Música prega a morte de agressor e fala em comemoração no quartel.
Em nota, polícia diz que canção não condiz com momento da corporação.
Uma tropa do Batalhão de Operações Especiais, o Bope, foi flagrada
cantando um grito de guerra que faz apologia à violência durante um
exercício de corrida nas ruas do Rio. O vídeo foi gravado na semana
passada, no parque Eduardo Guinle, que fica logo abaixo da sede do Bope,
ao lado do Palácio Laranjeiras, a residência oficial do governador, na
Zona Sul da cidade.
Os soldados aparecem correndo sem camisa e gritam respondendo a um
líder, que entoa os seguintes versos: ‘É o Bope preparando a incursão / E
na incursão / Não tem negociação / O tiro é na cabeça / E o agressor no
chão. / E volta pro quartel / pra comemoração’.
O parque possui brinquedos e é muito frequentado por crianças. Uma
moradora, que pede para não ser identificada, costuma brincar com as
filhas no local e discorda do repertório do Bope. “Eu acho errado que
uma corporação do estado, que está aí para prover a segurança para o
cidadão, espalhe uma cultura extremamente violenta, pesada, de guerra.
Acorda as pessoas às 7h, falando que a missão é entrar pela favela e
deixar corpo no chão”, reclama. Outros moradores, porém, apoiam os
soldados: “Acho até bacana. É um incentivo. Sinceramente, não me afeta
em nada. Acho tranquilo. Para mim, não tem o menor problema”.
O sociólogo Ignacio Cano, estudioso de assuntos ligados à violência,
comentou o vídeo. “É lamentável a comemoração da morte de uma pessoa e a
intenção de matar que fica clara com a ideia de tiro na cabeça. Música
violenta não necessariamente implica em ação violenta, mas música
violenta legitima a violência, estimula e transmite a doutrina de que
objetivo da policia é guerra, é combater o inimigo, é deixar o agressor
no chão. Esse não é o objetivo da polícia. O objetivo da polícia é
preservar direitos e preservar vidas”, destaca.
No filme ‘Tropa de elite’, inspirado no cotidiano do Bope, uma tropa de
aspirantes à corporação entoa outro grito de guerra que faz alusão à
violência: ‘Homens de preto, / Qual é a sua missão? / Entrar pela favela
/ e deixar corpo no chão’. Ignacio compara esses gritos aos funks
proibidões. Algumas dessas músicas falam na morte de policiais e
glorificam traficantes e facções criminosas. “Essa seria a versão
policial do proibidão, que reforça essa lógica da guerra, do extermínio
do inimigo. Se esses mesmos cânticos são proibidos quando são cantados
por meninos da comunidade, certamente não é a polícia que deveria fazer
esse tipo de apologia”, acredita o especialista.
O coronel Jorge da Silva, ex-chefe do Estado-Maior da Polícia Militar e
professor de sociologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro,
questiona quem autorizou o exercício. “Não foi uma manifestação
espontânea. Toda tropa da Polícia Militar, quando sai, ela sai a comando
de alguém. Então a responsabilidade pelo que estava acontecendo ali é
da pessoa que estava comandando aquele grupo”, diz.
O Jornal das Dez solicitou uma entrevista com o
comandante do Bope, o coronel René Alonso, mas o pedido foi negado. Em
nota, a assessoria de imprensa da polícia afirma que a prática de cantar
músicas de apologia à violência é proibida e que o responsável pelo
exercício será responsabilizado pelo ato. A nota diz ainda que o Bope
tem como valor maior a preservação da vida e que é voltado para
operações de pacificação. As canções, segundo o texto, são muito antigas
e não condizem com o momento atual do Bope.
http://g1.globo.com/globo-news/noticia/2013/05/tropa-do-bope-canta-grito-de-guerra-que-faz-apologia-violencia.html
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