Leonardo Morais/Hoje em Dia
PM em governador valadares
Em Valadares, movimento de policiais de cidades da região é maior nos fins de semana

Aposta do Estado para reduzir o deslocamento de policiais militares de um município a outro para registrar ocorrência nas delegacias regionais no plantão, o sistema de videoconferência ainda não se tornou realidade em Minas Gerais. Integrante do Pacto Contra a Impunidade, lançado há um ano pelo governo, a proposta que deveria ser imediata não foi implantada. Se depender da experiência em localidades que chegaram a usar a plataforma, ela não deve ir para frente. 
 
Em Governador Valadares, no Leste de Minas, por exemplo, o projeto foi abortado em 2014 porque o sinal ruim dificultava ao delegado tomar o depoimento de suspeitos, vítimas e testemunhas. “Só vai funcionar onde há sinal eficiente, inexistente em cidades mais distantes. Imagine Skype em Porteirinha, por exemplo”, frisou o presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de Minas Gerais (Sindepominas), Marco Antônio de Paula Assis.
 
Para a Associação dos Praças Policiais e Bombeiros Militares (Aspra), o ideal seria abrir novamente as delegacias para o plantão, como era até 2011 quando o serviço noturno e nos fins de semana e feriados virou regionalizado. 
 
Outra forma de resolver em parte o problema, de acordo com o presidente da entidade, sargento Marco Bahia, é permitir ao militar registrar o Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO), atribuição hoje restrita ao delegado. 
 
“Cerca de 85% dos boletins referem-se a crimes com penas de até dois anos, como briga de casal e furtos simples. O TCO pelo militar reduziria esse deslocamento”, afirmou Bahia.
 
A proposta é avaliada pela Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) e pelas polícias Civil e Militar. Mas o registro do termo por militares é polêmico. “Pela lei, todo crime deve ser levado ao delegado, que avalia a necessidade de prisão em flagrante, abertura de inquérito ou fiança”, justificou o presidente do Sindepominas.
 
Ausência
 
Enquanto o impasse não é resolvido, a população teme pela segurança. Pintópolis, no Norte de Minas, fica sem policiamento quando os militares precisam levar ocorrência até o plantão em Januária, a 230 quilômetros. Seis policiais revezam na patrulha na cidade, divididos por turnos.
 
O comerciante Erly Durães afirma que os dois bancos da cidade já foram assaltados ao menos oito vezes. 
 
“Criminosos viram a facilidade que é agir aqui. Mas a quem vamos recorrer para resolver?”. A Polícia Civil não respondeu aos questionamentos do Hoje em Dia até o fechamento desta edição.
 
‘Teledelegado’ evita deslocamento de militares até Governador Valadares, no Leste do Estado
 
Com o abandono do Plantão Virtual, policiais de Governador Valadares, no Leste do Estado, criaram por si um sistema de triagem – apelidado pelos agentes de “teledelegado” – que está evitando o deslocamento de militares de outras cidades até a delegacia regional no município. Há casos em que policiais percorrem cerca de 160 quilômetros para encerrar a ocorrência por lá.
 
De acordo com uma fonte ligada à polícia em Valadares, quando há uma ocorrência que pode gerar deslocamento, os policiais ligam para o delegado plantonista que avalia a situação. Geralmente, os “que podem ficar para o dia seguinte” são brigas entre casais, sem lesão e interesse do agredido de prestar queixa. 
 
Para depois
 
Nesse caso, o boletim de ocorrência é registrado e os envolvidos liberados após o compromisso de se apresentarem posteriormente. Na manhã seguinte ou na volta das atividades, o delegado da cidade abre o inquérito para investigação.
 
Com a medida, o movimento de militares dos municípios do Leste do Estado no plantão em Governador Valadares caiu 50%, garante a fonte.
 
“Quando tem que conduzir não tem jeito. Preocupado em deixar a cidade sem segurança, o colega até liga para outro que já está aqui pedindo para ser colocado na ‘fila’ e, assim, não esperar muito. Ele sabe que vai extrapolar as horas de trabalho”, contou um militar que pediu anonimato. 
 
A delegada regional Luzinete Maria de Sá não foi encontrada para comentar o assunto.