segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Reação da economia mundial aquecerá a indústria de Minas

30/12/2013 07:37 - Atualizado em 30/12/2013 07:37

Janaína Oliveira - Hoje em Dia


Wesley Rodrigues/Hoje em Dia
Olavo Machado Júnior - Presidente da Fiemg
Olavo Machado Júnior, presidente da Fiemg: boas expectativas

Para quem acha que o ano de 2013 foi perdido para a indústria mineira, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Olavo Machado Júnior, avisa: “Há anos melhores e piores. Talvez 2013 esteja posicionado entre os piores, mas perdido não foi”, defende Machado, lembrando dos impactos do ritmo lento da economia mundial sobre o desempenho do Estado, fortemente exportador de commodities.
A longo do ano em que os negócios “sobreviveram razoavelmente”, como atesta o próprio presidente da Fiemg, foram intensificados os esforços para criar as condições para a indústria mineira crescer e se fortalecer. “A gente já nota que essa estratégia está certa porque cada vez mais estamos atraindo empresários que vêm à Fiemg, que se filiam a sindicatos, que participam do nosso dia a dia”, aponta, otimista com um 2014 melhor.

2013 foi um ano perdido?
Eu nunca digo que um ano foi perdido. Acho que tem anos melhores e anos piores. Na classificação, talvez 2013 esteja posicionado entre os piores. Mas perdido não foi.
Mas a Fiemg estima que o crescimento do PIB mineiro não deve passar de 0,3% neste ano, ou seja, uma estagnação.
Tivemos um reflexo da economia mundial, principalmente aqui em Minas Gerais. Justamente pelo volume de exportação que nós temos e de commodities que nós produzimos, 2013 não teve a mesma performance que anos anteriores. Mas a gente sabe que o mundo está começando a reagir também, e isso significa que 2014 será melhor que 2013. Com isso, acreditamos que a economia mineira volta a retomar um patamar mais confortável.
E porque a produção industrial de Minas, que deve fechar 2013 negativa (-1,1%), teve desempenho pior do que a nacional (1,6%)?
A indústria mineira não foi pior, o mercado é que foi um pouco pior para nós. E o mercado sendo pior afeta principalmente a indústria de commodities, que representa mais de 40% da nossa economia. Mas se você olhar a performance da indústria de transformação, nós temos um quadro diferente. O problema sério é que nós trabalhamos muito com média. E média não significa que todos os setores foram mal, nem que todos foram muito bem. A média é essa. Mas tivemos alguns segmentos que tiveram performance melhor.
Algum setor se destacou positivamente?
Os automóveis, que tiveram um ano bom também em função das políticas colocadas. A linha branca também teve um ano razoável. Outros produtos industriais como alimentos tiveram bons resultados em alguns segmentos. Por outro lado, temos o minério, que é hoje influenciado pelo cliente que está lá na China, onde está nevando muito. Então acaba diminuindo o estoque. Mas como eles usam o estoque, significa que ano que vem eles vão comprar de novo. No global, sobrevivemos razoavelmente.
Ainda assim, o Brasil foi pior que os demais emergentes.
Sim, e isso mostra que o Brasil precisa de fazer o dever de casa. A gente está vendo que o mundo está retomando o crescimento justamente porque fez sua parte. É necessário que o Brasil também cuide disso, priorize algumas questões. As despesas governamentais devem ser diminuídas e os investimentos, feitos naquilo que a gente precisa. A infraestrutura precisa dar condições melhores para que a agricultura e a indústria se desenvolvam. Com isso, os serviços também serão de mais qualidade. É um conjunto de fatores que precisamos de ter para poder estar em um posicionamento melhor em termos econômicos.
As concessões que estão saindo do papel são parte desse dever de casa?
Não tenha dúvida. Se o governo não tem os recursos, essa é uma das saídas. As parcerias público-privadas também têm sido aplicadas de uma maneira competente. E a gente espera que esse instrumento que faz com que os gastos possam ser feitos pela iniciativa privada seja utilizado mais vezes.
Quer dizer que o privado é muito mais competente do que o governo?
O empresário, o investidor privado, não pode deixar para depois. Já o governo, muitas vezes, tem um prazo mais condescendente, principalmente nos negócios. E o privado não pode porque a duplicata vence amanhã, a folha de pagamento vence no final do mês, o imposto tem que ser pago em dia. A iniciativa privada tem uma objetividade maior por causa das contas que estão vencendo. Então não há dúvida de que quem tem concessão está correndo, até porque concessão tem fim, e o concessionário tem que aproveitar o máximo do prazo do tempo que foi dado a ele.
Pesquisa da Fiemg apontou que, em Minas, 68% dos empresários enfrentam dificuldades para contratar trabalhador qualificado. É um problema que ainda atormenta?
O Sistema Sesi/Senai tem procurado minimizar esse problema justamente treinando pessoas porque, apesar do pleno emprego, ainda existe falta de algumas especialidades, algumas competências, e a indústria precisa delas. Mesmo com taxas tão baixas de desocupação, em alguns pontos existe desemprego. Mas a Fiemg tem procurado suprir isso através do Sesi/Senai. Da mesma maneira, as empresas transformadoras precisam de tecnologia. E por isso o Senai é hoje dono do Cetec, a Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais, no Horto, um investimento de R$ 160 milhões. Só que, infelizmente, isso não é uma coisa que se resolve de uma hora para a outra. Mas nós estamos persistindo para que o mais breve possível o Cetec esteja aquilo que a indústria mineira precisa para agregar valor ao nosso produto.
E qual a origem dos recursos de R$ 160 milhões para o Cetec?
É um convênio feito pelo governo federal, pela presidente Dilma Rousseff, com a Confederação Nacional das Indústrias, a CNI, presidida pelo Robson Andrade. Os recursos estão viabilizados e já vencemos as últimas dificuldades para poder ter acesso a esse dinheiro do BNDES. Assim, esperamos que em 2014 vão fluir muito mais recursos e todos eles para investimento. O dinheiro de custeio é outro, e nós já o temos. Agora precisamos dos recursos para o desenvolvimento do projeto.
Os resultados aparecerão a médio ou longo prazo?
Já estamos lá há dois anos. Em mais uns quatro anos, talvez, possamos então ter uma diferença significativa. Mas primeiro temos que investir, equipar, preparar pessoas, e montar uma equipe com pesquisadores, doutores.

Por um tempo se falou muito em apagão de mão de obra. Isso ainda assombra?
Quando você precisa de uma especialidade e não acha na praça é apagão. Então você tem que procurar ou treinar, preparar. Talvez a palavra seja menos usada hoje do que já foi no passado.

E quais as profissões em que a escassez preocupa mais a indústria?
Desde os ofícios mais básicos, como por exemplo de pedreiro, que tem uma importância muito grande e é muito bem remunerado, até pesquisadores que mexem com mecatrônica têm espaço se são competentes. O que não há espaço é para quem não está preparado para os desafios que o mundo está nos proporcionando.

Quais as ações da Fiemg para fortalecer a indústria?
A Fiemg só será forte se a indústria for forte. Não existe sistema de indústria forte se não tivermos uma indústria que tenha pujança, e isso também depende de todo o cenário. O que nós estamos preparando na Fiemg, e que os nossos funcionários têm aceitado muito esse desafio, é que temos a obrigação de criar as condições para a indústria mineira crescer. O nosso sucesso vai depender do sucesso da indústria mineira. Isso tem sido um bom discurso, e já existe um esforço na Casa para isso. Hoje, todas as nossas instituições, Sesi, Senai, IEL, Ciemg, Estrada Real, todas as instituições que constituem a Fiemg e a própria federação têm trabalhado naquilo que é do interesse do desenvolvimento da indústria mineira. A gente já nota que essa estratégia está certa porque cada vez mais estamos atraindo empresários industriais que vêm à Fiemg, que se filiam a sindicatos, que participam do nosso dia a dia.

Passado um ano de estagnação da indústria mineira, o que vem pela frente?
O que puxa desenvolvimento são as grandes empresas. E hoje as grandes empresas se preocupam muito em ter médias, pequenas e microempresas que sejam competentes. O desafio nosso é ter tecnologia para todas e competência. Nossas empresas têm cada vez mais interagido entre elas, o que é muito positivo. Isso significa que os recursos que chegam para fazer algum desenvolvimento em Minas acabam ficando mais tempo em Minas e a economia gira melhor.

Quais setores terão um desempenho melhor em 2014?
Quem escolhe o segmento que vai se desenvolver é o empresário. Os institutos Senai e Cetec mostram bem a tendência, que abrange o setor mineral, metalúrgico, metal mecânico, motores, alimentos e energia.
 

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