Descoberta
Quantidade de alimento que ingerimos é controlada pelas necessidades de um ser microscópico
PUBLICADO EM 27/11/15 - 04h00 - O Tempo
Paris, França.
Bactérias presentes no intestino poderiam regular a quantidade de
comida que nós ingerimos produzindo as proteínas que enviam um sinal
para o cérebro após as refeições, segundo um estudo conduzido por
pesquisadores do Inserm e da Universidade de Rouen, na França.
“O modelo atual de regulação do apetite
envolve hormônios do intestino que alertam os neurônios quando temos
fome ou quando estamos saciados. Pela primeira vez, a influência das
proteínas bacterianas na emissão de sinais do intestino para o cérebro
foi observada”, explica em nota o Instituto Nacional Francês da Saúde e
da Pesquisa Médica (Inserm).
Relação. “Inúmeros estudos tentam
compreender a relação entre bactérias intestinais e obesidade. Mas, até
agora, não sabíamos quais delas poderiam ser boas ou ruins para combater
a doença”, explica Serguei Fetissov, principal pesquisador do estudo,
publicado nesta semana na revista especializada norte-americana “Cell
Metabolism”.
Seus trabalhos mostram que as proteínas
bacterianas secretadas pelas bactérias Escherichia coli (E. coli) 20
minutos após uma refeição podem ser usadas para alertar sobre a sensação
de saciedade.
O estudo foi conduzido em ratos, mas “o que
nos faz pensar que essa possibilidade se aplica ao homem é a presença
dessas mesmas bactérias E. coli” no organismo humano, diz Fetissov.
Ele ressaltou que os estudos anteriores
centravam-se apenas em bactérias presentes em grande quantidade,
deixando de lado as bactérias E. coli, que representam menos de 1% da
flora intestinal.
“Apenas um estudo de uma equipe de Marselha
(sul da França) havia mostrando que existiam mais bactérias E. coli nas
pessoas com menor peso ou anoréxicas do que nas pessoas obesas”, contou.
Teste em humanos. Após os
testes realizados em ratos, passa-se para a segunda fase da pesquisa,
com experimentos em humanos. “Agora é importante determinar se as
pessoas obesas têm essas boas bactérias capazes de produzir proteínas
que atuam sobre o cérebro, produzindo a sensação de saciedade”, observa
Fetissov.
“O nosso estudo mostra que as proteínas
provenientes da E. coli podem estar envolvidas nas mesmas vias
moleculares que são utilizadas pelo organismo para emitir o sinal de
saciedade. Agora, nós precisamos saber como o microbioma intestinal
alterado pode afetar essa fisiologia”, completa o pesquisador.
Uma das possíveis aplicações da novidade é o
tratamento em pessoas obesas. E, além disso, entendendo melhor essa
relação do corpo humano com as bactérias nele presentes, a ciência
poderá desvendar comportamentos como a compulsão alimentar e outros
distúrbios.
“Caso as pessoas obesas não as tenham ou não
as tenham em quantidade suficiente no organismo, temos boas razões para
acreditar que é possível tratá-las com probióticos – ou bactérias de
substituição. Administrados por via oral, os probióticos agem no nível
do intestino e seriam uma ativação por via natural”, ressaltou.
Cuidado com a compulsão
Comer demais é um problema que a maioria das pessoas enfrenta,
principalmente em fins de semana ou eventos especiais. Mas há aqueles
que sempre se descontrolam na frente da comida, mesmo sem fome.
Resultado: passam mal ou se sentem culpados. O assalto à geladeira
durante a noite também é característica da compulsão alimentar, um
problema que atinge até 4% da população geral e 6% dos obesos, segundo
dados da Associação Americana de Psiquiatria. Como consequência, 75% das
pessoas com esse distúrbio ganham muito peso, pois consomem mais
calorias do que precisam, principalmente na forma de doces e gorduras.Comer com calma ajuda a emagrecer
Quando estamos com muita fome, o primeiro impulso é comer tudo o que vem pela frente e repetir em seguida – sem falar na sobremesa. O problema é que o cérebro leva cerca de 20 minutos, a partir da primeira garfada, para registrar que o estômago está cheio. Portanto, quanto mais rápido você se alimentar, mais tenderá a comer e a engordar.
Dicas. A tendência é que façamos a refeição mais rapidamente quando não priorizamos a hora da refeição. Então, se a ideia é tentar ajustar a quantidade de alimento, a primeira dica da nutricionista Júnia Albergaria é ajustar seu horário e separar pelo menos de 20 a 30 minutos para cada refeição.
“Assim, será possível mastigar e saborear sua comida em um ritmo mais calmo”, diz ela. “Se for o caso, use um timer para se certificar de que você está seguindo o seu objetivo”, completa ela.
Segundo a especialista, a ordem dos alimentos também influencia o processo de emagrecimento – por isso é melhor começar pela salada. “Sempre que possível, inicie a refeição com folhas e uma fonte de proteína, que aumentam a sensação de saciedade mais rápido que alimentos ricos em carboidratos”.
Outra dica da especialista é fugir de alimentos ou bebidas com alto teor de açúcar. “Quanto mais alto o nível dessa substância no sangue, mais insulina é liberada pelo pâncreas para retirar esse excesso da corrente sanguínea. Esse processo pode desencadear sintomas parecidos com os de hipoglicemia, ou seja, açúcar de menos no organismo, logo mais fome”.
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