quarta-feira, 16 de março de 2016

Lula diz a Dilma que não precisa de foro privilegiado

16/03/2016 06:24 - Atualizado em 16/03/2016 06:24

Estadão Conteúdo


Valter Campanato/Agência Brasil
Dilma e Lula
Presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse à presidente Dilma Rousseff, na noite desta terça-feira (15), que precisa amarrar todas as pontas com o PMDB antes de decidir se assume ou não a Secretaria de Governo. Dilma e Lula voltarão a se reunir nesta quarta-feira (16), em café da manhã no Palácio da Alvorada.

Na conversa de ontem, que durou quatro horas e meia, Lula mostrou dúvidas sobre a entrada na equipe e contou ter sido informado por integrantes do PMDB de que sua presença no ministério, nesse momento, não daria "governabilidade plena" a Dilma nem teria o condão de, por si só, barrar o impeachment.

Antes de dar a resposta definitiva, porém, Lula disse que vai sondar novamente o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). As ponderações do ex-presidente deixaram Dilma e os ministros Jaques Wagner (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) surpresos. Horas antes do jantar no Alvorada, Lula havia dito a amigos que aceitaria assumir a Secretaria de Governo. "Quero saber o que ela espera de mim", afirmara.

Apesar dos senões, ministros ainda avaliam que Lula pode aceitar o convite de Dilma. A ideia é que, além de cuidar da articulação política do governo com o Congresso, na ofensiva contra o impeachment, ele fique responsável pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.

O Conselhão, como é conhecido, foi montado em 2003, no primeiro mandato de Lula, reunindo representantes do governo, de sindicatos, movimentos sociais e empresários. Acabou, porém, abandonado por Dilma.

'Não preciso disso'

Durante o jantar, Lula não escondeu o incômodo com notícias dando conta de que ele quer entrar no governo para fugir do juiz Sérgio Moro. "Eu não preciso disso, a esta altura da vida", disse o ex-presidente. "Minha defesa eu mesmo faço."

Se for para o ministério, Lula ganha foro privilegiado de julgamento. Isso significa que, em caso de denúncia criminal, uma ação contra ele terá de ser julgada pelo Supremo Tribunal Federal, saindo da alçada de Moro, que conduz a Operação "Lava Jato" na primeira instância.

Lula é alvo da "Lava Jato" e, além disso, Moro será o encarregado de decidir se aceita ou não o pedido de prisão preventiva contra ele, apresentado pelo Ministério Público de São Paulo, que o acusa de ocultar um tríplex no Guarujá, reformado pela OAS.

Dobradinha

Na proposta de reformulação da equipe apresentada na noite de ontem a Lula, Berzoini atuaria em dobradinha com ele e seria deslocado para a secretaria executiva do ministério.

O ex-presidente condicionou a entrada na equipe a uma espécie de carta branca para mudar os rumos do governo e até mesmo a política econômica. A deputados e senadores do PT, Lula chegou a afirmar que a salvação de Dilma depende de uma guinada na economia.

Assustado com o tamanho dos protestos de domingo passado, os maiores da história do País, e com a atual debandada dos aliados, principalmente do PMDB, Lula avalia que o governo e o PT precisam anunciar medidas para o "andar de baixo" porque só isso impedirá a queda da presidente.



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