Recurso invisível
Poços clandestinos dominam
PUBLICADO EM 16/10/14 - 03h00
A seca dos rios está tirando o sono dos
mineiros, mas o que muitos não sabem é que pelo menos 70% dos municípios
do Estado recebe toda ou parte da sua água de poços, ou seja, água
subterrânea. “A maioria do municípios de Minas Gerais com população
entre 5.000 e 10 mil habitantes é 100% abastecida com água subterrânea”,
explica Carlos Alberto de Freitas, presidente da comissão organizadora
do Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas, que acontece até nesta
sexta no Minascentro, em Belo Horizonte.
De todos os poços existentes no Brasil,
estimados em cerca de 476 mil pela Agência Nacional de Águas (ANA) em
janeiro de 2013, cerca de 85% são clandestinos. “O processo de outorga é
difícil, burocrático e, além disso, é muito fácil esconder uma bomba.
Por isso não podemos falar de um número preciso de poços nos Brasil”,
explica o secretário executivo da Associação Brasileira de Águas
Subterrâneas (Abas), Everton de Oliveira.
Para que um poço não seja clandestino, tem
que receber uma outorga concedida por órgãos administrados pelos
Estados. Em Minas Gerais, quem chancela é o Instituto Mineiro de Gestão
das Águas (Igam).
Segundo a Abas, 97% da água consumível do
mundo é subterrânea. “Toda água mineral é subterrânea. Toda cerveja no
Brasil é feita com água subterrânea”, comenta Oliveira.
Mesmo com um número grande de postos sem
fiscalização, os maiores usuários da água subterrânea, como as
companhias de abastecimento, empresas e grandes agricultores, estão em
situação regular. “O volume de água outorgado, certamente, é maior do
que o clandestino. Talvez a situação do volume seja até o contrário,
pelo menos 80% está regularizado”, afirma Fabrício Cardoso, especialista
em recursos hídricos da ANA.
A utilização da água de poço acontece,
principalmente porque se trata de um processo mais barato. “Onde tem
água subterrânea, ela é mais econômica de aduzir, tratar e distribuir”,
explica o consultor em águas subterrâneas Ivanir Borella Mariano. Ele
explica que a qualidade da água subterrânea é, na maioria das vezes,
superior à da água superficial. “Muitas vezes ela é só clorada para
distribuição, já vem potável da natureza”, avalia.
Carlos Freitas reitera que em Minas Gerais
vários aquíferos, os reservatórios de água que estão abaixo do solo, são
utilizados. “Estão abastecendo várias cidades, entre elas Curvelo, Sete
Lagoas, Timóteo, Ipatinga e Coronel Fabriciano”, afirma.
Outra vantagem é que a água subterrânea não
se afeta tanto com a seca. “As águas superficiais somem, o lençol
freático, que abastece os rios e fontes, também diminui, mas a água
subterrânea é pouco afetada”, diz Ivanir Mariano. Segundo o consultor,
que mora em São Paulo, 70% dos municípios de lá são abastecidos por
aquíferos. “A falta de água no Estado é consequência de exploração
inadequada e, principalmente, pela falta de reservatório”.
Exposição
Fundo do poço. A
exposição “Venha conhecer o fundo do poço – de onde vem a água que você
bebe” está na praça da Liberdade até domingo, para divulgar a
utilização da água subterrânea.
Cantareira
Quase seca. O sistema Cantareira operava nesta quarta com
apenas 4,3% de sua capacidade. No mesmo período no ano passado o
reservatório funcionava com 38,3% de sua capacidade.
SP tem água até novembroSão Paulo. A presidente da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), Dilma Pena, afirmou nesta quarta que a água vai acabar na cidade de São Paulo “em meados de novembro” caso o regime de falta de chuvas se mantenha. Ela conta, no entanto, com a volta das chuvas após o dia 20 e com obras para a captação da segunda cota do volume morto no sistema Cantareira.
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