Há milhares de anos, elas passaram a ajudar
na criação dos netos. Isso liberou as filhas para reproduzirem mais
vezes, garantindo a supremacia do homem no planeta
Estado de Minas
Publicação: 31/10/2012 09:11 Atualização: 31/10/2012 10:40
Estado de Minas
Publicação: 31/10/2012 09:11 Atualização: 31/10/2012 10:40
Maria Irma (em pé, no centro), ao lado da filha e do marido: fundamental na criação dos netos, Marcela e Danilo |
Casa
de vó é lugar de comida boa e recanto de carinho, muito carinho. A
ideia é praticamente um consenso para a maioria das pessoas. Entretanto,
o que pouca gente sabe é que os cuidados e a atenção das matriarcas
pode ter sido muito mais importante do que se imagina. Pesquisadores da
Universidade de Utah, nos Estados Unidos, criaram modelos matemáticos na
tentativa de comprovar a “hipótese da avó”, uma teoria existente desde
1997, que defende que a presença das avós nas famílias proporcionou uma
situação favorável para que os seres humanos vivessem mais tempo do que
os demais primatas.
“A função social da avó foi o primeiro passo para que nos tornássemos o que somos hoje”, defende a antropóloga Kristen Hawkes, uma das cientistas que propôs a tese há 15 anos. Em novo estudo publicado nesta semana na revista científica britânica Proceedings of the Royal Society B, Hawkes volta com embasamento numérico para fortalecer a teoria. De acordo com ela, as simulações indicaram que, ao adicionar os cuidados das avós, foram necessários apenas 60 mil anos para que os animais com a expectativa de vida de um chimpanzé conseguissem chegar ao tempo de vida humano atual. Isso, em uma escala evolutiva, é uma mudança extremamente rápida. Para se ter uma ideia da diferença, enquanto fêmeas de chimpanzés sobrevivem mais 15 ou 16 anos após o período fértil (que acontece aos 13), as mulheres em nações desenvolvidas podem viver mais 60 anos após essa etapa, iniciada em torno dos 19.
De acordo com a teoria proposta por Hawkes, historicamente o aumento na expectativa de vida foi possível porque as matriarcas, a partir de um determinado ponto ainda impreciso, começaram a ajudar a alimentar os netos após o desmame. Isso aliviou as mães, que puderam, então, interromper o aleitamento mais cedo e terem mais filhos em intervalos menores. “Esse é um trabalho superbacana, porque faz muito sentido.
Quando os nossos ancestrais ainda viviam na floresta, após o desmame, os bebês encontravam opções de alimento por contra própria, por exemplo. Quando a floresta começa a ficar mais escassa, eles migram para ambientes abertos, onde é mais difícil encontrar alimento”, explica Rosana Tidon, professora do Departamento de Genética e Morfologia da Universidade de Brasília (UnB). Tidon ressalta que as mães passaram, então, a gastar mais tempo e esforço para alimentar sua prole. Foi nesse momento que as avós surgiram como solução. “Elas estavam por perto, às vezes já tinham passado da idade reprodutiva e começaram a alimentar os netos. Nisso, elas liberaram suas filhas para terem mais filhos.”
Além disso, as fêmeas ancestrais que viraram avós conseguiram passar adiante o patrimônio genético da longevidade para as gerações posteriores, o que contribuiu para que a expectativa de vida da espécie aumentasse. “As duas ganham com isso. A mãe porque fica liberada para outras atividades e a avó porque, ao aumentar a capacidade de vida dos netos, acaba aumentando a sua própria aptidão de repassar as características da longevidade aos descendentes. Nesse sentido, quanto mais netos, melhor será o custo benefício”, pontua Francisco Mendes, professor do departamento de Processos Psicológicos Básicos do Instituto de Psicologia da UnB.
Apesar
de considerar a “hipótese da avó” interessante, a pesquisadora Rosana
Tidon Franco ressalta que existem outras teorias para explicar a
evolução dos humanos e da longevidade. “Não podemos dizer no momento que
a hipótese aqui apresentada é mais importante do que as outras. E essa é
a natureza da ciência: não apresentar verdades absolutas, mas, em vez
disso, as hipóteses mais prováveis para explicar um determinado conjunto
de fatos ou fenômenos”, diz.Dentre o arcabouço científico para
tentar entender o que diferencia o Homo sapiens sapiens dos outros
primatas, muitos antropólogos defendem o papel do tamanho do cérebro no
aumento da expectativa de vida dos seres humanos. A explicação mais
cartesiana e pragmática, entretanto, recebe os contra-argumentos de
Hawkes, que apela para a questão afetiva e social. “Ter uma avó por
perto nos deu um tipo de educação que nos tornou mais dependentes
socialmente e propensos a dedicar atenção ao outro”, defende.
“A função social da avó foi o primeiro passo para que nos tornássemos o que somos hoje”, defende a antropóloga Kristen Hawkes, uma das cientistas que propôs a tese há 15 anos. Em novo estudo publicado nesta semana na revista científica britânica Proceedings of the Royal Society B, Hawkes volta com embasamento numérico para fortalecer a teoria. De acordo com ela, as simulações indicaram que, ao adicionar os cuidados das avós, foram necessários apenas 60 mil anos para que os animais com a expectativa de vida de um chimpanzé conseguissem chegar ao tempo de vida humano atual. Isso, em uma escala evolutiva, é uma mudança extremamente rápida. Para se ter uma ideia da diferença, enquanto fêmeas de chimpanzés sobrevivem mais 15 ou 16 anos após o período fértil (que acontece aos 13), as mulheres em nações desenvolvidas podem viver mais 60 anos após essa etapa, iniciada em torno dos 19.
De acordo com a teoria proposta por Hawkes, historicamente o aumento na expectativa de vida foi possível porque as matriarcas, a partir de um determinado ponto ainda impreciso, começaram a ajudar a alimentar os netos após o desmame. Isso aliviou as mães, que puderam, então, interromper o aleitamento mais cedo e terem mais filhos em intervalos menores. “Esse é um trabalho superbacana, porque faz muito sentido.
Quando os nossos ancestrais ainda viviam na floresta, após o desmame, os bebês encontravam opções de alimento por contra própria, por exemplo. Quando a floresta começa a ficar mais escassa, eles migram para ambientes abertos, onde é mais difícil encontrar alimento”, explica Rosana Tidon, professora do Departamento de Genética e Morfologia da Universidade de Brasília (UnB). Tidon ressalta que as mães passaram, então, a gastar mais tempo e esforço para alimentar sua prole. Foi nesse momento que as avós surgiram como solução. “Elas estavam por perto, às vezes já tinham passado da idade reprodutiva e começaram a alimentar os netos. Nisso, elas liberaram suas filhas para terem mais filhos.”
Além disso, as fêmeas ancestrais que viraram avós conseguiram passar adiante o patrimônio genético da longevidade para as gerações posteriores, o que contribuiu para que a expectativa de vida da espécie aumentasse. “As duas ganham com isso. A mãe porque fica liberada para outras atividades e a avó porque, ao aumentar a capacidade de vida dos netos, acaba aumentando a sua própria aptidão de repassar as características da longevidade aos descendentes. Nesse sentido, quanto mais netos, melhor será o custo benefício”, pontua Francisco Mendes, professor do departamento de Processos Psicológicos Básicos do Instituto de Psicologia da UnB.