14/10/2014 07:24 - Atualizado em 14/10/2014 07:24
Eugênio Moraes - Hoje em Dia
Bombeiros contam com 6.300 homens, que além de debelar incêndios estão empenhados em outras tarefas
Não bastassem a escassez de chuva, tempo seco e crimes ambientais, a
atual estrutura de combate às queimadas pode favorecer a devastação de
áreas verdes em Minas, aponta a própria Associação dos Oficiais da
Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
(AOPMBM).
Segundo a entidade que representa a classe, o efetivo empenhado para
debelar incêndios florestais seria insuficiente para atender o elevado
número de ocorrências registradas neste ano.
Só nos nove primeiros meses de 2014, o Corpo de Bombeiros registrou
6.934 incêndios em vegetações do Estado. As ocorrências de janeiro a
setembro já superam em 31% todos os atendimentos do ano passado (5.269).
A corporação conta com cerca de 6.300 militares. Porém, o efetivo se
divide em turnos, serviços administrativos e outras tarefas como
vistorias e resgates.
“Não se pode esquecer que, todos os anos, temos homens que cumpriram o
tempo de serviço e se aposentam. O efetivo está aquém do ideal e ainda
temos muitas cidades sem a presença desses militares”, diz o presidente
da AOPMBM, tenente-coronel Márcio Ronaldo.
Para a superintendente da Associação Brasileira de Defesa do Meio
Ambiente (Amda), Maria Dalce Ricas, há a necessidade de se criar um
batalhão específico para o combate a incêndios. “De uma forma geral, o
que há é uma cultura de defesa civil, que envolve outras atividades como
o resgate, por parte da corporação”. Segundo ela, a associação enviou,
em 2011, uma proposta ao governo do Estado para a criação do batalhão.
Enquanto a conta não fecha, o fogo segue destruindo as matas. No último
fim de semana foram 35 incêndios florestais em unidades de conservação
mineiras (UCs). Até o início de outubro foram mais de 9 mil hectares
consumidos pelas chamas só nas áreas de preservação geridas pelo
Estado.
A previsão é a de que os incêndios destruam mais que o dobro das UCs do
que foi registrado em 2013, quando 14 mil hectares de reservas
estaduais foram queimados. A estimativa é do diretor de Prevenção e
Combate a Incêndios Florestais da Secretaria de Estado de Meio Ambiente,
Rodrigo Bueno Belo.
Ele reconhece que o número de brigadistas (286) e bombeiros poderia ser
maior, mas reforça que este é um ano atípico, devido à escassez de
chuva. Além disso, Rodrigo Bueno destaca que o Estado investiu na
prevenção e no combate. Atualmente, são nove aeronaves em operação e
mais de R$ 30 milhões aplicados. “Uma força-tarefa foi montada com a
participação de Defesa Civil, polícias Civil e Militar e Corpo de
Bombeiros”, lembrou.
ROLA- MOÇA
A situação é mais grave no Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, na
Grande BH. No início da noite dessa segunda-feira (13), pelo menos dois
focos ainda estavam sendo debelados. Mais de cem homens, entre
brigadistas e bombeiros, atuaram no local. Eles usavam três air tractor e
duas aeronaves, com capacidades para 1.500 e 2 mil litros de água,
respectivamente. O incêndio chegou a provocar a queda de energia
elétrica nos bairros Jardim Canadá e Retiro das Pedras, em Nova Lima.
A reportagem entrou em contato com o Corpo de Bombeiros para repercutir
o atual efetivo da corporação, mas a informação foi a de que ninguém
poderia comentar, pois os oficiais estavam justamente empenhados nos
trabalhos de combate a incêndios.
Três peritos ambientais investigam queimadas criminosas em Minas
Enquanto aumenta o número de incêndios criminosos em unidades de
conservação e no entorno dessas áreas, a quantidade de peritos
ambientais que investigam esse tipo de ato ilegal em todo o Estado tem
diminuído. Atualmente, três profissionais estão lotados no setor de
Engenharia Legal do Instituto de Criminalística da Polícia Civil. Porém,
um está licenciado por problemas de saúde e outro entrou com pedido de
aposentadoria.
Só na capital, no ano passado, a Divisão Especializada de Proteção de
Meio Ambiente abriu 104 inquéritos para investigar incêndios criminosos
em unidades de conservação na cidade e região. Em 2014, de acordo com a
delegada Margaret Freitas, já são 321 procedimentos, entre inquéritos,
investigações preliminares e diligências. Ela não soube informar o
número de investigações concluídas.
Para o presidente do Sindicato dos Peritos Criminais no Estado
(Sindpecri), Wilton Ribeiro Sales, a apuração sobre as queimadas anda a
passos lentos por falta de um efetivo maior. “No momento há apenas um
profissional para periciar, se necessário, 70 unidades estaduais, entre
parques, estações ecológicas, áreas de proteção ambiental, reservas da
vida silvestre, monumentos naturais, reservas de desenvolvimento
sustentável e biológicas”, explicou.
A Polícia Civil não comentou o número atual de peritos nem quando um
concurso será feito para repor o quadro. Sobre as duas delegacias de
meio ambiente em Belo Horizonte, Margaret Freitas disse que um delegado
está em férias, e uma outra faz diligência no interior para checar as
questões agrárias.
Sobre os incêndios no Parque Estadual do Rola-Moça, a policial disse
que aguarda os laudos periciais. “A delegacia não tem perito próprio,
apenas investigadores, dois em cada unidade”. Segundo ela, a maioria dos
incêndios começa em julho, mas outubro é o mês mais crítico.
Apenas em novembro as chuvas vão chegar
O calor deve prevalecer em Minas nas próximas semanas. A previsão é de
chuva apenas para novembro. De acordo com o meteorologista do TempoClima
PUC Minas, Claudemir de Azevedo Félix, uma massa de ar seco bloqueia a
chegada de frentes frias ao Sudeste, impedindo as precipitações
normalmente registradas nesta época do ano.
O volume de chuva previsto para o próximo mês é de 227 milímetros,
superior ao da média histórica de anos anteriores, mas insuficiente para
suprir o atual déficit hídrico das represas no Estado.
“Devido a duas estações chuvosas secas dos anos anteriores, a próxima
não deve ser suficiente para minimizar o quadro de estiagem prolongada
que estamos sofrendo”, observou Félix.
Gear
Formado por órgãos públicos estaduais e municipais, o Grupo Executivo
de Áreas de Risco (Gear) começou nessa segunda-feira (13) a discutir
ações preventivas contra enchentes. De acordo com o prefeito Marcio
Lacerda, R$ 1 bilhão será investido nos próximos dois anos em obras para
evitar inundações.
“Essas obras ocorrem em todas as áreas de Belo Horizonte que contemplam
muitos dos 82 pontos de alagamento. A cidade vai ser preparada para,
cada vez mais, diminuir os riscos de desastre”, explicou o coordenador
municipal da Defesa Civil, coronel Alexandre Lucas Alves. As avenidas
Cristiano Machado, Prudente de Morais e Bernardo Vasconcelos estão entre
os pontos tradicionais de alagamento na cidade.
Há um ano, a capital faz parte do programa Cidades Resilientes, da
Organização das Nações Unidas (ONU). O projeto pretende estimular
cidades a desenvolver projetos que minimizem os riscos de desastres.
Casas ameaçadas pelas chamas
Nessa segunda-feira (13), os bombeiros combatiam vários incêndios em
vegetações que chegaram até a ameaçar residências da Grande BH. Em
Betim, a situação chegou a se repetir pelo menos quatro vezes ao longo
do dia. Segundo a corporação, o mais grave ocorreu na rua São Julião, no
bairro Granjas São João. O fogo teve início em uma área verde, por
volta das 13h, e só foi controlado por volta de 16h30, chamuscando as
paredes e queimando uma área de quase 10 mil metros quadrados.
Em Sabará, o fogo ameaçou imóveis no bairro Borba Gato. A mesma
situação se repetiu na rua José Cleto, no bairro Palmares (Nordeste de
BH), próximo ao Parque Ecológico Renato Azeredo, e também na mata do
Recanto, no bairro Ribeiro de Abreu (Norte).
Águas subterrâneas
Começa nesta terça-feira (14) e vai até sexta-feira (17), na capital, o
18º Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas. Os debates vão pontuar a
utilização, a extração e o uso da água. A abertura será às 18h horas,
no Minascentro.
(Com Letícia Alves e Danilo Emerich)
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