16/10/2015
às 3:29Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/
Luiz
Inácio Lula da Silva desembarcou em Brasília para, vamos dizer, botar
ordem no PT — a ordem lulista, naturalmente. Ninguém como este senhor
entende com precisão a ética do troca-troca político, do “faz pra mim
que faço pra você”, do toma-lá-dá-cá. Lula é professor onde qualquer
outro é amador. E não é de hoje. Desde os tempos em que era sindicalista
e negociava uma coisa com os empresários e outra com os trabalhadores —
para prevalecer depois o que tinha combinado com os patrões —, ele não
tem limites. Sua ética têm franjas a perder de vista. Isso lhe vale a
fama de gênio político. Não! Ele não é gênio. É só um homem sem
princípios.
Lula se
encontrou com 12 deputados graduados do PT nesta quinta. Deu a
orientação: o objetivo número um é barrar o impeachment, e, pois, a
ordem é manter, e não depor, Eduardo Cunha. Ele demonstrou clara
insatisfação com os 34 deputados petistas (inicialmente, 32; depois,
outros dois se juntaram), de um total de 62, que resolveram endossar a
denúncia contra Cunha enviada ao Conselho de Ética. Lula não quer saber
dessa conversa. Ele tem um objetivo estratégico: impedir que o
presidente da Câmara aceite a denúncia contra Dilma. E, em nome disso,
tudo é permitido.
Lula deixa
pruridos morais para a oposição. Ele sabe que, ainda que Cunha se livre
de um processo de cassação na Câmara, a sua situação no STF será muito
difícil caso se comprovem as acusações de que mantém contas na Suíça. Os
petistas não precisam aparecer derrubando Cunha — os ministros do
Supremo, um dia, poderão fazê-lo. Então, por quê?
O
ex-presidente certamente sabe que a tendência é que o STF mantenha a
liminar que proíbe a oposição de recorrer ao plenário da Câmara para que
se instale a comissão especial que vai avaliar a denúncia contra Dilma.
Tudo, assim, depende de Cunha. Então por que brigar com o deputado?
Isso, pondera o chefão petista, é para a oposição…
Lula não leu
o livro, porque não lê nada, “Moral e Revolução”, de Trotsky, mas ele o
conhece na prática. Desenvolveu aquela deformação na luta política.
Tivesse recebido a lição literal, o Apedeuta diria, como Trotsky, que
não existem normas morais universalmente válidas. Ou, para ser literal,
conforme ensina o revolucionário socialista: “Em todas as circunstâncias
importantes, os homens têm um senso muito mais imediato e profundo de
seu pertencer a uma classe do que de seu pertencer à sociedade. As
normas morais obrigatórias para todos adquirem, dentro da realidade, um
conteúdo de classe”.
Lula não
pensa exatamente em termos de classe porque ele nem sabe direito o que é
isso. Pensa no PT. Assim, ele tem claro que as normas morais que
empurraram os oposicionistas para se manifestar contra Cunha, para
cobrar que se afaste da presidência da Câmara, não devem valer para o
PT. Para Trostky, evocar uma norma moral abstrata era só uma das
tramoias a que recorria a burguesa para garantir seus privilégios na
luta de classes. O Babalorixá de Banânia pensa a mesma coisa em relação a
seu partido: não existe um Cunha bom nem um Cunha mau; existe o que
interessa e o que não interessa ao PT.
Para Lula, é
fácil evocar esse amoralismo porque sabe que a moral de seus
adversários é outra. É um clássico do esquerdismo contar com os pruridos
dos adversários e inimigos para, então, não ter prurido nenhum.
Lula, em
suma, se esforça para que os petistas possam oferecer a Cunha aquilo que
as oposições, constrangidas, já não podem fazê-lo, vendo-se, inclusive,
compelidas — em nome do tal “moralismo abstrato” — a dar declarações
contra Cunha. Não ele! O chefão petista mediu a realidade e viu que,
tudo o mais constante, com a colaboração de ministros do STF, o
impeachment, para prosperar, depende de um ato inaugural. E esse ato
inaugural é de Cunha, que tem de aceitar a denúncia. Sem isso, nada
feito!
O chefão
petista, em suma, desembarcou em Brasília para lembrar que a vantagem do
PT está em não ter limites. E é isso que distingue a sua moral da
alheia.
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