Em 2015 foram convocadas quatro grandes manifestações: 15 de março, 12
de abril, 16 de agosto e 13 de dezembro. Em todas a estratégia de
convocação foi a mesma: mobilização via WhatsApp, anúncios pagos e
criação de eventos no Facebook. Também com cobertura da imprensa
nacional, publicando os locais e horários dos eventos, e uma ampla
cobertura ao vivo durante a programação das principais emissoras do
país.
As pautas dos movimentos foram as mesmas, mas a adesão foi diminuindo a
cada ato. As principais bandeiras dos quatro atos foram: “Fora Dilma”,
“Fora PT”, contra a corrupção e a favor do impeachment. Contudo, se o
primeiro ato, em março, reuniu, segundo estimativas, cerca de dois
milhões de pessoas, o número foi decaindo a cada novo protesto.
Em abril, as estimativas são de cerca de 700 mil pessoas, quase um
terço do evento anterior. Em agosto, o número foi perto do de abril, e,
no evento de dezembro, houve uma significativa queda no número de
participantes. O protesto contou com a participação de cerca de 100 mil
pessoas em todo o país.
Se por um lado as manifestações alcançaram seus objetivos de colocar em
xeque a competência da presidente Dilma, de questionar a legitimidade
do pleito e também de deflagrar o processo de impeachment, o que
explicaria a queda gradativa na participação popular se os temas e as
formas de mobilização foram os mesmos?
O primeiro fator que deve ser destacado é a fragilidade de nossas
elites políticas. No início dos protestos tinha-se a ideia que a
corrupção estava arraigada em apenas um partido e que bastava o seu
afastamento do poder para que os problemas relacionados a este mal
universal fossem solucionados.
Porém, com a extensão das ações da operação Lava Jato, uma ampla gama
de políticos e representantes de vários partidos foi envolvida em
processos de desvio de dinheiro público.
O segundo fator se relaciona com o primeiro. Como um cidadão de bem,
incomodado com o noticiário sobre a corrupção divulgado nos canais de
comunicação, se sente ao apoiar um processo de impeachment deflagrado
por um ator com problemas gravíssimos no âmbito da Justiça brasileira e
que tem feito manobras regimentais constantes para procrastinar seu
julgamento?
Sem dúvida, a presença de Eduardo Cunha na presidência da Câmara abala a
legitimidade de toda a classe política e de qualquer movimento
encabeçado por ela, independentemente de a causa ser justa ou não.
Além de tudo, o comportamento de nossa elite política, muito mais
preocupada com disputas internas de poder, benesses e cargos, faz com
que a pauta das manifestações não atenda mais o que pensa uma parcela
grande da população brasileira.
Mais do que serem contra ou a favor de um partido ou outro, o que é
cada vez mais latente na sociedade é o sentimento de que nossos
representantes não nos representam. Este é o recado que foi dado em
junho de 2013 e que, passados 18 meses, ainda não foi ouvido pelas
elites políticas.
*Doutor em Ciência Política, professor da PUC Minas e diretor do Instituto Ver
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