segunda-feira, 14 de março de 2016

Protestos voltam maiores e ampliam pressão sobre Dilma

Manifestações

Atos registraram adesão histórica de 3 milhões de pessoas e dão fôlego ao impeachment


BRAZIL-CORRUPTION-PROTEST
Nas ruas. Multidão toma a avenida Paulista, em São Paulo, no maior protesto político da história
PUBLICADO EM 14/03/16 - 03h00
O agravamento das crises política e econômica, a maior organização e os desdobramentos recentes da operação Lava Jato fizeram com que as manifestações contra a corrupção e o governo Dilma Rousseff (PT) voltassem com força em todo o país. Os protestos se ampliaram ontem e levaram 3 milhões de pessoas nas ruas em mais de 200 cidades, de acordo com estimativas das polícias militares. Em São Paulo, tradicionalmente palco das maiores manifestações, pelo menos 500 mil pessoas, de acordo com o Datafolha, e 1,4 milhão, segundo a PM, protestaram, o que, em qualquer dos casos, representa o maior ato político já realizado na cidade, superando até mesmo a principal movimentação da campanha das “Diretas Já”, ocorrida em 1984.
Em Belo Horizonte, o público superou as grandes manifestações de março de 2015. A quantidade de pessoas protestando na praça da Liberdade passou de 25 mil para 30 mil em um ano. Em relação ao ato de dezembro, havia dez vezes mais gente no local ontem.
No governo, apesar da reação aliviada pela ausência de confrontos, o que era a maior preocupação, acendeu-se uma luz amarela. O temor é de que a elevação da temperatura nas ruas possa contribuir com um já visível processo de deterioração na pouco fiel base de sustentação no Congresso.
O governo calculava já ter os 172 votos necessários para se livrar da abertura de um processo de impeachment na Câmara, mas o cenário começou a mudar perigosamente nos últimos dias, com sinalizações sobretudo no PMDB, que promete abandonar o Planalto. A imediata avaliação ontem entre os assessores da presidente era que, com mais gente na rua, ficará mais difícil convencer os aliados menos históricos a permanecerem em um barco cada vez mais bombardeado.
Uma situação tão crítica fez com que o governo evitasse entrevistas coletivas e soltasse uma curta nota defendendo o respeito à “liberdade de manifestação”.
Os efeitos práticos começarão a ser medidos já nesta semana, quando o Congresso retoma a análise do pedido de impeachment, o que deve acontecer na quinta-feira, dia seguinte à análise de recursos da Casa no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o rito do processo.
Foco. Nos protestos de ontem, ficou visível a influência dos acontecimentos das últimas semanas, relacionados às investigações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nos âmbitos da Lava Jato e do Ministério Público de São Paulo. Diversas referências ao triplex e ao sítio em Atibaia, atribuídos ao petista, foram vistas por todo o país.
Mas nenhuma foi tão clara como os apoios recebidos pelo juiz federal Sérgio Moro, de longe a imagem mais utilizada nos protestos. Desde a condução coercitiva determinada pelo magistrado do Paraná no dia 4 de março, partidários do ex-presidente e algumas personalidades do meio jurídico fazem críticas ao responsável pela operação Lava Jato.
A própria fala do ex-presidente de que “a jararaca está viva” acabou servindo como mote para a insatisfação. Referências à cobra foram mais frequentes até mesmo que o boneco Pixuleko em alguns lugares.
Tanto apoio a Sérgio Moro motivou até mesmo uma nota do juiz federal. Nela, o magistrado afirma que ficou “tocado pelo apoio às investigações da assim denominada operação Lava Jato”, mas dividiu os méritos pelo sucesso da ação.
“Apesar das referências ao meu nome, tributo a bondade do povo brasileiro ao êxito até o momento de um trabalho institucional robusto que envolve a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e todas as instâncias do Poder Judiciário”.
Políticos. Se Moro foi exaltado, políticos da oposição não tiveram necessariamente vida fácil nos atos. Em diversas cidades, parlamentares críticos ao governo, que convidaram para os protestos, engrossaram o movimento, mas em diversas situações houve críticas e vaias dirigidas a eles.
Apesar disso, pouquíssimas faixas ou cartazes faziam referência às denúncias contra os políticos de partidos não alinhados ao Palácio do Planalto.
O senador Aécio Neves (PSDB), que pela manhã foi exaltado por um grupo na praça da Liberdade, em Belo Horizonte, ouviu ofensas ao chegar, junto com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), ao ato da avenida Paulista. A ex-petista Marta Suplicy (PMDB), no mesmo local, e o pastor Silas Malafaia, em Brasília, também foram hostilizados, mostrando que, pelo menos para parte dos manifestantes, a insatisfação tem caráter mais geral.

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