Por Rafael Romer RSS 13.05.2013 16h09 - atualizado em 13.05.2013 18h06
De todos os os corpos celestes que vagam no espaço, poucos despertam
tanta curiosidade e admiração quando o nosso vizinho de Sistema Solar,
Marte. Na rota da exploração espacial desde a década de 60, o planeta
vermelho já recebeu diversar sondas, satélites e, mais recentemente, até
robôs que investigam sua superfície, formação e geografia, como o
Curiosity. Apesar disso, até hoje, nenhuma missão tripulada foi enviada
em sua direção.
Mas se depender de iniciativas mais recentes,
isso pode mudar em breve. A Agência Espacial Norte-Americana (NASA)
anunciou nesta semana que tem como prioridade enviar o homem a Marte até
a década de 2030, e que pretende fomentar missões ao planeta vermelho a
fim de investir ainda mais em exploração espacial. Mas se depender de
outra iniciativa, a história do homem chegar a Marte pode ser bem
diferente.
Fundado em junho de 2012, o projeto do empreendedor holandês Bas Lansdorp, chamado Mars One,
tem como meta criar a primeira colônia humana em Marte até 2023. A
expectativa é que até 2033, 20 colonizadores já estejam habitando
permanentemente o planeta.
A história pode até parecer ficção
científica, mas já recebeu patrocínio de diversas empresas europeias e
norte-americanas das áreas de engenharia, tecnologia e outras, além do
apoio do vencedor do Prêmio Nobel de Física de 1999, o físico holandês
Gerard 't Hooft.
Com
o calendário do projeto já definido, as inscrições foram abertas no
final de abril para escolher aquelas que podem ser as primeiras pessoas a
pisarem no planeta vermelho. Qualquer um que se considerar apto para
embarcar na missão pode fazer a inscrição — bastam algumas informações
simples como nome, idade e país de origem, além de um vídeo explicando
por que poderia ser um dos colonos de Marte. Até o momento, mais de 80
mil pessoas de 120 países já se cadastraram. O período de inscrições
deve se encerrar em 21 de agosto.
Diferente de astronautas
profissionais, que costumam treinar durante vários anos antes de saírem
da Terra, os candidatos ao projeto Mars One só devem cumprir alguns
pré-requisitos bem genéricos, como ser fluente em alguma das onze
línguas mais faladas do mundo (além do inglês, que será a língua oficial
da colônia), ser uma pessoa adaptável, resistente, criativa, habilidosa
e capaz de confiar nos outros. Desta forma, pode-se esprerar: haverá os
mais variados tipos de pessoas por lá.
Estudante de Astrofísica pela Montclair State University, a norte-americana de 20 anos, Catherine Bettenbender,
é uma das pessoas que se diz disposta a largar a vida terráquea para
colonizar o planeta vizinho. "Os sonhos aparentemente impossíveis que eu
tive, durante muito tempo, de deixar a Terra e por o pé sobre a
superfície de outro mundo, realmente se tornaram possíveis agora", disse
em entrevista ao Canaltech, contando que descobriu o projeto através de
uma dica de seu namorado e logo se encantou com a ideia.
Catherine
conta que sempre se interessou por temas como a ficção científica, mas
se apaixonou pelo assunto quando descobriu a série Doctor Who, há dois
anos, uma das mais culturadas do gênero. A ideia de estudar astrofísica
também veio mais ou menos na mesma época, quando começou a se interessar
sobre discussões filosóficas sobre a natureza e o tempo. Por sugestão
de seu pai, leu algumas obras de autores como Nigel Calder e Stephen
Hawking e logo viu que não tinha mais volta.
Para ela, uma missão
tripulada e a colonização de Marte poderiam trazer um pouco mais de
esperança e unidade para a humanidade, principalmente porque o esforço
do projeto Mars One não está sendo realizado por um só país, mas
globalmente. "Em termos de avanços científicos e tecnológicos, isso nos
permitirá compreender melhor o Sistema Solar e até mesmo a formação de
nosso próprio planeta e, possivelmente, a formação inicial da vida",
explica a estudante. "[Os] experimentos que realizamos lá em Marte podem
ser aplicados em centenas de novas tecnologias, ainda não previstas
para as pessoas na Terra", completa.
Mas nem todos os candidatos
envolvidos no projeto têm algum envolvimento profissional com ciência,
tecnologia ou mesmo com o espaço. Na maioria dos casos, o que costuma
unir os perfis diferentes de pessoas ao redor da causa é a paixão pela
exploração espacial.
É o caso do gerente comercial de uma fábrica de recipientes plásticos Francisco Jáuregui, 32
anos, argentino que mora atualmente no México. Francisco conta que
ouviu falar sobre o Mars One há cerca de um ano enquanto buscava
notícias sobre astronomia na Internet e
logo viu a possiblidade de realizar um sonho da juventude. "Eu acho que
99% dos candidatos não têm nada a ver com o espaço ou carreiras de
astronomia", explica. "Com esse projeto, pessoas comuns, que não são
astronautas ou que não têm uma graduação em engenharia, têm a
possibilidade de participar desse tipo de missão".
Para ele,
chegar em Marte significa uma nova chance para a humanidade de recomeçar
e não cometer os mesmos erros que fizemos na Terra, como a destruição
do meio-ambiente. Além disso, Francisco acredita que Marte representa
uma oportunidade de continuarmos avançando tecnologicamente e de
descobrirmos mais sobre o universo ao nosso redor e, é claro, sobre o
planeta em si.
Mas uma viagem dessas não acontece sem riscos. O
primeiro deles, e talvez o que mais pesa para os candidatos, é que uma
vez lá, não há volta para a Terra. Como parte da ideia de tornar o
projeto viável, inclusive economicamente, a iniciativa do Mars One deixa
bem claro para os candidatos que a viagem tem apenas um bilhete de ida e
que não trará os colonizadores de volta para a Terra. "Marte se torna
sua nova casa, onde eles vão viver e trabalhar, provavelmente pelo resto
de suas vidas", diz a descrição da missão no site.
Nem isso
parece desistimular os candidatos. "Sempre há os riscos. É uma longa
viagem e qualquer coisa pode dar errado no caminho ou durante o
lançamento, mas eu acho que vale a pena o risco", afirma Francisco, que
alega que o projeto não é "para qualquer um" e que quem faz a inscrição
certamente está disposto a se colocar nesse tipo de situação. Catherine
também não mostra sinais de preocupação: "se nós nos preocupássemos com o
que poderia acontecer com a gente, ninguém jamais iria dar esse grande
passo para o desconhecido e descobrir novas coisas belas e
maravilhosas", revela.
Com o fim do período de inscrições, o
próximo passo é a seleção e o começo do treinamento dos 40 primeiros
colonizadores marcianos. Ainda neste ano, o projeto Mars One deve
construir uma réplica da colônia que será a nova casa dos exploradores
em algum lugar "gelado e desolado" do nosso planeta. Em janeiro de 2016,
está previsto o lançamento de uma carga com 2,5 mil quilos de
suprimentos e material de construção para Marte, que será a base do
acampamento.
E você? Acha que é possível pisarmos no planeta vermelho já nos próximos 10 anos?
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