sábado, 29 de outubro de 2016

Polícia brasileira mata 54 em 6 dias, e a britânica, 55 em 25 anos

VIOLÊNCIA

Segundo 10º Anuário de Segurança Pública, intervenções policiais matam nove por dia no país

PUBLICADO EM 29/10/16 - 03h00 - O Tempo
Madri, Espanha. Diariamente, ao menos nove pessoas morrem em decorrência de intervenções policiais no Brasil. Os dados foram divulgados pelo 10º Anuário de Segurança Pública, elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (ONG que reúne especialistas do setor) com base em dados de 2015. Comparando-se com Inglaterra e País de Gales, onde um levantamento do jornal “The Guardian” mostrou que 55 disparos fatais foram feitos pelas forças de segurança locais entre 1990 e 2014, a polícia brasileira precisa de seis dias para igualar a marca atingida em 25 anos nos dois países britânicos – que têm 56 milhões de habitantes.

O relatório também mostra que, no Brasil, ao menos um policial é morto a cada dia, durante o expediente ou fora dele. Os dados evidenciam que, ao combater violência com violência, o Estado brasileiro tem colaborado com o aumento dos índices já recorde de homicídios.

Isso porque, entre 2014 e 2015, apesar de ter havido uma pequena queda de 1,2% (de 59.086 para 58.383) no total de mortes violentas no país – considerada sinal de estabilização do indicativo –, as vítimas da violência policial cresceram 6,3%, para 3.345. Já o número de policiais mortos diminuiu 3,9%: 393 em 2015.

“Falta hoje uma política de Estado que combata a violência”, aponta a socióloga Samira Bueno, diretora executiva do fórum. “Os Estados precisam fazer o controle de armas, e as polícias Militar e Civil devem ter um sistema de metas de redução de homicídios compartilhado”, acrescenta ela.

Segundo a pesquisadora Tânia Pinc, major da reserva da Polícia Militar de São Paulo, “os discursos do Executivo e do Judiciário estimulam ações letais abusivas porque sugerem que o que se espera do policial é que mate o criminoso”. “É uma covardia, porque quem assume essa morte depois é o soldado e sua família, e não essas instituições”, afirma Tânia.

Essa prática tem respaldo social. Segundo o relatório, 50% dos residentes nas grandes cidades brasileiras concordam que “bandido bom é bandido morto”.
Para o deputado estadual Álvaro Camilo (PSD), ex-comandante da PM paulista, no entanto, a explicação é outra. “O aumento de sensação de impunidade levou os infratores a serem mais audazes, o que aumenta o confronto com a polícia, logo, a letalidade”, diz.

Policiais mortos. O anuário também indica que os policiais morrem três vezes mais em folga do que em serviço. De acordo com especialistas, um dos motivos são os chamados “bicos”.

“É um tabu falar daquilo que o policial está fazendo fora do serviço e qual é a responsabilidade do Estado nisso”, sugere Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do fórum, em referência aos “bicos”, exercidos por policiais na segurança privada.

“Por terem salários inadequados, os policiais se lançam nessa atividade, diferente do seu ofício regular, quando raramente são surpreendidos ou emboscados”, explica o consultor José Vicente da Silva, coronel reformado da PM.
Dados. De acordo com os dados do 10º Anuário de Segurança Pública, Mato Grosso foi, em 2015, o Estado com menos mortes provocadas por policiais (0,2/100 mil). Já Santa Catarina foi onde menos houve mortes de policiais (0,1/mil).


PM ABORDOU

Corregedoria apura sumiço de cinco jovens

São Paulo. A Corregedoria da Polícia Militar vai investigar o desaparecimento de Jonathan Moreira Ferreira, 18, Caique Henrique Machado, 18, César Augusto Gomes da Silva, 19, e um adolescente de 16 anos. No último dia 21, eles saíram do Parque São Rafael (zona leste), onde moram, para ir a uma festa, em Ribeirão Pires (Grande SP).

Jonathan mandou um áudio a uma amiga dizendo que o carro havia sido parado pela PM. O automóvel que teria sido usado pelo grupo foi achado por parentes no Rodoanel. Porém, a polícia diz que eles não estavam nesse carro pois a última vez que o veículo passou pelo local foi no dia 10.

Segundo o portal G1, parentes e amigos dos desaparecidos suspeitam que os policiais agiram como represália pelos assassinatos de um policial e de um guarda-civil, em setembro.

Nessa sexta-feira (28), os familiares fizeram um protesto pedindo respostas da polícia. No ato, um grupo jogou pedras em direção à polícia, mas não houve confusão.

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