quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Número de helicópteros quase dobra no estado

Theo Rolfs, comandante e diretor regional da Associação Brasileira de Pilotos de Helicóptero (Abraphe)  (MARCOS MICHELIN/EM/D.A PRESS)Congestionamento vai aos céus »  em 10 anos Pilotos pedem a criação de rotas especiais para voos sobre Belo Horizonte

Flávia Ayer -Estado de Minas
Publicação: 06/09/2012 06:00 Atualização: 06/09/2012 07:14
Se motoristas sentem em terra os efeitos de uma frota duas vezes maior em relação à última década, nos ares de Minas Gerais, pilotos, num movimento semelhante,  voam em direção ao congestionamento. O aumento de quase 100% no número de helicópteros no estado, no mesmo período, levou a Associação Brasileira de Pilotos de Helicóptero (Abraphe) a cobrar a criação de rotas especiais para esse tipo de aeronave no espaço aéreo de Belo Horizonte. A exemplo de São Paulo e Rio de Janeiro, a proposta é usar avenidas e rodovias da capital mineira, terceiro mercado aeronáutico do país, como referência para os corredores nas alturas, organizando o tráfego e tornando as viagens mais seguras.
Com base em sugestões de pilotos e operadores experientes, a diretoria da Abraphe em Minas pretende concluir até o fim do ano estudos para traçar as rotas em BH e enviá-los à Força Aérea Brasileira (FAB). As avenidas Nossa Senhora do Carmo, Antônio Carlos, dos Andradas, Cristiano Machado (Linha Verde), Contorno, Raja Gabaglia e a BR-381 (Fernão Dias) estão entre as rotas pesquisadas. A reivindicação traz como pano de fundo um salto de 106 helicópteros registrados em Minas em 2002 para 204 este ano, de acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) – no Brasil, o número dessas aeronaves subiu de 940 naquele ano para 1.814 em 2012. O crescimento aquece um setor que movimenta R$ 50 milhões ao ano apenas no estado e exige adoção de medidas para pôr ordem no céu.



Theo Rolfs, comandante e diretor regional da Associação Brasileira de Pilotos de Helicóptero (Abraphe)
A Abraphe, que prevê aumento de 30% ao ano no mercado de compra de helicópteros, calcula média de 50 decolagens e pousos por dia na capital mineira, cuja frota é estimada em 56 aeronaves. Atualmente, elas usam os mesmos trajetos de aviões de grande porte, além de se reportar ao controle de tráfego aéreo de voos comerciais. De acordo com o diretor regional da Abraphe em Minas, comandante Theo Rohlfs, esse procedimento congestiona o espaço aéreo desnecessariamente. “Os corredores permitiriam que helicópteros voassem separadamente, num caminho e altura máxima definidos previamente, sem ocupar a frequência dos aviões. A coordenação seria feita apenas entre os helicópteros”, afirma.
O céu seria fatiado conforme a altura, sendo que o espaço mais próximo à superfície seria destinado aos helicópteros, que, com aviões de pequeno porte, poderiam trafegar também numa área intermediária. O trecho de maior altitude seria exclusivo para aviões de grande porte. Outro ganho das rotas especiais é em relação à segurança. “A definição de rotas evita que pilotos passem em cima de bairros e priorizem trajetos onde há grandes canteiros, lotes ou áreas que podem servir de área de pouso, em caso de emergência”, ressalta Theo, que afirma que, diante de trânsito caótico e numa realidade em que tempo é dinheiro, o uso de helicópteros caiu no gosto de empresários, médicos e políticos.
Rapidez Empresário do ramo de loteamentos e imobiliária, Maurício Las Casas, de 61 anos, conta com entusiasmo que depois que comprou seu primeiro helicóptero, há dois anos e meio, Betim ficou a sete minutos de seu escritório, na Avenida Raja Gabaglia. Com empreendimentos no interior de Minas, Maurício encontrou na aeronave a praticidade de que precisava. “Com esse trânsito horrível, o helicóptero facilita muito a vida. Meu filho até tirou o brevê para pilotar”, conta Las Casas, que está namorando seu novo Robinson 66, comprado há quatro meses nos Estados Unidos e que fica num hangar em Nova Lima.
Por se tratar de um modelo econômico, o R66 caiu nas graças do mercado e, segundo Las Casas, hoje há fila de mais de 130 brasileiros à espera para comprar a aeronave, no valor de US$ 1,1 milhão. “O custo operacional fica em torno de R$ 15 mil por mês, mas como cabem quatro passageiros, além do piloto, acaba compensando. Uso o helicóptero para trabalhar e passear no fim de semana. Às vezes vamos almoçar no Inhotim ou passar o dia em Escarpas do Lago e voltamos para BH ao pôr do sol”, conta. O empresário se queixa apenas da falta de helipontos, mas isso ele está resolvendo. No projeto da nova sede da empresa já está previsto espaço para pouso e decolagem, além de um hangar.
Falta de estrutura em terra prejudicaA estrutura em terra não conseguiu acompanhar o crescimento do uso de helicópteros nos céus de Belo Horizonte, terceiro maior mercado de aeronaves no país. A reclamação é de especialistas do ramo, que reclamam da falta de helipontos e até mesmo de vagas nos hangares. A deficiência tem despertado a atenção de construtoras que começam a estudar a implantação de garagens para helicópteros e pontos de pouso e decolagem em projetos imobiliários de alto padrão. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) informa que há atualmente em operação 125 aeródromos em Minas, a maioria situada em fazendas.
Na prática, segundo pilotos, os helipontos na Grande BH não passam de seis, pois muitos têm uso exclusivo do estado – a exemplo da Cidade Administrativa – e de hospitais. “Infelizmente, BH é uma cidade grande e não está preparada para a aviação. Quem compra um helicóptero hoje não tem lugar para guardar. O conforto do helicóptero é porque ele pode ir da casa do VIP para o serviço, mas isso não ocorre em BH. Ninguém compra uma aeronave dessa para pousar num aeroporto”, afirma Kerlington Pimentel, dono de uma escola de aviação, que estima que 20 novos pilotos sáo formados por mês em BH.
O piloto defende a adoção de rotas especiais para helicópteros no espaço aéreo da capital. “A hora de voo é R$ 5 mil e, às vezes, ficamos vários minutos esperando orientações dos controladores de voo. Isso atrapalha o crescimento da aviação”, ressalta. Dono do primeiro helicentro da Grande BH, Enrico Benedetti também identifica a necessidade das rotas exclusivas, diante do aumento do tráfego. “Helicópteros passarem pela mesma rota de aviões tira a praticidade do helicóptero. Os trajetos exclusivos ordenam o fluxo e dão mais segurança aos voos”, afirma.
De olho nesse mercado em expansão e com pouca estrutura, a Associação Brasileira de Pilotos de Helicóptero (Abraphe) afirma que está em contato com construtoras para que helipontos passem a fazer parte dos projetos. A RKM Engenharia, especializada em imóveis de alto luxo, identificou essa demanda e começou a pesquisar a implantação de pistas de pouso e decolagem, além de garagens para as aeronaves, nos próximos empreendimentos. O Departamento de Controle do Tráfego Aéreo (Decea), ligado à Força Aérea Brasileira (FAB), não informou se estuda a implantação de medidas para organizar o fluxo de helicópteros na capital.

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