segunda-feira, 18 de abril de 2016

Começa a contagem regressiva pela manutenção ou queda da presidente

Janaína Oliveira
joliveira@hojeemdia.com.br
18/04/2016 - 06h00 - Atualizado 07h10
Deputados contrários ao governo comemoram vitória durante votação que ficará na história. Vários parlamentares deixaram Câmara e foram ao encontro do vice-presidente
Deputados contrários ao governo comemoram vitória durante votação que ficará na história. Vários parlamentares deixaram Câmara e foram ao encontro do vice-presidente
Vinte e quatro anos após o impeachment do ex-presidente Fernando Collor, o Brasil volta a assistir a aprovação pela Câmara dos Deputados da abertura do processo de impedimento contra a chefe da República. Agora, começa a contagem regressiva até a votação no Senado, casa Legislativa em que, hoje, o governo não tem maioria, conforme cálculos da oposição.
Em uma sessão tumultuada, repleta de troca de farpas e acusações entre apoiadores do governo e integrantes da oposição, a vitória do “sim” pela saída de Dilma Rousseff foi de 367 votos a 146 na Câmara. Foram sete abstenções e duas ausências.
A estratégia do Palácio do Planalto e do ex-presidente Lula, que montou um “QG” em um hotel em Brasília para tentar salvar o mandato de Dilma, convencer indecisos e esvaziar o plenário, não surtiu efeito. Mais feliz foi o vice-presidente Michel Temer (PMDB), que recebeu mais de cem aliados no Palácio do Jaburu na véspera do Dia D, e vê a Presidência cada vez mais perto.
Chamados nominalmente pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), os deputados tinham, pelas regras, 10 segundos para proferir o voto. Mas a maioria extrapolou o tempo.
A chamada foi feita por Estado, começando por Roraima, na Região Norte, seguida por Rio Grande do Sul, no outro extremo do país, e assim sucessivamente.
Não foram poucos os dissidentes. Na avaliação de líderes do governo, políticos do PP, PR e PMDB não cumpriram a palavra e se posicionaram contra a presidente, provocando um “efeito manada”.
Ex-ministro do Transporte do governo Lula e Dilma, Alfredo Nascimento usou o microfone para dizer que renunciava ao cargo de líder do PR para votar pela saída de Dilma. A legenda havia orientado pelo voto contra o impeachment. Deputada pelo PDT de Goiás, Flávia Morais também contrariou orientação, ignorou a ameaça de expulsão e disse sim ao impedimento.
Em Minas, Estado onde Dilma nasceu, a presidente sofreu uma derrota por 41 a 12. Até dias atrás ministro da Aviação, o deputado Mauro Lopes (PMDB) afirmou que guarda gratidão pelo cargo que ocupou. Em lealdade ao partido, entretanto, optou pelo voto ao impeachment.
Irônicos, vários deputados disseram “tchau, querida” após a declaração ao voto, numa analogia à frase de Lula em grampo telefônico com Dilma, flagrado pela PF, em conversa sobre a nomeação do ex-presidente para o Ministério da Casa Civil.
Antes de votar pela saída de Dilma, Eduardo Cunha pediu a Deus que “tenha misericórdia da nação”. Envolvido nas fraudes da Petrobras, </CW>ele ouviu gritos de “Fora, Cunha”. Quase nenhum parlamentar citou as pedaladas fiscais.
Temer já conversa com aliados
Passado o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) na Câmara, uma das primeiras medidas do vice-presidente Michel Temer deve ser a divulgação da sequência do documento “Uma Ponte para o Futuro”, reafirmando a preservação dos programas sociais. Com ele, será feito um gesto de aproximação com aqueles que hoje apoiam a presidente Dilma Rousseff, segundo informou um interlocutor.
O documento, elaborado por uma equipe de 18 pessoas, faz parte de um trabalho de construção de um amplo arco de apoio político.
Com isso, a expectativa é retomar a governabilidade e ampliar a margem, hoje estreita, para fazer reformas na economia.
No entorno do vice-presidente, segundo interlocutores, a discussão é justamente sobre como dosar medidas impopulares, como cortes nos gastos, com sinalizações para uma população agastada pelas crises na economia e na política. Os dois, aparentemente contraditórios, são urgentes.
Tudo ainda será pesado politicamente, mas a tendência é que não seja colocada na rua, logo no início, uma proposta de reforma da Previdência, por exemplo.

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