quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Fórum onde Lula iria depor é palco de confronto em São Paulo

Grupos ligados ao PT e manifestantes contrários ao partido entraram em conflito. Houve trocas de pedradas e agressões

Por: Eduardo Gonçalves - Atualizado em
Manifestantes a favor e contra o ex-presidente Lula em frente ao Fórum Criminal da Barra Funda, na Zona Oeste da cidade de São Paulo
Manifestantes a favor e contra o ex-presidente Lula em frente ao Fórum Criminal da Barra Funda, na Zona Oeste da cidade de São Paulo(Veja.com/Eduardo Gonçalves/VEJA)
A frente do Fórum Criminal da Barra Funda, na Zona Oeste de São Paulo, se tornou nesta quarta-feira palco de confronto entre apoiadores do ex-presidente Lula e grupos contrários a ele e ao governo petista. Lula e sua mulher, Marisa Letícia, haviam sido intimados para depor nesta manhã na investigação sobre seu tríplex no Guarujá, litoral paulista, mas uma liminar concedida na noite de ontem paralisou o inquérito, como revelou a coluna Radar.
A Polícia Militar chegou a separar os dois grupos com grades, mas a medida não foi suficiente para evitar o conflito, que teve incício quando os movimentos anti-PT tentaram inflar um boneco Pixuleco. Em maior número, os integrantes de movimentos ligados ao PT - como CUT, Juventude do PT e MST - arremessaram ovos no grupo opositor, que revidou com pedras. Em pouco tempo, os dois grupos se agrediam a pedradas. Também houve troca de xingamentos, empurra-empurra e agressões físicas. A Avenida Doutor Abraão Ribeiro está bloqueada.
Os manifestantes ligados ao PT chegaram ao Fórum da Barra Funda em ônibus fretados e trouxeram carros de som. Os sindicatos organizaram verdadeiras excursões ao local, com grande aparato técnico e um volume considerável de manifestantes. Há pessoas de outros Estados, como Bahia e Mato Grosso do Sul. Já os manifestantes contrários ao governo presentes ao local eram, na grande maioria, de grupos intervencionistas.
O depoimento desta quarta se daria no âmbito das investigações do MP paulista que apuram suspeitas de desvio de recursos da Bancoop para o caixa do PT. Também estavam marcados para hoje à tarde os depoimentos do engenheiro da OAS Igor Pontes e do ex-presidente da empreiteira Léo Pinheiro: a construtora assumiu as obras no condomínio onde fica o tríplex após a falência da Cooperativa Habitacional dos Bancários - e fez modificações no apartamento para agradar os Lula da Silva. O zelador do condomínio Solaris afirmou a VEJA que Pontos e Pinheiro acompanharam Marisa Letícia em uma visita ao tríplex. "O seu Igor, da OAS, um dia pediu para a gente falar que o apartamento não pertencia ao Lula. Eles sempre disseram para a gente que o apartamento não era do Lula".
Os promotores investigam a quem de fato pertence o tríplex de 297 metros quadrados, com vista para o mar. Em entrevista a VEJA, o promotor Cásio Conserino disse que há "fortes elementos, provas documentais e testemunhais" que mostram que o ex-presidente e a sua mulher foram contemplados com o apartamento, reformado "cuidadosamente" pela OAS. Com base nos indícios, o promotor pretende denunciar o casal por ocultação de patrimônio, uma das modalidades do crime de lavagem de dinheiro. A OAS teria se portado como "laranja" de Lula, passando-se por proprietária do apartamento. "Lula e Marisa são, por enquanto, investigados. Eles foram beneficiados pela relação com Léo Pinheiro, o presidente da empreiteira. Enquanto centenas de mutuários da Bancoop ficaram sem os imóveis, Lula e dona Marisa foram contemplados pela OAS com um apartamento luxuoso. Tudo numa operação cuidadosamente arquitetada para ocultar essa triangulação", afirmou Conserino à revista.
Pouco depois da reportagem de VEJA, o Instituto Lula divulgou nota na qual nega que o ex-presidente fosse dono do apartamento, mas admite que ele e a ex-primeira dama fizeram visitas ao local. O texto diz que a família Lula avaliava comprar a unidade, mas desistiu do negócio, "mesmo tendo sido realizadas reformas e modificações no imóvel (que naturalmente seriam incorporadas ao valor final da compra)" por causa de "notícias infundadas, boatos e ilações que romperam a privacidade necessária ao uso familiar do apartamento". Os promotores fizeram três questionamentos à nota do instituto. "Por que Lula e a mulher, Marisa Letícia, demoraram seis anos para pedir a restituição dos valores pagos? Como a família presidencial vai solicitar a restituição da Bancoop e não da OAS, e o faz coincidentemente quando os fatos vieram à tona? Por que a OAS arcou com o pagamento de uma reforma de quase 1 milhão de reais, sem um comprador pré-reservado?".

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