Em Washington
O rato gafanhoto (Onychomys torridus) é insensível às picadas
de uma espécie de escorpião, uma raridade da evolução que permite a este
roedor da América do Norte alimentar-se desse invertebrado, reporta
nova pesquisa publicada nos Estados Unidos.
Esta exceção biológica poderia ajudar os cientistas a desenvolverem
tratamentos contra a dor e antídotos para o veneno deste escorpião, o Centruroides sculpturatus.
Não é comum que a evolução neutralize o mecanismo da dor que permite
proteger o corpo das agressões externas e identificar uma doença,
afirmam cientistas, cujo estudo é publicado na edição desta sexta-feira
(25) da revista norte-americana Science.
Para descobrir o segredo da resistência do rato gafanhoto, os
cientistas estudaram os efeitos do veneno desta espécie de escorpião em
outros ratos desprovidos deste mecanismo biológico.
Descobriu-se que as toxinas do veneno do escorpião neutralizam certos
neurônios no rato gafanhoto, mas as ativam em outros roedores.
O veneno destes escorpiões contém poderosas neurotoxinas que agem no
sistema nervoso central e no sistema circulatório, provocando intensas
contrações musculares e insuficiência respiratória.
Depois de uma série de experimentos, os cientistas, entre eles Ashlee
Rowe, da Universidade do Texas, em Austin, no Sul dos EUA, comprovaram
que o veneno ativa alguns receptores da dor nos ratos normais, como em
todos os mamíferos, mas isto não ocorre no rato gafanhoto.
Neste último, os biólogos descobriram que outro receptor, produto de
uma mutação, gera aminoácidos diferentes, capazes de unir as toxinas do
veneno e neutralizar todos os outros neurônios receptores da dor ao
redor.
De fato, segundo os cientistas, o veneno parece desativar temporariamente qualquer forma de dor no rato gafanhoto.
Este mecanismo de defesa é similar ao observado no
rato-toupeira-pelado, insensível à dor, o que lhe permite suportar
níveis muito elevados de dióxido de carbono nas galerias subterrâneas
onde vive.
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