terça-feira, 1 de setembro de 2015

O governo é até otimista

José Antônio Bicalho
José Antônio Bicalho
jleite@hojeemdia.com.br
   

01/09/2015

Mas o ajuste fiscal não era para acabar com o déficit? Acontece que a proposta de Lei Orçamentária Anual (Ploa), enviada nessa segunda pelo governo ao Congresso, prevê que as contas públicas fecharão o próximo ano com um buraco de R$ 30,5 bilhões, o equivalente a algo próximo de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Mas isso apenas se a economia crescer o 0,2% estimado no mesmo documento. Se a economia encolher, o que já é esperado pelo mercado, então a arrecadação também cairá, aumentando o déficit primário. E com a economia menor e o déficit maior, a relação de equivalência com o PIB também aumentará significativamente.
 
Pelo correr da carruagem, a previsão do governo é até otimista. Vejam: o déficit primário de 2014, o primeiro em muitos anos, foi de R$ 32,5 bilhões, o equivalente a 0,59% do PIB. Apenas três meses depois, em março deste ano, o déficit acumulado em 12 meses já havia subido para R$ 39,2 bilhões, ou 0,70% do PIB. Mais três meses e o déficit acumulado em 12 meses até junho deu novo salto, para R$ 45,7 bilhões, ou 0,82% do PIB. Mais um mês e em julho o déficit foi a R$ 51,0 bilhões, ou 0,89% do PIB. Ninguém mais acredita que o governo cumprirá a meta de superávit de 0,15% do PIB no fechamento deste ano. Pelo contrário, espera-se um déficit pesado, já que a curva de crescimento do rombo ainda não se inverteu. E porque seria diferente no próximo ano? O que leva o governo a crer que acumulará em 2016 um déficit menor que o de hoje?
 
O governo conta com uma melhora do ambiente político e de suas relações com o Congresso para fazer valer propostas para o aumento da arrecadação (leia-se aumento de impostos) e cortes de investimentos. Resolver o problema do déficit exigiria mexer nos gastos obrigatórios da União, aqueles que são determinados por lei, como os percentuais de receita a serem investidos em saúde e educação. Pode ser que o governo consiga, mas as mudanças só valeriam para 2017. Por hora, corta-se nos investimentos (dos R$ 22,269 bilhões em despesas de investimentos empenhadas para os primeiros sete meses do ano, foram executados apenas R$ 7,566 bilhões).
 
E como mostrei na coluna da última sexta-feira (“Está errado e precisa mudar”, que pode ser lida no portal do Hoje em Dia), os cortes factíveis do orçamento são os investimentos dos ministérios em obras, infraestrutura e projetos, que tem a capacidade de dinamizar toda a economia. Sem eles, a economia desacelera e a arrecadação cai, gerando mais déficit e necessidade de mais enxugamento de gastos.
 
A lógica atual é limar os gastos do governo até colocá-los num degrau abaixo da arrecadação. Até lá, o mergulho recessivo é inevitável. Mais que isso, a recessão é planejada, prevista e aguardada. O encolhimento da economia (e seus reflexos de desemprego e queda do poder de compra das famílias) é componente estruturador da atual política econômica. Poderia ser diferente? Sim, mas não na perspectiva do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, formado dentro do pensamento da ultraortodoxa Escola de Chicago.
 
E no próximo ano ainda teremos que enfrentar (é quase inevitável) o rebaixamento do Brasil para grau especulativo de investimento pelas agências de rating. O que fazer? O Cruzeiro (Esporte Clube), que nessa segunda colocou para fora o técnico Vanderlei Luxemburgo, mostrou o que fazer diante de uma ameaça de rebaixamento.

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