quarta-feira, 20 de abril de 2016

Um presidente Michel Temer

Editorial / 20/04/2016 - 06h00

Editorial1Um projeto para o Brasil, concluído em outubro do ano passado, já dava mostras de uma mudança bastante significativa na direção da política econômica do país. “Ponte para o Futuro”, contendo as propostas de governo do vice-presidente Michel Temer, antecipava a postura que ele só tomaria depois: de se contrapor à presidente Dilma Rousseff. Ou seja, o vice fez seu dever de casa em prol da própria carreira, num momento em que aparentava estar ainda do lado da petista e nem tinha certeza da aprovação do impeachment pela Câmara dos Deputados.
Claro que Temer tem o apoio do empresariado e, não por acaso, deve abrigar na sua equipe de governo o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. Há, no documento elaborado ainda no ano passado, inclusive a possibilidade de ampliação das privatizações no país.
Ainda que venha dando garantia da manutenção dos programas sociais, criticados por muitos, mas essencial para boa parcela da população brasileira, essa nova política econômica terá certamente outro viés. O que é preciso, nesse caso, é transformar os repasses meramente assistencialistas a programas que permitam o crescimento profissional e social das famílias, levando-as a uma situação de independência de programas governamentais. Será Michel Temer o político que, enfim, tomará essa medida? Apesar do reconhecimento de que muitos brasileiros dependem do dinheiro da Bolsa Família para a sobrevivência, o certo é que dê a vara e se ensine a pescar. O documento coordenado pelo mineiro Roberto Brant não contém esse avanço na formulação das políticas sociais, mas tendo influência da social-democracia do PSDB – partido que deve liberar membros para comporem o governo no caso da aprovação do impeachment de Dilma Rousseff – poderá fazer a proposição.
O fato de ter antecipado um programa de governo mostra que Michel Temer não só acredita no fim do governo do PT, como está disposto a levar o país para um outro rumo. No entanto, não só de boas ideias se faz uma gestão. Claro que, se conseguir assumir o cargo de presidente, o peemedebista terá apoio político suficiente, mas enfrentará um país disposto a cobrar do governo medidas imediatas de reversão da crise econômica. E elas serão mais complexas se os sindicalistas ligados ao PT conseguirem greves, como ameaçam.

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