13/06/2013- http://www1.folha.uol.com.br/colunas/sergiomalbergier/2013/06/1294288-politica-marquetonomica.shtml
Difícil não entender a mensagem. No dia em que se falava em revisão da
política fiscal do governo Dilma em busca de mais austeridade, a
presidente anunciou o novo programa/gasto social do governo, batizado de
"Minha Casa Melhor" (os nomes são muito bons, imagino como deve ser
prazeroso criá-los).
É um programa de estimados R$ 18,7 bilhões bancados pelo Tesouro a serem
emprestados pela Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil aos
mutuários do "Minha Casa, Minha Vida". O raciocínio é automático: "Minha
Casa Melhor", minha vida melhor. Funciona. Na eleição.
Na economia, teremos de esperar para ver onde o "boom" de concessão de crédito pelos bancos estatais nos levará.
Mas algumas coisas já estão claras. Dilma gasta cada vez mais bilhões em
subsídios para dezenas de milhões de brasileiros, abrangendo de energia
elétrica a móveis e eletrodomésticos, numa lista crescente de benesses
populistas.
O governo até aqui não conseguiu entregar obras estruturantes para uma
economia sufocada pela falta de infraestrutura nem melhorou o ambiente
de negócios precário nem aumentou nossa atratividade a investidores
nacionais e estrangeiros. Mas tem sido muito eficiente na criação de
subsídios e transferências de renda, sustentadas pela explosão na
arrecadação de impostos. Agora vai sustentar a compra de micro-ondas,
máquina de lavar, cama, colchão... Daqui a pouco lançam o "Meu Governo,
Minha Vida".
O crescimento econômico dos últimos anos teve como subproduto a maior
formalização da economia. Que encheu os cofres públicos. O governo
decidiu gastar boa parte dessa fortuna assim, distribuindo ao invés de
investindo, na crença de que esse dinheiro reativará a modorrenta
economia.
Não é o que vem acontecendo. E o governo, depois de dois anos de
crescimento anêmico, ensaiava uma correção de rumo. Mas veio a pesquisa
Datafolha mostrando que a popularidade da presidente começou a ser
abalada pela decepção econômica de uma população que criou enormes
expectativas, embalada pelo discurso ufanista oficial e os ganhos de
renda e consumo dos últimos anos.
O anúncio da "Minha Casa Melhor" deve se transformar em breve em pronunciamento oficial de TV da presidente, como esta Folha adiantou, sob a orientação e estratégia de João Santana, o marqueteiro do governo.
A lógica da campanha eleitoral vai se sobrepondo à lógica
macroeconômica. A oposição pode gritar, mas o governo tucano fez
parecido quando segurou o câmbio no final do primeiro mandato de FHC
para garantir sua reeleição. E assim adia-se a resolução dos problemas
econômicos em troca da resolução dos problemas eleitorais do governo de
turno.
Uma hora a casa cai, de novo, e o futuro do Brasil, que parecia brilhante, vai ficando fosco, de novo.
Sérgio Malbergier é consultor de comunicação. Foi editor dos
cadernos "Dinheiro" (2004-2010) e "Mundo" (2000-2004), correspondente em
Londres (1994) e enviado especial da Folha a países como Iraque,
Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, "A
Árvore" (1986) e "Carô no Inferno" (1987). Escreve às quintas no site da
Folha.
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