segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Caminhoneiros vão para a greve, mas não querem negociar com o governo

Manifestações

Segundo Ivar Schmidt, a luta da categoria é pela renúncia da presidente Dilma

Sob a liderança de uma organização chamada Comando Nacional do Transporte e sem a participação de nenhuma entidade formal da categoria, os caminhoneiros pretendem cruzar os braços a partir da próxima segunda-feira, dia 9. Mas não querem negociar propostas com o atual governo. A ideia, segundo Ivar Schmidt, um dos expoentes do grupo, é obter a renúncia da presidente Dilma Rousseff (PT). “Nossa categoria pretende negociar com o próximo governante”, afirmou ele à Carga Pesada.

Mobilizando-se pelas redes sociais e pelo WhatsApp, os líderes do movimento se juntaram a organizações que pedem o fim do governo do PT, como Movimento Brasil Livre e Vem pra Rua. E estão sendo criticados pelos sindicatos de caminhoneiros, que os acusam de estarem a serviço de interesses políticos partidários. “Consideramos imoral e repudiamos qualquer mobilização que se utilize da boa-fé dos caminhoneiros autônomos para promover o caos no País e pressionar o governo em prol de interesses políticos ou particulares, que nada têm a ver com os problemas da categoria”, afirma o presidente da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), Diumar Bueno, em nota publicada no site da entidade.

Schmidt, morador de Mossoró (RN), rebate. “Eu gostaria que apresentassem provas do que me acusam. Não sou filiado a qualquer partido político. Não tenho intenção de me envolver em política, pelo menos não nesse primeiro momento.” Ele devolve a acusação: “O que estou tentando fazer é tirar uma categoria do buraco, coisa que eles deviam estar fazendo. Acho estranho esse comportamento conjunto dos sindicatos e federações. Dá a entender que existe uma força misteriosa que os move”, diz ele em referência às notas publicadas pelas entidades contrárias ao movimento.

Para o transportador, os sindicatos estão “praticamente subordinados ao governo”. “Têm medo de perder regalias”, acusa. Schmidt diz que as entidades não têm representatividade perante a categoria. “Se você for a uma rodovia e perguntar se o sindicato representa eles, vai ver que 95% ou mais vão dizer que não. Estão dizendo que eu estou querendo usar a categoria. Eu pergunto: quem usa a categoria é quem quer tirar ela do buraco ou quem bota ela no buraco?”, questiona.

O presidente da CNTA discorda. “Os caminhoneiros há muito vêm construindo a sua organização de representação sindical. Não podemos admitir agora que pessoas estranhas, sem histórico algum de representação da categoria, utilizem-se do respeito que o  caminhoneiro conquistou junto à opinião pública pela força e importância que exercem na economia do País”, declara.

Ele ressalta que os caminhoneiros hoje podem contar com o Fórum Permanente do Transporte Rodoviário de Cargas, que foi criado “para ser um canal aberto e direto do setor de transportes com a inovação de estar conjuntamente sendo representado por caminhoneiros autônomos, empresas de transporte de cargas, embarcadores e governo”. E que a CNTA abriga seis federações e mais de 100 sindicatos de caminhoneiros autônomos de todo o País.
 
Renúncia

Para Ivar Schmidt, a paralisação dos caminhoneiros a partir do dia 9 se justifica porque a situação política e econômica do Brasil está muito ruim. E só vai melhorar com a renúncia do atual governo. Mas, ele também quer a saída do vice-presidente, Michel Temer (PMDB), e dos presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB), e da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB). “E, se não der certo, e isso caminhar para uma intervenção militar – e eu acho isso uma coisa grotesca, brutal – também não é ruim, apesar de não apoiar.”

Questionado sobre a aparente contradição de dizer que não apoia, mas não acha ruim, ele responde: “Se caminhar para isso (intervenção militar), por mim não tem problema nenhum. Do jeito que está, não pode ficar. Temos de moralizar a política. Tem de ir por bem ou por mal. É minha opinião”, declara. O líder diz que não se refere a uma ditadura, mas a uma “intervenção constitucional”. De acordo com ele, a Constituição Brasileira permite uma intervenção temporária das Forças Armadas, com “prazos para serem cumpridos”. 

Questionado sobre a orientação que o comando dá aos caminhoneiros para a segunda-feira, ele responde que é para eles ficarem em casa. A organização, de acordo com o líder, não orienta ninguém a fazer bloqueio de estradas. Mas deixa à vontade “quem quiser fazer”.

A CNTA é contra as interdições das estradas. “É importante registrar as graves consequências que um bloqueio de rodovias traz tanto para os transportadores que delas se utilizam, como para a sociedade em geral. É incalculável o prejuízo econômico, social e pessoal que esse tipo de atitude traz”, ressalta Bueno. Ele diz que a categoria foi consultada pela entidade e, neste momento, “manifesta sua necessidade de trabalhar e não de paralisar.” “A CNTA e as entidades que a compõe, federações e sindicatos, optam pela defesa dos interesses dos caminhoneiros, por meio do diálogo e negociação com o governo federal e setor privado”, afirma a nota assinada por Diumar Bueno.


Fonte: Editorial, por Nelson Bortolin, via Revista Carga Pesada

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