mão na maçaneta para que ela reconhecesse o
dono e autorizasse sua entrada. O Connected Me também poderia ser usado
pela medicina. Um marca-passo conectado ao sistema manteria um boletim
médico atualizado no celular do paciente, avisando como está a situação
do aparelho e se é preciso consultar um médico. “A Ericsson desenvolveu
apenas a tecnologia. Agora estamos conversando com empresas interessadas
em criar aplicativos com ela”, disse Rhode. “Trouxemos para o país para
atrair companhias brasileiras.”
Com o iPhone e o iPad, a Apple popularizou o touch screen e acabou com a
barreira entre as mãos e a tela. Mouses e teclados são cada vez menos
contemplados pelas invenções. Agora, o Sistema de Interatividade Real e o
Connected Me levam a tecnologia do toque e do gesto a um nível de
ficção científica. Para os que testaram, ficou um misto de espanto e
ceticismo. “É muito interessante, mas precisam melhorar os sensores. Nem
tudo funciona de primeira. E falta ainda criar soluções para uso",
afirmou o técnico de telecomunicação Cléber Rodrigues, que visitava a
feira. “Hoje todo mundo está conectado, não tem mais volta.”
Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Ciencia-e-tecnologia/noticia/2012/10/o-futuro-e-touch.html
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