Leonardo Morais
Trânsito caótico - Governador Valadares
Em dez anos, número de veículos quase dobrou, mas infraestrutura viária não acompanhou evolução

Governador Valadares – Para evitar atrasos nas corridas com passageiros, o taxista Vinícius de Souza Silva, de 32 anos, adota atalhos nas espremidas ruas do Centro de Governador Valadares para fugir dos engarrafamentos cada dia mais constantes. “O trânsito está sufocado. Parece que as vias são insuficientes para a demanda de carros”, diz o taxista.

Com dez anos de experiência, Silva arrisca afirmar que não há mais horários de pico na cidade. “O trânsito é sempre complicado”.

A dificuldade em trafegar nas ruas do município pode ser explicada por meio de números. Segundo dados do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran/ MG), a frota de veículos quase dobrou em dez anos.

Em 2002, eram 54.345 carros, caminhões, motos e ônibus e, até agosto deste ano, o número havia pulado para 104.509, segundo levantamento divulgado pelo órgão semana passada. O reflexo desse “inchaço” de 92% é, além dos intermináveis congestionamentos, o aumento dos acidentes.

Vítimas

Segundo o Corpo de Bombeiros, no ano passado, foram registradas 501 ocorrências envolvendo carros e motos, que, juntas, deixaram 1.024 pessoas feridas.

“O problema é que as ruas foram projetadas ainda na época da fundação da cidade. De lá pra cá, pouca coisa mudou. Não sei como vão fazer para resolver essa situação, porque não há como alargar as vias”, afirma o representante comercial Saulo Vieira, de 29 anos, enquanto estava parado num congestionamento na avenida Minas Gerais, um dos principais corredores da cidade.

Há cinco anos, afirmou o jovem, ele levava 15 minutos para chegar em casa depois do trabalho. “Hoje gasto de 30 a 40 minutos. Às vezes, prefiro sair mais tarde do serviço para não pegar trânsito”.

Evolução

No diagnóstico da frota de Governador Valadares feito pelo Detran, somente nos oito primeiros meses deste ano, 5.663 veículos novos foram emplacados. O número é superior aos emplacamentos feitos de janeiro a dezembro de 2006, quando 5.185 novos veículos ganharam as ruas e avenidas do município. No ano passado, o órgão registrou 7.322 emplacamentos.

“Evito sair de casa nos horários de pico porque sei que vou ficar nervosa no trânsito. Antes, fazia hidroginástica às 19h. Agora, para evitar congestionamentos, vou para a academia depois das 20h. Nesse horário, não há muita confusão”, disse a estudante Priscila Oliveira, de 26 anos.

Cidades de médio porte em alerta

Especialista em transporte e trânsito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ronaldo Gouvêa classifica o trânsito nas cidades de médio e grande porte do país como crônico.

Segundo ele, a solução para evitar o colapso são investimentos no transporte público. Em Curitiba, exemplifica, as pessoas deixam o carro na garagem e vão trabalhar de ônibus porque lá o sistema funciona. “Nas grandes cidades, não há espaço físico para o crescimento da frota de veículos. É necessário entender que o transporte público é fundamental”.

De acordo com o especialista, a população também precisa mudar de comportamento. “Na média, um carro com capacidade para transportar até cinco pessoas circula com até 1,4 passageiro. Recentemente, os veículos de cabine dupla, que são ainda maiores, estão na preferência dos consumidores. O gestor de trânsito não tem uma varinha mágica que vai alargar as vias e deixar as ruas com capacidade ilimitada”.

Motocicletas

Com 2.378 emplacamentos somente neste ano, o transporte em duas rodas em Governador Valadares é o que mais cresce.

No comparativo dos últimos dez anos, o número de motocicletas quase triplicou. Passou de 11.892 para 33.342. Na mesma velocidade, também aumentaram os registros de acidentes com esse tipo de veículo.

Segundo o Corpo de Bombeiros, no ano passado, as ocorrências de trânsito envolvendo motocicletas lideraram o número de atendimentos. Foram 366 casos, que deixaram 724 pessoas feridas. l