Carta
Contexto político teve forte influência no texto, e especialistas identificam resultados negativos
PUBLICADO EM 03/10/13 - 03h00
Pobres e ricos, analfabetos e doutores em direito, negros, índios,
sem-terra e grandes agricultores. Durante 18 meses, mais de 10 mil
brasileiros passaram diariamente pelas galerias do Congresso. Em
corredores sempre abarrotados, pairavam no ar sonhos, propostas,
interesses econômicos e expectativas que ganharam forma em intermináveis
debates acalorados. Há 25 anos, representantes dos mais diversos
setores da sociedade consolidaram a Constituição Cidadã, marco da
história democrática do país.
Em 1988, depois de 24 anos de ditadura, o
Brasil ainda era regido por uma Constituição com regras e limitações que
haviam sido ditadas pelos militares. Em fevereiro de 1987, 559
constituintes se reuniram no Congresso. A Carta-Mãe que sairia dali, em 5
de outubro do ano seguinte, seria o maior avanço já conquistado em
termos de garantias constitucionais, direitos individuais e fundamentais
– como as liberdades religiosa e de expressão.
Um quarto de século depois daquele momento,
juristas e deputados que participaram daquele capítulo da história
brasileira reconhecem que o texto trouxe muitos avanços, mas ponderam
seus atuais desafios e entraves.
O então constituinte pelo PMDB Roberto Brant
exercia o primeiro mandato e cita a influência do contexto mundial nos
trabalhos. “A Constituição é sensacional, mas tem imperfeições. Se o
texto tivesse sido escrito após a queda do Muro de Berlim, em 1989,
seria mais liberal do ponto de vista humano, social, político e
econômico. Naquele momento, ainda havia uma utopia de esquerda, sob o
eco das ideias socialistas, com um Estado muito centralizador”, diz.
O professor de história da Universidade de
Brasília (UnB) Antônio Barbosa destaca a evolução das garantias
individuais e coletivas. Ele concorda que o fato de a Carta ter sido
escrita antes da queda da União Soviética influenciou seu conteúdo. “A
Constituição foi feita pensando em um mundo que não existe mais”.
Barbosa avalia ainda que o texto é muito
abrangente, fruto de um pensamento de que tudo se resolve pela lei. “É a
proposta de um Estado muito regulador e que determina até mesmo a taxa
básica de juros anual ou ainda que o Colégio Dom Pedro II deve ser
federal. Enfim, são muitos penduricalhos e, por isso, se tornou uma
colcha de retalhos”.
O professor emérito da Universidade de São
Paulo (USP) Dalmo Dallari participou dos debates. Ele acredita que é
preciso valorizar as conquistas, mas entende que o texto falha ao não
tratar de normas eleitorais. “Ainda é preciso discutir o sistema
eleitoral, o financiamento público das campanhas e a introdução do
sistema distrital. Acho que esses são os pontos pendentes e que precisam
ser revistos para uma Constituição ideal”, avalia.
Medidas Provisórias
O instrumento das MPs é considerado um ponto negativo da Constituição.
Em 1988, a maioria dos constituintes se simpatizava com o
parlamentarismo e incluíram as medidas em substituição aos decretos-lei.
Em 1993, plebiscito manteve o regime presidencialista.Colcha de retalhos
Em construção. Desde a sua criação, 75 Emendas à Constituição foram aprovadas pelo Congresso. A primeira tentativa de mudança no texto aconteceu logo no dia seguinte ao de sua publicação.
Caso. O falecido deputado Amaral Netto (PDS-RJ) buscava instituir a pena de morte para os casos de roubo, sequestro e estupro seguidos de morte.
Na fila. No Congresso, ainda existem 543 PECs protocoladas para serem analisadas.
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