Manifestações |
Sob
a liderança de uma organização chamada Comando Nacional do Transporte e
sem a participação de nenhuma entidade formal da categoria, os
caminhoneiros pretendem cruzar os braços a partir da próxima
segunda-feira, dia 9. Mas não querem negociar propostas com o atual
governo. A ideia, segundo Ivar Schmidt, um dos expoentes do grupo, é
obter a renúncia da presidente Dilma Rousseff (PT). “Nossa categoria
pretende negociar com o próximo governante”, afirmou ele à Carga Pesada.
Mobilizando-se
pelas redes sociais e pelo WhatsApp, os líderes do movimento se
juntaram a organizações que pedem o fim do governo do PT, como Movimento
Brasil Livre e Vem pra Rua. E estão sendo criticados pelos sindicatos
de caminhoneiros, que os acusam de estarem a serviço de interesses
políticos partidários. “Consideramos imoral e repudiamos qualquer
mobilização que se utilize da boa-fé dos caminhoneiros autônomos para
promover o caos no País e pressionar o governo em prol de interesses
políticos ou particulares, que nada têm a ver com os problemas da
categoria”, afirma o presidente da Confederação Nacional dos
Transportadores Autônomos (CNTA), Diumar Bueno, em nota publicada no
site da entidade.
Schmidt,
morador de Mossoró (RN), rebate. “Eu gostaria que apresentassem provas
do que me acusam. Não sou filiado a qualquer partido político. Não tenho
intenção de me envolver em política, pelo menos não nesse primeiro
momento.” Ele devolve a acusação: “O que estou tentando fazer é tirar
uma categoria do buraco, coisa que eles deviam estar fazendo. Acho
estranho esse comportamento conjunto dos sindicatos e federações. Dá a
entender que existe uma força misteriosa que os move”, diz ele em
referência às notas publicadas pelas entidades contrárias ao movimento.
Para
o transportador, os sindicatos estão “praticamente subordinados ao
governo”. “Têm medo de perder regalias”, acusa. Schmidt diz que as
entidades não têm representatividade perante a categoria. “Se você for a
uma rodovia e perguntar se o sindicato representa eles, vai ver que 95%
ou mais vão dizer que não. Estão dizendo que eu estou querendo usar a
categoria. Eu pergunto: quem usa a categoria é quem quer tirar ela do
buraco ou quem bota ela no buraco?”, questiona.
O
presidente da CNTA discorda. “Os caminhoneiros há muito vêm construindo
a sua organização de representação sindical. Não podemos admitir agora
que pessoas estranhas, sem histórico algum de representação da
categoria, utilizem-se do respeito que o caminhoneiro conquistou junto à
opinião pública pela força e importância que exercem na economia do
País”, declara.
Ele
ressalta que os caminhoneiros hoje podem contar com o Fórum Permanente
do Transporte Rodoviário de Cargas, que foi criado “para ser um canal
aberto e direto do setor de transportes com a inovação de estar
conjuntamente sendo representado por caminhoneiros autônomos, empresas
de transporte de cargas, embarcadores e governo”. E que a CNTA abriga
seis federações e mais de 100 sindicatos de caminhoneiros autônomos de
todo o País.
Renúncia
Para
Ivar Schmidt, a paralisação dos caminhoneiros a partir do dia 9 se
justifica porque a situação política e econômica do Brasil está muito
ruim. E só vai melhorar com a renúncia do atual governo. Mas, ele também
quer a saída do vice-presidente, Michel Temer (PMDB), e dos presidentes
do Senado, Renan Calheiros (PMDB), e da Câmara dos Deputados, Eduardo
Cunha (PMDB). “E, se não der certo, e isso caminhar para uma intervenção
militar – e eu acho isso uma coisa grotesca, brutal – também não é
ruim, apesar de não apoiar.”
Questionado
sobre a aparente contradição de dizer que não apoia, mas não acha ruim,
ele responde: “Se caminhar para isso (intervenção militar), por mim não
tem problema nenhum. Do jeito que está, não pode ficar. Temos de
moralizar a política. Tem de ir por bem ou por mal. É minha opinião”,
declara. O líder diz que não se refere a uma ditadura, mas a uma
“intervenção constitucional”. De acordo com ele, a Constituição
Brasileira permite uma intervenção temporária das Forças Armadas, com
“prazos para serem cumpridos”.
Questionado
sobre a orientação que o comando dá aos caminhoneiros para a
segunda-feira, ele responde que é para eles ficarem em casa. A
organização, de acordo com o líder, não orienta ninguém a fazer bloqueio
de estradas. Mas deixa à vontade “quem quiser fazer”.
A
CNTA é contra as interdições das estradas. “É importante registrar as
graves consequências que um bloqueio de rodovias traz tanto para os
transportadores que delas se utilizam, como para a sociedade em geral. É
incalculável o prejuízo econômico, social e pessoal que esse tipo de
atitude traz”, ressalta Bueno. Ele diz que a categoria foi consultada
pela entidade e, neste momento, “manifesta sua necessidade de trabalhar e
não de paralisar.” “A CNTA e as entidades que a compõe, federações e
sindicatos, optam pela defesa dos interesses dos caminhoneiros, por meio
do diálogo e negociação com o governo federal e setor privado”, afirma a
nota assinada por Diumar Bueno.
Fonte: Editorial, por Nelson Bortolin, via Revista Carga Pesada |
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