terça-feira, 12 de abril de 2016

Planalto teme apuração de obras

Crise

Com a delação da Andrade, assessores avaliam que projetos da gestão de Dilma podem ser alvo da Lava Jato

BELO MONTE/USINA HIDRELETRICA
Delação. Recursos para campanha teriam vindo de obras do governo Dilma, como a usina de Belo Monte
PUBLICADO EM 12/04/16 - 03h00- O Tempo
BRASÍLIA. Após a homologação da delação dos executivos da construtora Andrade Gutierrez, assessores presidenciais passaram a avaliar que, pela primeira vez, projetos do governo Dilma Rousseff podem entrar no alvo da operação Lava Jato.
A possibilidade mudou o humor da petista e deixou sua equipe apreensiva, pelo fato de a divulgação da delação premiada do ex­presidente da construtora Otávio de Azevedo ter ocorrido quando o governo sentia que começava a virar o jogo do impeachment.
Em depoimentos aos procuradores, os executivos da Andrade não só citaram que parte das doações legais para a campanha presidencial de 2014 teve origem em propinas, como revelaram que esses recursos vieram de obras tocadas no governo Dilma, como a usina de Belo Monte.
Os delatores citaram o ex­ministro Edison Lobão (Minas e Energia) e o ex-diretor da Eletrobras Valter Cardeal. Eles trabalharam com a presidente no primeiro mandato e teriam participado das negociações da propina, que teria rendido R$ 150 milhões a PT e PMDB. Ambos os citados negam as acusações.
Mistura. Irritada com a delação, a petista repetiu a assessores que, se houve algum esquema de propina com doações legais, não foi montado por sua equipe de campanha, sugerindo que caberia ao PT explicar irregularidades nessa área.
Os assessores da presidente destacam que Dilma não quis misturar as contas de sua campanha com as do PT. Por isso, escalou o hoje ministro Edinho Silva (Comunicação Social) para comandar suas finanças na eleição, deixando claro que não queria interferência do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto.
O diálogo sobre doações entre o ex­presidente da Andrade, Edinho e Giles Azevedo, assessor especial de Dilma, é citado como exemplo. Nele, ao ser feita a cobrança para que doasse para ela, o executivo diz que já havia feito contribuições ao PT, por meio de Vaccari.
Nessa conversa, que teria ocorrido na eleição de 2014, Edinho e Giles informam a Azevedo que uma coisa era doar para o PT e outra, para a campanha. Ficou acertado, então, que o executivo faria doação extra de R$ 20 milhões para Dilma. Desse total, R$ 10 milhões foram doados de uma só vez, e o restante, parcelado.
Em conversas com auxiliares, Dilma demonstrou incômodo pelo fato de o depoimento não especificar se os recursos foram doados ao partido ou a sua campanha.
Por isso, ela tem repetido que em nenhum momento foi dito a sua equipe que os R$ 20 milhões doados para sua campanha teriam vindo de um esquema de propina e que não cabia a ela explicar isso, mas ao tesoureiro do PT.
A ausência de informação sobre o conteúdo completo da delação é a principal preocupação do Planalto. Nas palavras de um auxiliar presidencial, a delação premiada criou “um cenário imprevisível”, fragilizando o clima que começava a ficar mais favorável para o Planalto.
Pré-candidatos
Prefeituras. Os deputados que pretendem disputar as eleições municipais neste ano fazem parte do grupo que vem sofrendo maior cobrança por posicionamento sobre o impeachment.
Orientação

O PSB vai orientar voto a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff, mas não vai fechar questão sobre o assunto, o que, na prática, significa que vai liberar seus parlamentares para votarem como quiserem. “A orientação para bancada é votar pelo impeachment. Porém, os votos contrários que possam ter não terão sanção”, afirmou o líder do
PSB na Câmara, deputado Fernando Bezerra Filho (PE).

O Partido Progressista (PP) começa a desembarcar do governo com mais força. Os diretórios em Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Distrito Federal, Goiás, Espírito Santo e Acre decidiram apoiar o impeachment. A decisão dos diretórios regionais se estende tanto à Câmara dos Deputados quanto ao Senado Federal.

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