11/06/2014 06h06
- Atualizado em
11/06/2014 06h12
Cerca de 170 mil homens patrulharão as 12 cidades-sede; autoridades e população temem que violência possa manchar evento.
Cidades da Copa serão monitoradas por centros de comando como este, em São Paulo. (Foto: BBC)
Há um outro campo no qual autoridades querem que o Brasil seja vencedor na Copa do Mundo: a segurança.
Elas estão investindo pesado para isso. O plano de segurança do governo
federal tem o custo de R$ 1,9 bilhão e envolve cerca de 170 mil
agentes.
Não é para menos. Além das 32 seleções e chefes de Estado, cerca de 600
mil turistas estrangeiros deverão chegar ao país para acompanhar a
Copa.
Por aqui, mais de 3 milhões de brasileiros viajarão entre as 12
cidades-sede - várias delas entre as mais violentas do país - para ver
as partidas.
E, claro, as autoridades terão que lidar com os protestos. Eles se
tornaram frequentes em todo o país desde junho do ano passado, quando
milhões de pessoas tomaram as ruas reivindicando melhores serviços
públicos, educação e saúde, além de criticarem os gastos para a
realização da Copa.
Manifestações têm ocorrido recentemente em diversas cidades e, apesar de menores, várias têm sido marcadas pela violência.
Mesmo assim, a polícia teme que atos violentos possam manchar a festa.
"Obviamente, hoje, nossa principal preocupação são essas manifestações
que geram bloqueios de vias e impedem o fluxo de pessoas e até das
seleções", disse à BBC Brasil o delegado Guilherme Almeida, coordenador
da Comissão Estadual de Segurança de Grandes Eventos de São Paulo.
Ele é responsável pelo centro de comando da segurança de São Paulo.
Todas as cidades-sede terão instalações semelhantes, que receberão
informações de diversos órgãos - polícia, bombeiros, trânsito - e de
câmeras e equipes espalhadas pelas cidades.
"Estamos preparados para superar quaisquer problemas", disse Almeida.
O governo diz que as novas tecnologias e a integração entre os órgãos serão os maiores legados do evento.
Só em São Paulo, serão monitoradas imagens de 500 câmeras, 30 delas
instaladas ao redor da Arena Corinthians, que receberá o jogo de
abertura entre Brasil e Croácia no dia 12.
Uma câmera especial em um helicóptero da polícia conseguirá ler as placas de carros que estiverem nas ruas, por exemplo.
'Me dá medo'
A expectativa entre autoridades é de que protestos serão realizados
durante o Mundial. Os motivos variam e poderão ser desvinculados do
evento, como economia ou violência urbana.
"O governo não tem nenhuma intenção de conter os protestos. O que nós
vamos fazer é evitar a violência", disse à BBC Brasil uma fonte do
governo a par dos planos de segurança, em abril.
As imagens capturadas pelas câmeras em São Paulo, por exemplo, serão
armazenadas e poderão ser usadas para identificar suspeitos de crimes,
incluindo manifestantes ligados a atos violentos, e em eventuais
investigações criminais.
Mas para alguns, o alto investimento se traduzirá em repressão.
"Me dá medo. Como cidadão, me dá medo de ir para as ruas porque a gente
tem o direito de protestar e saber que eles estão investindo tanto
assim para bater na população", disse o fotógrafo André Solnik, de 27
anos. "Realmente me deixa inseguro. Muita gente que gostaria de
protestar não vai para as ruas justamente por isso", disse ele.
Cerca de 150 mil oficiais patrulharão ruas, aeroportos, hospitais e
fronteiras. Além disso, 20 mil seguranças privados farão a proteção de
estádios e hotéis onde as seleções estarão hospedadas.
Protestos na Copa?
Os protestos se tornaram uma das principais questões da Copa. O apoio
aos atos têm caído e a população se diz contrária à realização de
manifestações durante o torneio, segundo pesquisas recentes, num momento
em que a atenção do mundo estará no Brasil.
Apesar de, pelo que indicam levantamentos, cada vez menos brasileiros
se dizerem favoráveis à realização do torneio no país, há sinais que
apontam para uma mudança de humor quanto à Copa.
A 'febre' das figurinhas do torneio, a corrida por ingressos e cenas
cada vez mais frequentes de torcida, como bandeiras nos carros e ruas
pintadas com os cores do Brasil, mostram entusiasmo, mesmo que limitado,
com o evento.
Especialistas dizem, ainda, que o desempenho do Brasil nos gramados
poderá ser um dos fatores determinantes no tamanho de protestos - e os
eventuais impactos que terão na segurança do país.
Atos poderiam atrair mais pessoas no caso de uma eliminação precoce da
seleção. Por outro lado, no caso do Brasil avançar e brigar pelo título,
manifestações poderiam se esvaziar.
Apesar de tudo ainda ser especulação, muitos dão como certa a realização de protestos.
"É certeza que vai ter manifestação, mas violência creio eu que não,
porque a presidente (Dilma Rousseff) já está cuidando disso, muito bem
por sinal", disse o estudante Davi Alves Pereira, de 23 anos. "Mas
violência diferente do que é não vai ter".
'Vai ser como sempre'
Os jogos da Copa serão realizados em cidades com altos índices de criminalidade, como Rio de Janeiro, Salvador e Recife.
As Forças Armadas também estarão à disposição dos Estados para emergências.
O investimento envolve ainda reforço da defesa em fronteiras, ar e mar e
segurança cibernética, diante da ameaça da hackers de realizar ataques
virtuais.
Mas nem todos estão convencidos de que os esforços serão infalíveis.
"Vai ser como tudo como é no Brasil. Não tem segurança nenhuma. As
pessoas não vão poder sair nas ruas. As pessoas que moram aqui, porque
as pessoas de fora, pode ter certeza, vão ter toda a segurança do
mundo", disse a empresária Leila de Souza Maia, de 34 anos.
"Os oportunistas, as pessoas que gostam de se aproveitar da situação,
que são os vândalos, vão se aproveitar com certeza", disse ela.
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