quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Campeão de honestidade

Sylo Costa


PUBLICADO EM 27/01/16 - 03h00 
Neste verão chuvoso, de tempo ameno durante o dia e frio à noite, o ambiente fica propício a voos de tanajuras e aparecimento de bichos estranhos, como gongolos e besouros de chifres, principalmente quando chega o estio do veranico.

É fácil notar também a influência desse tempo na vida das pessoas. E depois do Carnaval, que este ano acontece mais cedo, vem a Quaresma, tempo de lobisomem e de mula sem cabeça. Mas já se pode notar o aparecimento de homens descabeçados e de mentirosos de ocasião, além de políticos desmiolados e mistificadores, que se julgam, descaradamente, enviados de forças do além ou mais virtuosos e honestos que qualquer um dos seus semelhantes.

Libório, aquele alfaiate lá do distrito da Cachoeira que tem mania de ser candidato a vice qualquer coisa, apareceu empoeirado das terras vermelhas da sua região, que beiradeia a serra do Anastácio, e, alegre e despachado como sempre, e como qualquer baianeiro, foi logo dizendo: “Ei, Dota, vim aqui ajudar meu cumpadre, que tá com um probrema difice de resorvê. A filha mais nova dele, teimosa que só égua de chapada, ficô embuchada e diz que é virge e que nunca andou se metendo com home nenhum. Mentira dela, já que seu namorado aparece sempre nas época de festa, como Carnaval e São João. Mas ela jura de pé junto qui nunca ‘comé qui chamô’ com ninguém. E nós veio acompanhando ela e seus pai, que, além de amigos, nós é cumpadre de fé e de pulá fogueira. Deixei eles cuns médico e o subdelegado de lá do povoado e vim aqui tomá a bênça e tomem sabê do amigo o que é um tal de ‘hime cumpracente’ q’ueles fala qui é mais ô menos embuchada. É que um médico baiano lá da Conquista disse que ela é virge mesmo, mais tá embuchada, e isso num é nem pode sê milagre... Será que isso pode se assucedê?” Ô Liba, esse problema é incomum, mas existe. O que não é possível é ela engravidar sem “comé qui chamá”. Se ela tem hímen complacente está explicada a gravidez sendo ela virgem. “Ô lá-lá! Entonce nem é mais ô menos?” Claro que não, uai... Com um abraço, lá se foi o Libório contar ao compadre nossa conversa. “Deve que” deu certo...

Na semana passada, num arroubo de consciência e ignorância ao mesmo tempo, o ex-Luiz, do alto de sua prosopopeia, declarou: “Não tem uma viva alma mais honesta do que eu”. Pensei nas palavras do Cristo crucificado, pedindo a Deus que relevasse a ignorância daqueles que O crucificaram: “Pai, perdoai-os, eles não sabem o que fazem”...

Ex-Luiz, preste atenção: honestidade é virtude que se constata exclusivamente pela formação moral do homem e que, assim como gravidez, não existe “mais ou menos”. Se você me entende, não existe honestidade complacente como o hímen da filha do compadre do Libório. E como as virtudes não podem ser medidas, o homem é ou não é honesto. No seu caso, que é duvidoso, você vai ter que provar, e aí é que está o bedelis...

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